Enquanto a Europa aguarda os resultados das acirradas eleições suecas, alguns se perguntam: como isso aconteceu? Um partido nacionalista e anti-imigrantes, o Democratas Suecos, está prestes a se juntar a uma coalizão de direita para governar o país, considerado até agora um bastião da tolerância.
Um olhar sobre as origens e trajetória do partido fornece algumas respostas.
Vitória da direita no horizonte
No domingo, a Suécia realizou eleições parlamentares. Com mais de 95% dos votos apurados, um vencedor ainda não foi declarado. As pesquisas de boca de urna na noite de domingo indicaram inicialmente a vitória da coalizão de centro-esquerda liderada pelos social-democratas, que está no poder desde 2014.
Mas, à medida que a apuração progride, uma vitória do bloco de direita – composto pelo Partido Moderado, os Democratas Cristãos (KD), os Liberais e pelo populista de direita Democratas Suecos – parece se delinear, com quase 49,7% dos votos.
Embora os resultados finais não sejam esperados antes desta quarta-feira (14/09), os social-democratas receberam até agora a maior porcentagem de votos, 30,5%.
Mas atualmente, os Democratas Suecos são o segundo partido mais forte, ganhando 20,6% dos votos, no melhor desempenho eleitoral de sua história. Isso os torna o maior partido da direita, à frente do Partido Moderado, que ficou em terceiro lugar com 19,1%.
Qual é a origem dos Democratas Suecos?
Fundado em 1988, o partido Democratas Suecos unificou vários elementos da cena de extrema direita da Suécia, incluindo fascistas e militantes do movimento da supremacia branca. "Alguns deles também tinham ligações com movimentos abertamente neonazistas", diz Johan Martinsson, professor de ciência política da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
Por volta de meados dos anos 90, no entanto, a nova liderança do partido denunciou publicamente o nazismo. "Gradualmente, o partido começou a normalizar e banir o racismo absoluto", explica Martinsson, que escreveu um extenso artigo sobre o partido. Membros abertamente extremistas foram expulsos, e a plataforma da legenda foi remodelada.
Mas, de acordo com Bulent Kenes, ex-editor de um jornal turco perseguido que vive na Suécia em busca de asilo desde 2016, "eles mantêm uma agenda oculta". Ele acredita que o partido apenas colocou um rosto de compaixão em sua ideologia neonazista, para torná-la mais socialmente aceitável.
Uma cara nova na liderança do partido
Em 2005, o atual líder do partido, Jimmie Akesson, passou a liderar a legenda. Com apenas 26 anos na época, o ex-membro do Partido Moderado afastou a imagem do Democratas Suecos de suas raízes de extrema direita, levando-o para uma direção mais populista.
Paralelamente a outros movimentos populistas de direita, o partido procurou se projetar como um "defensor das 'pessoas comuns' contra uma elite corrupta no auge de uma recessão global", como escreveu a acadêmica Danielle Lee Tomson em um artigo sobre a ascensão dos Democratas Suecos.
Como parte de seu esforço para projetar uma imagem mais suave, o logotipo do partido também foi alterado: da bandeira sueca representada como uma tocha flamejante, para uma flor nas cores da bandeira sueca, amarelo e azul.
O partido estreou em 2010 no Riksdag, o Parlamento sueco, quando conquistou quase 6% dos votos. Mas lutou para ganhar força e foi considerado um pária na construção de coalizões.
Isso mudou após a crise migratória de 2015, que preparou o terreno para que os Democratas da Suécia sejam mais aceitos como possíveis parceiros pelos partidos tradicionais do país.
Em grande parte devido à guerra civil na Síria, a Europa enfrentou uma onda de refugiados majoritariamente muçulmanos em 2015. Ao longo de um ano, 1,3 milhão de pessoas fugiram para a Europa. A Suécia acolheu cerca de 163 mil requerentes de asilo (a Alemanha acolheu cerca de 1 milhão). Naquele ano, a Suécia teve o segundo maior número de pedidos de asilo per capita na Europa, depois da Hungria.
O cientista político Martinsson vê isso como um fator importante para o partido ganhar força. "A principal razão para o sucesso do partido na última década foi o número excepcionalmente alto de requerentes de asilo na Suécia e a demografia em rápida mudança em termos de etnia e proporção de cidadãos nascidos no exterior", disse ele à DW.
Com a imigração como tema principal nas eleições suecas de 2014 e 2018, os Democratas Suecos capitalizaram com essa preocupação.
O jornalista turco Kenes, que escreveu um amplo perfil do partido, diz que a defesa da "alma sueca" feita pela sigla vem dando resultados. "Especialmente as pessoas menos instruídas sentem-se ameaçadas pela mão de obra barata dos imigrantes", avalia. "Eles acham que os social-democratas [do governo] não estão mais representando seus interesses."
A violência criminosa cada vez mais visível e a atividade de gangues também estão desempenhando um papel na ascensão dos Democratas Suecos. O partido mais que dobrou sua votação nas eleições de 2014, ganhando cerca de 13% dos votos.
Em 2018, essa parcela passou para 18%. Quando o Partido Moderado, de centro-direita, concordou em cooperar com os Democratas Suecos em 2019, isso abriu caminho para uma eventual participação da sigla no governo.
Surpresa
"É surpreendente para mim vê-los como o segundo maior partido nessas eleições", reconhece Kenes, considerando que os Democratas Suecos perderam terreno durante a pandemia, à medida que os eleitores se voltaram mais para os partidos estabelecidos.
Ele explica que, além da questão da imigração, os efeitos econômicos da covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia contribuíram para aumentar a popularidade do partido, principalmente entre a classe trabalhadora. Mas o especialista não acredita que todos os eleitores dos Democratas Suecos compartilhem da ideologia nacionalista do partido, mas sim estão "reagindo à inflação e à deterioração econômica".
O que os Democratas Suecos defendem?
Quanto ao cientista político Martinsson, ele define os Democratas Suecos como "principalmente um partido anti-imigração com uma ideologia nacionalista", mas evita descrevê-lo como de extrema direita ou radical. "Em termos econômicos, o partido é mais centrista e pragmático, com uma mistura de propostas de esquerda e de direita", explica Martinsson.
O jornalista Kenes, no entanto, continua convencido de que o partido é uma ameaça à democracia. Ele aponta para um levantamento recente indicando que 214 candidatos do Democratas Suecos que concorreram nas últimas eleições podem estar ligados ao extremismo de direita.
Os Democratas Suecos almejam zerar o número de solicitantes de refúgio, além de defenderem sentenças de prisão mais longas e uso mais amplo da deportação. O partido também tem uma postura eurocética.
"A Suécia tem sido um grande país, um país seguro, um país de sucesso – e pode ser tudo isso novamente", disse Akesson durante um um comício em Helsingborg no início deste mês, de acordo com o site ao Politico. "É hora de nos dar a chance de tornar a Suécia grande novamente", acrescentou.