Você já ouviu falar em araruta? Ela não é facilmente encontrada nas gôndolas de supermercados. Não à toda que muita gente nem ouviu falar sobre esta planta.
:: Confira outras edições do Alimento é Saúde ::
A araruta é uma espécie indígena nativa da América do Sul, que possui um rizoma fibroso, branco do qual se extrai um polvilho finíssimo. A relação entre a araruta e a cultura alimentar do povo cearense vem de muito tempo. Os povos originários que viviam no território do estado desde antes da chegada dos portugueses já cultivavam e beneficiavam o rizoma, sendo esta uma de suas principais fontes de alimento, além de ser muito utilizada na medicina popular.
"A araruta tem uma grande quantidade de fibras que fazem bem para as bactérias boas do nosso intestino, fazendo uma fermentação e tendo uma digestibilidade maior. Só que, além disso, ao utilizar em receitas, ela tem um poder gelificante maior, ela forma ali um creme mais espesso, onde é possível formar um gel, além de ter uma alta concentração de amido", explica o nutricionista e chefe de cozinha André Luiz da Silva.
Assista:
Utilização
A araruta esteve presente em parte das cozinhas domésticas sendo base para bolos, biscoitos e mingau décadas atrás. Porém, com o passar dos anos, esse rizoma poderoso foi sumindo das mesas e da vida dos brasileiros, sendo substituída por outras féculas como o famoso amido de milho ou polvilho.
"O processo produtivo para extração e beneficiamento da fécula de araruta é algo que gera muito mais trabalho se comparado a um amido de milho e fécula de mandioca. Então, a baixa produtividade, 50kg de araruta para dez quilos de fécula no final. Como ele rende pouco, não há o interesse tão grande das grandes indústrias ou de mais pessoas nesse beneficiamento’’, ressalta o nutricionista sobre os possíveis motivos deste rizoma tão cheio de possibilidades estar, praticamente, extinto do nosso cardápio.
Ouça também: Óleo de batiputá: conheça a história de religação ancestral e afirmação de identidade indígena
Religação
Ao ouvir falar pela primeira vez dessa planta, que foi bastante utilizada em sua comunidade, que o agrônomo Breno Veríssimo despertou seu olhar para a araruta.
"Estava eu e minha avó no alpendre de casa. Aí a gente estava conversando sobre algumas coisas, e aí surge esse assunto da araruta. Ela falou um pouco sobre o que era a araruta e começou a contar essa relação da araruta no passado, a relação com a alimentação das crianças e como ela era presente no cotidiano das famílias, ela fazia parte da mesa das famílias. E minha avó começou a contar que com o tempo essa relação ela foi se apagando, foram surgindo outros alimentos e a araruta começou a sumir da mesa dessas pessoas’’, afirma Breno.
O apagamento desse alimento ancestral preocupou o jovem agricultor, que decidiu pesquisar mais sobre as potencialidades desta planta de fácil cultivo e trazer junto a valorização de diversos outros alimentos tradicionais.
:: “Alimentação é ato político, nos define e mantém fidelidade com mundo velho", diz indígena ::
"Então conseguimos valorizar, além da araruta, esses alimentos que compõem a nossa agrobiodiversidade e também valorizar esses saberes que a gente tem em torno da araruta: como é que planta, como beneficia. Então são saberes que estavam guardados com essas pessoas, essas pessoas mais idosas da comunidade, que a gente conseguiu documentar, tanto um ebook com receitas como também uma cartilha que fala do plantio ao beneficiamento da araruta".
Edição: Daniel Lamir