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Uma escolha muito difícil... para Bolsonaro

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A previsão é que a campanha de Bolsonaro radicalize o discurso no 7 de setembro - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Para o tal golpe Bolsonaro precisaria ter uma articulação política que nunca teve

Segundo o âncora da CNN, Daniel Adjuto, Bolsonaro vai partir para o tudo ou nada. Motivo? Certamente as pesquisas estagnadas com o presidente isolado em segundo lugar.

Segundo o jornalista, "a campanha vai elevar o tom, atacar Lula nos palanques eletrônicos e voltar artilharia para Moraes, Barroso e Fachin num 2º discurso do presidente no 7 de setembro", além de convidar empresários que ensejavam um golpe de Estado num grupo de Whatsapp. Tudo com objetivo de sobreviver ao primeiro turno (quem me acompanha sabe que não basta só isso).

O que me incomoda aqui é qual a avaliação realizada e como se espera ter ganhos eleitorais com mais uma escaramuça no 7 de setembro.

Aparentemente, com base no que é exposto pelo jornalista da CNN, o discurso que Bolsonaro fará será única e exclusivamente com a parcela do eleitorado que já vota nele. Ou seja, não usará o destaque e a oportunidade para ampliar o seu eleitorado.

As principais pesquisas de qualidade mostram que Bolsonaro sequer consegue alcançar os 40% de intenção de voto no segundo turno, enquanto Lula passa dos 50%. Reflexo da sua campanha isolacionista.

Bolsonaro e sua campanha acreditavam que chegaram nessa próxima quarta-feira (7) em uma posição extremamente confortável, o que possibilitaria fazer esse tipo de escaramuça, não foi o que aconteceu.

Essa é "uma escolha muito difícil" para o presidente. Mas e se ele voltasse duas casas e fizesse um discurso mais "democrata", aí iria decepcionar os fanáticos que lhe seguem e que querem ver o circo pegar fogo, poderia até conquistar alguns indecisos? Talvez, mas a chance de desapontar a seita seria maior.

Além disso, Bolsonaro precisa mostrar "força" ou então poderá ser abandonado em palanques regionais, caso estes entendam que Bolsonaro não é competitivo.

A última pesquisa Ipec mostra que Lula abriu uma vantagem larguíssima de 16% contra Bolsonaro nas capitais e cidades com população acima dos 500 mil habitantes, ou seja, Bolsonaro está perdendo em cidades com muitos eleitores. Caso Bolsonaro perca o “entusiasmo” dos seus palanques regionais, a coisa pode ficar ainda mais crítica, principalmente no interior dos estados, onde as campanhas regionais naturalmente fazem a ponte com os candidatos para o governo federal.

Por outro lado, se os atos se tornarem verdadeiras intentonas, as coisas também ficam difíceis. A campanha lulista até mesmo torce para que Bolsonaro repita a dose do 7 de setembro do ano passado e aguardar os desdobramentos deste ano para traçar a sua estratégia em defesa do voto útil e a ofensiva contra eleitores de outros candidatos menores.

São meses a fio com rejeição do presidente no lado oposto da sua intenção de votos. De um setembro para outro o governo se movimentou pela intervenção Petrobras para baixar o preço dos combustíveis, escaramuças contra o ICMS e PEC da compra de votos. Nada disso rendeu sequer 5% ao presidente.

Para o tal golpe Bolsonaro precisaria ter uma articulação política que nunca teve. Os militares preferem se lambuzar com o dinheiro público sem assumirem protagonismo, as famigeradas PMs não possuem um comando centralizado igual da Bolívia (o bolsonarismo até tentou mudar isso, mas falhou) e só se mobilizam por interesses da própria classe.

Se Bolsonaro tentar algo, contará apenas com a sua horda de fanáticos e CAQs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) que muitas vezes estão coligados com organizações criminosas. Será o suficiente para uma intentona? Não. Mas seria um atalho para a cadeia.

Os atos do presidente são uma incógnita, pode acontecer tudo e ao mesmo tempo nada. E mesmo que aconteça algo, é extremamente difícil que termine em sucesso.

Temos um homem idoso, frustrado, com o ego e a masculinidade abalada e que não precisa de muito para se descontrolar, basta que uma mulher faça oposição.

Esse é o nosso "Dom Quixote" e a República virou um moinho de vento.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Thalita Pires