Em encontro nesta segunda-feira (29) com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, representantes da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, conhecida como Grupo S&D, manifestaram expectativas de que, com uma possível eleição do candidato da coligação Brasil de Esperança, as relações entre o país e os países da União Europeia “voltem à normalidade”, depois de quase quatro anos de “pesadelo”
O termo “pesadelo” foi utilizado pelo vice presidente do Grupo S&D, o deputado português Pedro Marques, membro do Parlamento Europeu, para classificar o período de Jair Bolsonaro na Presidência do Brasil. “A luta travada aqui é travada no mundo inteiro, e começou a ser travada com a eleição de (Donald) Trump e Bolsonaro”, disse Marques. Ele acrescentou que a luta teve prosseguimento recentemente na França, onde “foi ganha, e perdemos na Hungria”.
O presidente Emmanuel Macron foi reeleito pelos franceses em abril, após a formação de uma ampla frente democrática para derrotar e candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. Por outro lado, na Hungria o ultranacionalista Viktor Orbán foi eleito em maio para o quarto mandato consecutivo como primeiro-ministro.
Brasil de volta ao mundo
O deputado euro-português mencionou que “a luta foi travada” também na América no Sul, “e foi ganha bem recentemente”. “Precisamos do Brasil de volta ao mundo”, disse. “Como Europa, somos importantes, sim, no mundo, mas seremos muito mais na nossa parceria com América do Sul, Brasil e com a África. Foram quatro anos de pesadelo, de interrupção do Brasil pelo mundo”, afirmou.
O eurodeputado Sergei Stanishev, ex-primeiro-ministro da Bulgária e membro da aliança socialista, disse que os parlamentares do grupo estão “muito preocupados com a violência e a brutalização impostas pela direita populista” no processo eleitoral brasileiro. “A Europa está observando de perto, porque eles (o bolsonarismo) querem solapar os resultados”, disse. “Estaremos muito atentos e vamos fazer o melhor com os progressistas da Europa e apoiar a democracia e a campanha”, continuou.
Lula e questões climáticas
Em discurso em que se concentrou principalmente em questões climáticas – um dos temas mais importantes da esquerda europeia na atualidade – o ex-presidente Lula disse esperar que a guerra acabe na Europa. “Que Rússia e Ucrânia possam viver em paz”, afirmou. “O mundo precisa voltar à normalidade.” Segundo ele, esse retorno implica no respeito ao meio ambiente.
Para Lula, o Brasil ocupará papel de liderança. No caso da Amazônia, o país “não abre mão da soberania”. No entanto, ponderou o petista, a floresta não está apenas no território brasileiro. “É importante lembrar que não é só nossa”, declarou, citando Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, “um pouco na Bolívia” e as Guianas.
Ele deu uma indicação de como seria o debate sobre a questão climática em âmbito diplomático em um eventual governo seu, falando da Conferência de Copenhague (a Cop 15), em 2009. “Os Estados Unidos e a União Europeia queriam jogar a culpa da poluição na China. A China está poluindo, mas quero saber se a Inglaterra e os Estados Unidos vão pagar a poluição histórica desde a industrialização, senão é difícil culpar os chineses”, disse Lula.
Tempo de cooperação
A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), anfitriã do encontro, destacou “o tempo de reforçar a cooperação da Europa e América Latina” e lembrou que há “várias lutas em comum” com os socialistas no Parlamento Europeu, como a própria democracia e “os direitos humanos, das pessoas e dos trabalhadores”. A presidenta do PT anunciou que está em discussão com o grupo vindo da Europa um memorando de cooperação que deve ser assinado em breve.
Em discurso muito breve, o ex-chanceler Celso Amorim destacou os pontos em comum que, ao seu ver, América Latina, Europa e África têm de enfrentar como desafios do mundo: “a guerra em primeiro lugar, as mudanças climáticas que ameaçam o planeta e as pandemias, É o que nos une de modo geral”, disse.
A presidente da Aliança dos Socialistas e Democratas, deputada Iratxe García Pérez, enfatizou a deterioração da política no Brasil, assim como a imagem do país no exterior. “Vemos com preocupação como o Brasil foi destruído, esse Brasil da igualdade social, da defesa da democracia e da justiça.” Ela acrescentou: Vimos o ataque evidente a grupos como as mulheres. Pudemos comprovar isto no debate de ontem“.
Durante a tarde, Lula encontrou-se, também na capital paulista, com o jurista francês Willian Bourdon, um dos autores do Manifesto Internacional de Juristas pela liberdade de Lula, publicado em 2019, quando o petista estava preso.