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Defesa do Cerrado: livro aborda a importância dos saberes tradicionais na preservação do bioma

Publicação reúne a memória ancestral de um dos biomas mais ameaçados no Brasil

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O quilombo Cocalinho é uma das áreas de reservas atingidas pelo avanço das plantações de eucalipto no Maranhão - Leandro Santos
Nas mãos daqueles que só visam o lucro, o cerrado vai acabar

O cerrado brasileiro é a savana mais biodiversa do mundo, ultrapassando 2600 espécies de mamíferos, cerca de 12 mil espécies de plantas nativas e um enorme potencial aquífero, que abastece boa parte do Brasil e de outros países. 

Além de abrigar uma vegetação composta por árvores tortuosas, arbustos e gramíneas, a região também é a casa de diversos povos que têm suas vidas entrelaçadas com o bioma e preservam toda essa riqueza ambiental. 

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A indígena Avelin Buniacá do povo kambiwá é uma guardião da biodiversidade. Registrada em Araguari no Triângulo Mineiro, Avelin sempre teve uma relação estreita com o cerrado, bioma que ela considera sua casa e território sagrado.

“O cerrado também é o lar de povos indígenas, raizeiros, quilombolas. O cerrado encerra uma biodiversidade e riqueza que não é encontrada em outros biomas e faz conexão com os outros biomas, assim como os povos. Aí que entra a importância da preservação deste território enquanto casa comum”, defende. 

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Livro

Toda essa riqueza da fauna e flora e das populações que coexistem com o bioma está retratada no livro “Saberes dos povos do cerrado e biodiversidade", lançado pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. A obra reúne a memória ancestral das paisagens do cerrado e de que forma ela é fruto da convivência e cuidado dos povos desta natureza.

“Esse livro é uma denúncia, mas também um anúncio de que os povos do cerrado são guardiões dessa biodiversidade. Para fazer a defesa do cerrado é necessário o reconhecimento dos direitos territoriais. O reconhecimento da diversidade dos povos que resistem há centenas de anos”, explica Valéria Santos, da campanha. 


O livro é parte da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e está disponível gratuitamente / Reprodução

O cerrado abriga em torno de 216 terras indígenas e mais de 80 povos diferentes, populações que junto com o bioma vêm sendo ameaçadas pelo avanço da agropecuária. De acordo com estudos do Mapbiomas, as atividades deste setor são responsáveis por 98,8% do desmatamento no cerrado. Só no ano passado, o que representa 30% da área destruída de todo o Brasil. 

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“Nós últimos anos com o avanço do capital para o campo, a financeirização da terra, das águas, das florestas. o quanto que isso vem trazendo de problemático para os seus povos e para a identidade do cerrado. A questão da mineração, dos agrotóxicos, as monoculturas, o projeto de flexibilização da grilagem de terras e todo o aparato estatal que está a favor desta questão. Hoje, as áreas desmatadas foram invadidas pelo agronegócio”, aponta Isolete Wichinieski, da Comissão Pastoral da Terra de Goiás.  

Apesar do processo acelerado de devastação do bioma, os povos do cerrado têm resistido e mantido vivos seus saberes, tradições e culturas. Ao mesmo tempo que preservam o bioma.

“Os povos tradicionais que habitam o cerrado são guardiões. E quando as lavouras de soja, a criação de gado e o agronegócio toma conta, nós temos uma perda imensurável da biodiversidade, da qualidade de vida e da possibilidade de bem viver dessas comunidades. Precisamos do cerrado vivo, precisamos dos povos e comunidades tradicionais habitando o cerrado para a sua manutenção. Nas mãos daqueles que só visam o lucro, o cerrado vai acabar. Toda essa riqueza não pode mensurar o tamanho do amor de quem já respirou o ar do cerrado. O cerrado é sagrado, o cerrado é nosso e ele precisa e vai viver”, afirma Avelin Buniacá. 


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Edição: Daniel Lamir