O Chile convocou o embaixador brasileiro em Santiago, Paulo Soares Pacheco, para apresentar uma nota formal de protesto sobre as acusações do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o mandatário chileno Gabriel Boric. As informações são do jornal La Tercera.
No debate entre os candidatos à presidência da República realizado netes domingo (28) pela TV Bandeirantes, Bolsonaro afirmou que Boric colocou fogo no metrô de Santiago nas manifestações ocorridas no Chile em 2019. "Quem o ex-presidiário [Lula] apoiou? Maduro na Venezuela. Você vê para onde está indo a autonomia da nossa Argentina? Lula apoiou o presidente do Chile, que praticou atos de incendiar o Metrô."
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"Como governo achamos que essas declarações são muito graves, obviamente são absolutamente falsas. Lamentamos que em um contexto eleitoral aproveitemos e polarizemos as relações bilaterais por meio da desinformação e notícias falsas", disse Antonia Urrejola, ministra de Relações Exteriores do Chile.
"Convocamos o embaixador brasileiro em nome do secretário-geral de política externa e lhe enviaremos uma nota de protesto. A desinformação e as notícias falsas corroem a democracia, mas também neste caso corroem a relação bilateral. Estamos absolutamente convencidos de que esta não é a forma de fazer política, porque se tratam de dois chefes de Estado democraticamente eleitos, onde existe uma relação de respeito para além das diferenças ideológicas", disse a ministra.
De acordo com a reportagem, Bolsonaro tem promovido sinais de hostilidade contra o governo Boric. Há mais de cinco meses o Chile aguarda uma resposta sobre o nome proposto para atuar como embaixador no Brasil, Sebastián Depolo. A falta de resposta vem sendo interpretada como uma negativa de Bolsonaro.
A chancelaria chilena emitiu, também, um comunicado de imprensa em que repudia as falas de Bolsonaro. Leia a íntegra abaixo:
O Governo do Chile considera que as declarações feitas contra o presidente Gabriel Boric pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante um debate presidencial realizado ontem, são inaceitáveis e não condizem com o tratamento respeitoso que os chefes de Estado que os chefes de Estado devem uns aos outros e nem com as relações fraternas entre dois países latino-americanos.
O uso político da relação bilateral para fins eleitorais, baseado em mentiras, desinformação e deturpação, corrói não apenas o vínculo entre nossos países, mas também a democracia, prejudicando a confiança e afetando a irmandade entre os povos.
O presidente Boric declarou publicamente as diferenças que o separam do presidente Bolsonaro, mas ao mesmo tempo destacou a importância de manter boas relações entre os Estados do Brasil e do Chile.
Além dessas infelizes declarações, o Governo do Chile expressa sua convicção de que nosso país e o Brasil têm não apenas uma história comum, mas também enormes desafios a enfrentar de forma colaborativa, razão pela qual espera continuar fortalecendo os laços permanentes de amizade e cooperação entre nossos países.
Edição: Nicolau Soares