O ex-presidente Lula (PT) e a ex-ministra Marina Silva (Rede) anunciaram em coletiva nesta segunda-feira (12) o acordo que selou a reaproximação histórica e o apoio de Marina à candidatura do petista. Como parte do acordo, a ex-ministra apresentou uma série de propostas que serão incluídas no programa de Lula para a questão ambiental, com ênfase especial no combate às mudanças climáticas.
Entre as propostas, está retomada imediata do plano de prevenção ao desmatamento da Amazônia, que, segundo Marina, foi paralisado pelo governo Bolsonaro, e a ampliação desse plano para todos os biomas, com o objetivo de chegar ao desmatamento zero no país. Além disso, está prevista a criação de uma autoridade nacional para o enfretamento das mudanças climáticas e a retomada da demarcação de terras indígenas e da criação de unidades de conservação, entre outros pontos.
Marina destacou que o nome do documento apresentado faz referência ao resgate atualizado da "agenda socioambiental perdida". "Ninguém melhor do que o senhor para fazer esse resgate, que foi quem iniciou essa agenda", afirmou.
"Estamos vivendo aqui um reencontro político e programático. Porque, do ponto de vista das nossas relações pessoais, tanto eu quanto Lula nunca deixamos de estar próximos e de nos conversar inclusive em momento dolorosos das nossas vidas", disse Marina.
Esse reencontro, continuou, acontece em um quadro grave da política nacional, com ameaças contra a democracia e "tentativa de corrosão do tecido social em todas as suas dimensões".
"E sempre que estamos diante de propostas, atitudes e processos que constituem a banalização do mal, homens e mulheres se unem para salvaguardar aquilo que está acima de nós. A democracia, o sofrimento do nosso povo, com 33 milhões sobrevivendo com 1,33 reais por dia. Está acima de nós o imperativo ético de dar conta do grave problema da mudança climática que ameaça o Brasil e o mundo e retorno de política pública que foram implementadas em seu governo e que foram reconhecidas no mundo", sustentou.
Brasil protagonista
Lula classificou a aliança como um "dia histórico para quem sonha em fortalecer a democracia no Brasil".
“Esse reencontro é importante não apenas pela qualidade da proposta de programa que Marina apresenta, e que já vínhamos trabalhando com nossa campanha. Mas pelo momento político que estamos vivendo, que exige muito mais compreensão de quem faz política, porque a democracia está em risco.”
Ele lembrou casos de violência política como os assassinatos de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e de Benedito Cardoso dos Santos, na cidade de Confresa, no Mato Grosso, ambos pelas mãos de militantes bolsonaristas. Citou ainda o que classificou como "cena humilhante" de um bolsonarista que filmou o momento em que entregava uma cesta básica a uma mulher e diz que ela não receberia "mais marmita" por declarar que vota em Lula.
"Ele dizendo que ela não merecia, que era pra pedir para o Lula. Ele não precisava mandar ela pedir, porque a única razão que eu tenho pra ser candidato é que tenho que fazer mais do que fizemos no primeiro mandato. Nem quero usar a palavra governar, mas cuidar, porque o povo precisa de cuidado, em especial o povo mais pobre", disse o ex-presidente.
O ex-presidente destacou que Marina "não mudou os seus princípios, as suas convicções". "O Brasil que ela quer construir continua intacto da Marina que eu conheci. Claro que hoje mais experiente, calejada, até mais ousada, porque o programa que ela apresenta é um programa ousado", afirmou, dizendo que o mundo está "exigindo do Brasil um comportamento civilizado" na questão ambiental.
"Esse país tem que virar protagonista internacional na questão do clima. Não tem nenhum país que tenha condições de virar protagonista internacional, de ajudar a criar políticas, e de não querer transformar a Amazonia num santuário. Ela tem que ser estudada, pesquisada, soberanamente pelo sobre o controle do Brasil. Mas nós precisamos compartilhar com a ciência do mundo o estudo da riqueza da biodiversidade daquela região, para saber se a gente consegue, a partir dali, sustentar 28 milhões de seres humanos que moram ali."
Evangélicos e cidadãos
Na coletiva, Marina foi perguntada se o fato de professar a fé evangélica poderia ajudar no diálogo da campanha de Lula com esse público. Para ela, o caminho para combater a "confusão entre fundamentalismo político e religioso” que tem sido fomentada no Brasil é “tratar todos os brasileiros como cidadãos”, garantindo políticas públicas a todos e "políticas afirmativas a todos aqueles que historicamente precisam de reparação, que são os povos indígenas, o povo preto, as mulheres, os que vivem em situação de vulnerabilidade ou que foram vulnerabilizados, como é o caso da população LGBTQIA+”.
“Nós somos um Estado laico, que é um legado da reforma protestante. E o povo não pode imaginar que teremos no Brasil um governo teocrático, que vai impor uma religião a quem quer que seja”, afirmou.
“Nunca fiz do púlpito um palanque, nem do palanque um púlpito, e é assim que vamos fazer. A nossa Constituição assegura liberdade religiosa, e o direito de crer ou não crer. O nosso Estado é laico, e é assim que vamos fazer.”
Marina disse ainda que é mentira o boato de que Lula fecharia igrejas em um eventual novo mandato. “Muitos que hoje dizem essa mentira, até iam no gabinete do presidente fazer oração com ele”, sustentou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho