Pela primeira vez na história, a maior parte dos candidatos às eleições no Brasil é negra. No entanto, uma análise dos dados gerais das candidaturas, disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram que essa maioria só ocorre na disputa para deputado estadual.
Para os cargos majoritários (presidente, governador e senador), negros representam apenas 35% das candidaturas: são 166 candidatos pretos ou pardos, contra 310 brancos.
Entre os 13 presidenciáveis, apenas três são negros: Leonardo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU), que se autodeclararam pretos, e o Padre Kelmon (PTB), que se apresentou como pardo, em seu registro no TSE.
Dos 223 concorrentes ao governo dos estados, 39,40%, ou 132, são negros. Na disputa pelo Senado, pretos e pardos representam apenas 31,25% dos candidatos. O cenário começa a modificar nos cargos menores, deputado federal e deputado estadual, que concentram 97,5% das 29.097 candidaturas registradas para as eleições de 2022.
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Entre os 10.564 candidatos a deputado federal, negros são 48,25%, contra 50,18% de brancos. Na corrida para deputado estadual, há o registro de 16.661 candidaturas, 56% do total. Dessas, 51,97% são pretos e pardos.
Para a jurista Sheila Carvalho, integrante da Coalizão Negra por Direito, “esses dados mostram que há um lapso da participação negra na política, principalmente nos cargos majoritários. O que vamos ver é uma composição branca no Executivo e sem compromisso com uma assessoria negra, nos ministérios ou secretariado. Isso sinaliza muitas coisas para nós, mas principalmente a falta de investimento em candidaturas negras viáveis, elas sempre ficam no segundo plano.”
A Coalizão Negra por Direitos lançou, em 2022, o projeto Quilombo no Parlamento, para impulsionar candidaturas negras, com foco nos cargos de deputado federal e deputado estadual. “Não há como negar o avanço que tivemos”, reflete Carvalho. “Se temos muitas candidaturas para o cargo de deputado estadual, que é o menor cargo da disputa das eleições, todas essas pessoas se tornam lideranças potentes para os próximos ciclos eleitorais. É importante que esse espaço seja criado e desenvolvido, mas não é o suficiente”, finaliza.
Edição: Monyse Ravena