Coluna

Lula: entre o conforto e o risco

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As pesquisas mostram que a distância entre Lula e Bolsonaro varia entre 7 e 13 pontos percentuais - Ricardo Stuckert
Se há algum ponto "positivo" para o Bolsonaro, foi não perder votos depois da sabatina e do debate

Mais uma semana chega ao fim e com ela um cenário de estabilidade nas pesquisas. Sejam pesquisas presenciais ou telefônicas, o resultado foi o mesmo e agora, faltando 30 dias para o primeiro turno dessas eleições, o cenário não poderia ser pior para quem está em segundo lugar.

As principais pesquisas de qualidade publicadas nessa semana (FSB, Ipec, MDA, Ipespe, Quaest e Datafolha) foram unânimes em apontar que nem mesmo o pacote eleitoreiro do Jair Bolsonaro surtiu algum efeito significativo nas pesquisas e o pior ainda, embora a distância de Lula e Bolsonaro varie entre 7 e 13 pontos percentuais a depender da pesquisa, todas mostram que Bolsonaro não sai da casa dos 30% no segundo turno.

Bolsonaro, em TODAS as pesquisas, fica entre 37 e 39 por cento no segundo turno. O que isso significa? Que Bolsonaro não consegue ampliar o seu eleitorado e isso se reflete na sua estratégia de campanha que não dialoga com outros eleitores se não os que já votam nele. Basta ver os números das pesquisas, Bolsonaro vai "melhor" entre eleitores brancos, homens e com renda a partir dos 5 salários mínimos. Já Lula, consegue ir melhor em quase todos os outros grupos da sociedade.

Desde 89, todas as eleições que foram para o segundo turno não tiveram uma virada. O que isso significa? Que quem estava em primeiro no primeiro turno acabou ganhando no segundo turno.

Todas as pesquisas mostram que não basta Bolsonaro levar a disputa para o segundo turno, mas ele também precisa chegar "encostado" no Lula.

Se há algum ponto "positivo" para o Bolsonaro, foi não perder votos depois da sabatina do Jornal Nacional ou do descontrole no debate da Band, porém, ninguém ganha eleição ficando em segundo lugar.

O cenário de drástica antecipação do segundo turno mostra que dificilmente teremos algum fato que possa abalar o cenário eleitoral.

Além disso, segundo o Datafolha, a rejeição também segue o ritmo médio de queda de 1% ao mês, ficando em colossais 51% faltando apenas 30 dias para o primeiro turno. A "melhora" da avaliação do governo na verdade é uma "despiora" variando 1% e chegando em 42%.

Vale observar que em todas as pesquisas a avaliação do governo está "menos pior" se comparada com a avalição da forma como Bolsonaro governa ou do próprio Bolsonaro que sempre está superior a 50%.

Bolsonaro já queimou tudo que poderia, mais de R$ 40 bilhões em isenções e todo tipo de benefício da máquina pública. Já está claro que o reajuste de R$ 200 do Auxílio Brasil também não vai ser a bala de prata do Bolsonaro.

As razões para as medidas eleitoreiras não surtirem o efeito esperado pela campanha bolsonarista são os mais diversos: a pesquisa Quaest, por exemplo, mostrou que 62% dos eleitores enxergam as medidas econômicas do governo como algo apenas para salvar o mandato do Bolsonaro. Além disso, é muito comum esquecerem que mais importando do que jogar dinheiro de helicóptero, é o contexto econômico dessa estratégia.

Embora o desemprego tenha caído, o PIB "crescido" e a inflação "diminuído", a inflação dos alimentos apresentou um crescimento de quase o dobro do que alardeado de queda no IPCA, o desemprego diminuiu, mas milhões de brasileiros foram parar na informalidade, além disso, a renda média do brasileiro está 2,9% menor do que era no ano passado.

O Bolsa Família não fez sucesso só porque dava dinheiro para as pessoas, isso vem de uma visão elitista e preconceituosa de que o eleitor mais humilde pode ser facilmente cooptado com qualquer caridade. O próprio Bolsa Família nasceu num contexto de melhora do cenário econômico, aumento do poder de compra, renda e acesso ao consumo. É o extremo oposto do que ocorre no Brasil de hoje.

Dentre as pesquisas que saíram essa semana, a que, talvez, tenha sido pior para Bolsonaro seja a MDA, mesmo com o Datafolha dando uma vantagem de 13% para o ex-presidente Lula. O levantamento mostra um cenário de estabilidade ainda mais terrível:

A última pesquisa MDA foi em maio. Ou seja, são três meses entre uma pesquisa e outra que mostram um cenário rigorosamente ruim para quem está atrás nas pesquisas: de estabilidade!

Se em 3 meses Bolsonaro não conseguiu alcançar Lula, o que fará em míseros 30 dias?

Mas e as sabatinas e o debate?

Com os dois primeiros colocados tendo uma intenção de voto tão consolidada, é natural que os candidatos nanicos fossem os únicos a colherem algum impacto expressivo nas intenções de voto com as sabatinas do Jornal Nacional e o debate na Band. E foi o que aconteceu com Ciro e Simone Tebet. Enquanto Lula e Bolsonaro ficam com o ônus. Lula se afastou da vitória em primeiro turno e Bolsonaro ficou estagnado.

Embora, para o Lula, seja interessante não dar palco para o presidente criando um antagonismo direto com ele (o que seria um caminho "seguro" para a vitória), não será tão eficiente caso a disputa acabe indo para o segundo turno.

Já está claro que a postura do Lula no debate da Band acabou abrindo flanco para Ciro e Tebet avançarem e embora não se tornem competitivos, atrapalham os planos petistas de vitória no primeiro turno.

A campanha petista vai ter que descobrir uma forma de colocar Bolsonaro contra a parede, não para desidratá-lo, mas para esvaziar a 3ª via. Lula precisa capitalizar a altíssima rejeição do Bolsonaro e mantê-la acima dos 50%. De resto, seguimos com uma estabilidade faltando 30 dias para as eleições.

Tempo é ouro e Bolsonaro não está sabendo garimpar. Os maiores inimigos do presidente são o tempo e ele mesmo.

Só dá para ter duas certezas até aqui: ganhará as eleições quem errar menos e que os outros candidatos estão apenas cumprindo tabela, são os cafés-com-leite destas eleições, na segunda quinzena de setembro a ofensiva de Lula e Bolsonaro para desidratá-los certamente vai encolher ainda mais a diminuta intenção de votos deles.

Essas são as "fotografias" que as pesquisas dessa semana nos trazem.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato

Edição: Thalita Pires