Nos últimos quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se desfez de automóveis, que, somados, foram avaliados em mais de R$ 300 mil, e ganhou pelo menos R$ 1,6 milhão líquido em salários. Como chefe do Executivo Federal, teve todas as suas despesas custeadas pelo governo. Mesmo tendo recebido quase R$ 2 milhões e tido poucas despesas, seu patrimônio cresceu apenas R$ 30 mil, de acordo com dados enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A evolução patrimonial de Bolsonaro enquanto esteve na Presidência é a menor dos últimos 16 anos. No pleito atual, ele declarou ter R$ 2.317.554,73, enquanto nas eleições de 2018, o valor total era de R$ 2.286.779,48. O baixo crescimento chama a atenção porque Bolsonaro se desfez – possivelmente, vendeu – quatro automóveis e ganhou um salário alto, além de outras benesses.
O levantamento do Brasil de Fato demonstra que R$ 1,9 milhão (R$ 1,6 milhão em salários e R$ 300 mil em automóveis) "sumiram" da declaração patrimonial do presidente nos últimos quatro anos. O fato por si só não configura crime, já que o valor pode ter sido gasto pelo presidente – nesse caso, no entanto, caso tenha sido investido em imóveis ou automóveis, os bens deveriam constar na declaração.
Na hipótese de Bolsonaro guardar o dinheiro vivo (em espécie) ou depositado em conta bancária, as informações também deveriam constar na declaração patrimonial enviada à Justiça Eleitoral. O valor declarado por ele em conta bancária até chegou a crescer cerca de R$ 335 mil (subindo de R$ 573 mil para R$ 908 mil), mas não ficou próximo ao patamar do montante acumulados nos últimos quatro anos (valor próximo a R$ 2 milhões).
Os automóveis que "sumiram" da declaração do presidente são: um micro-ônibus Mercedes Benz Sprinter 415, ano 2014 (avaliado em R$ 141 mil) um micro-ônibus Mercedes Benz Sprinter 313, ano 2004 (avaliado em R$ 89 mil), uma Land Rover Freelander, ano 2009/10 (avaliada em R$ 50 mil) e um Toyota Corolla, ano 2014/2015 (avaliado em R$ 50 mil). Neste ano, declarou apenas uma moto Honda 750X, 2019/20 (avaliada em R$ 26,5 mil).
Além das negociações envolvendo os automóveis, nos últimos quatro anos, o salário líquido de Bolsonaro foi composto por R$ 23.453 ganhos como presidente, e por R$ 11.325 como militar da reserva. Somadas, as duas remunerações mensais chegam a R$ 34.778. O valor não considera gratificações natalinas e outros recursos recebidos do governo, como indenizações e auxílios.
Os dados foram extraídos do DivulgaCand Contas, plataforma do TSE. As informações prestadas na declaração de bens são de responsabilidades dos próprios candidatos. Os números tabulados pelo Brasil de Fato podem ser localizados na página reservada especificamente a Jair Bolsonaro na plataforma. Para acessar, clique aqui.
A reportagem tentou entrar em contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República para verificar qual foi o destino dos automóveis declarados por Bolsonaro em 2018. O Brasil de Fato questionou como o presidente explica a evolução patrimonial muito inferior aos vencimentos recebidos como capitão da reserva e presidente. O espaço segue aberto para manifestações.
Leia o gráfico:
Dinheiro vivo
De acordo com levantamento publicado pelo Uol, dos 107 imóveis negociados pelo presidente e pessoas próximas, pelo menos 51 foram adquiridos parcial ou totalmente por meio de dinheiro em espécie, da década de 1990 até hoje. As compras registradas nos cartórios como feitas "em moeda corrente nacional", ou seja, em dinheiro vivo, totalizaram R$ 13,5 milhões (em valores corrigidos, o montante equivale a R$ 25,6 milhões).
Também foram realizadas compras por meio de cheque ou transferência bancária, que somaram R$ 13,4 milhões (R$ 17,9 milhões corrigidos pela inflação). O levantamento foi realizado a partir do patrimônio construído por Bolsonaro, seus três filhos mais velhos (Flávio, Eduardo e Carlos), sua mãe, cinco irmãos e duas ex-mulheres, construído no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasileira (PI).
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Dos 107 imóveis, 56 seguem como propriedade da família até este ano. Esses imóveis custaram, nas épocas em que foram comprados, R$ 18,8 milhões (ou R$ 26,2 milhões corrigidos). A compra em espécie de imóveis pode estar relacionada de alguma forma com o esquema de rachadinha que cerca as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) contra Flávio Bolsonaro.
Desde 2018, Flávio e Carlos Bolsonaro e a segunda esposa do presidente, Ana Cristina Siqueira Valle, são investigados por obrigar funcionários de seus gabinetes a devolverem parte dos salários. De acordo com o MP, esses assessores contratados, grande parte funcionários fantasma, entregavam até 90% do que recebiam a operadores da família Bolsonaro.
As apurações contra Flávio mostraram depois que os valores eram "lavados" por meio da compra de imóveis. Uma parte das provas produzidas pelo MP foi anulada. Ainda assim, as investigações continuam em curso.
Edição: Rodrigo Durão Coelho