O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou um suposto plano de atentado contra sua vida, que teria sido planejado pela Escola de Inteligência das Forças Armadas e membros do governo. Morales apresentou um documento com 11 páginas com evidências que teriam sido entregues por "militares patriotas".
Nas listas estão presentes os nomes do vice-presidente, David Choquehuanca, assim como os ministros Edmundo Novillo (Defesa) e Édgar Montaño (Obras Públicas), os ex-ministros Hugo Moldiz, Javier Zavaleta, Rubén Saavedra e Reymi Ferreira, além de oito militares e a prefeita de El Alto, Eva Copa.
:: Quem é David Choquehuanca, um vice nada decorativo na campanha do MAS na Bolívia ::
"Diante de tudo, a verdade. Cumprimos com o mandato da direção nacional do MAS-IPSP que, no ano passado, instruiu-nos a combater a corrupção com provas. Lamentamos como alguns envolvidos na corrupção tratam de confundir com falsidades e provocações", disse o ex-chefe de Estado.
Ante todo la verdad. Cumplimos con el mandato de la dirección nacional del MAS-IPSP que el año pasado instruyó combatir la corrupción con pruebas. Que nuestro pueblo juzgue. Lamentamos cómo algunos involucrados en la corrupción tratan de confundir con falsedades y provocaciones. pic.twitter.com/FSSmXmL1vc
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) September 7, 2022
A prefeita de El Alto foi uma das dirigentes do Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP) que abandonaram a legenda para fundar o Jallalla Bolivia para disputar as eleições regionais de outubro de 2021. Entre os militantes que permaneceram no MAS-IPSP, haveria uma ala "evista", próxima ao ex-presidente, e outra pela renovação, que seria contrária à influência política de Morales no governo e sua possível candidatura nas eleições presidenciais de 2025.
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O sociólogo boliviano, Boris Rios, explica ao Brasil de Fato que desde seu retorno à Bolívia, depois do golpe de Estado de 2019, Evo Morales assumiu a tarefa de reorganizar e fortalecer o Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), assim como abrir espaço para debate e reflexão com o governo central.
"Numa primeira etapa, Evo tinha uma relação muito próxima com Luis Arce, até que houve um momento no qual o MAS e outras organizações sociais solicitaram a mudança de dois ministros, algo que Arce não acatou e acabou gerando mais divergências com dirigentes do MAS", comenta Boris Rios.
Arce foi ministro de Economia das gestões de Evo, e os nomes acusados por Evo como executores de um "plano obscuro" são os mesmos que as bases do Movimento ao Socialismo pediram a destituição.
"É evidente que existe um grau de divisão entre os setores que apoiam Choquehuanca com seu discurso antimarxista, indigenista, e de renovação, como também com as pessoas que apoiam Arce numa visão mais institucional da política.Enquanto o setor de Evo é o grosso da militância, que militou contra o neoliberalismo e têm essa lembrança do seu governo, por isso acho que ele movimenta um setor maior da militância", explica.
Distintas posições
O ministro de Defesa disse que "não existem planos obscuros". Já o ex-ministro de Governo, Hugo Moldiz, declarou seu respeito a Evo, mas disse ser "pouco sério que um ex-presidente faça esse tipo de coisa sem confirmação prévia".
As denúncias ainda indicam que os militares arrecadaram cerca de 20 milhões de bolivianos (15 milhões de reais) nos dois últimos anos para financiar o plano, assim como seções destinadas a formar "novas lideranças".
O deputado Daniel Rojas (MAS-IPSP) disse que "parece que Evo Morales é um estorvo para aqueles que acreditam que poderia candidatar-se em 2025". O deputado Ramiro Venegas, também da ala "evista" do partido governante, sustentou que a vida de Evo "corre perigo".
No dia 25 de agosto, o MAS-IPSP convocou uma manifestação nacional para demonstrar apoio ao governo central, com presença do presidente Luis Arce, o vice David Choquehuanca e Evo Morales. Durante o ato, os dirigentes reiteraram a importância da "unidade em torno do projeto de mudanças para a Bolívia".
O sociólogo Boris Rios acredita que Arce não deve acatar as denúncias de Morales, realizando uma reforma ministerial ou outro ato administrativo.
"O que me parece mais relevante é que não há de fundo nenhum debate sobre o futuro do país ou o modelo de Estado, mas muito focado em figuras políticas. O cenário é complicado e pode ficar ainda mais crítico. Estas contradições internas do MAS poderiam acelerar um movimento por um referendo revogatório. Já para definir o candidato presidencial do MAS acho que haveria um movimento de ruptura muito mais forte", conclui Rios.
Edição: Arturo Hartmann