Conflito

Choques entre Azerbaijão e Armênia matam 100 soldados

Militares dos dois países trocaram tiros na região de Nagorno-Karabakh e ligam alerta para possível retomada de guerra

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Casa do vilarejo de Sotk, na Armênia, destruída por conflito com o Azerbaijão - Karen Minasyan / AFP

Temores de que um conflito de décadas possa voltar a eclodir na fronteira entre Armênia e Azerbaijão vieram à tona na madrugada desta terça-feira (13/09), no horário local.

Segundo o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, dezenas de soldados do país morreram devido a ataques realizados por forças da nação vizinha na região fronteiriça de Nagorno-Karabakh: "Atualmente, temos 49 mortos e, infelizmente, este não é o número definitivo. Os combates continuam em uma ou duas direções", afirmou Pashinyan ao parlamento.

O Ministério da Defesa do Azerbaijão, por sua vez, registrou um mínimo de 50 perdas militares nos confrontos durante a noite. Após uma reunião com as Forças Armadas, o gabinete do presidente, Ilham Aliyev, divulgou um comunicado segundo o qual disse "provocações cometidas pelas forças armênias na fronteira foram repelidas, e todos os objetivos necessários foram cumpridos".

Segundo o Ministério da Defesa em Yerevan, as hostilidades teriam começado com forças azerbaijanas promovendo ataques de artilharia e drones em várias regiões do território armênio: "À 00h05 de terça-feira [17h05 de segunda-feira em Brasília], o Azerbaijão lançou um bombardeio intensivo, com artilharia e armas de grande calibre, contra posições militares armênias na direção das cidades de Goris, Sotk e Jermuk."

Segundo Baki, contudo, as forças armênias teriam realizado "atos subversivos em massa" ainda na noite de segunda-feira, através da instalação de minas terrestres e da movimentação de armas, perto das localidades fronteiriças de Dashkasan, Kalbajar e Lachin.

"As contramedidas tomadas pelo Exército do Azerbaijão em resposta à provocação dos militares armênios são locais e dirigidas contra elementos militares legítimos que servem como pontos de agressão", acrescentou o Ministério da Defesa azerbaijano.

O órgão também relatou que suas tropas foram "bombardeadas intensamente com armas de vários calibres, incluindo morteiros, por unidades do exército armênio". As forças armênias afirmam ter lançado uma reação "proporcional" aos ataques inimigos.

Comunidade internacional reage às agressões

As hostilidades entre Armênia e Azerbaijão geraram repercussão na comunidade internacional nesta terça-feira.

O governo armênio informou que apelará tanto à Organização do Tratado de Segurança Coletiva – bloco formado por antigos estados soviéticos e liderado pela Rússia –, quanto ao Conselho de Segurança da ONU.

O primeiro-ministro Pashinyan ligou tanto para os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, de quem a Armênia é aliada, da França, Emmanuel Macron, e do Irã, Ebrahim Raisi, quanto para o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

O gabinete de Pashinyan informou que as chamadas visaram informar sobre o que classificou de "atos agressivos do Azerbaijão contra o território soberano da Armênia" e exigir uma "reação adequada da comunidade internacional".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, não comentou o pedido da Armênia, mas disse que Putin faria "todos os esforços para ajudar a aliviar as tensões". O Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu que os dois lados "se abstenham de outra escalada e demonstrem comedimento'', com a esperança de que o cessar-fogo mediado por Moscou na manhã desta terça-feira seja assegurado.

Já o gabinete de Macron assegurou que levará a questão ao Conselho de Segurança da ONU, e também pediu que ambos os lados cumpram o cessar-fogo. Blinken alertou que "não pode haver solução que seja militar para o conflito. Defendemos o fim imediato de quaisquer hostilidades militares".

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, declarou ser "imperativo que as hostilidades parem e haja um retorno às negociações". Um enviado especial da UE viajou às pressas para a região.

A Turquia, que apoia o Azerbaijão, culpou Yerevan pelas hostilidades, mas também apelou por negociações de paz: "A Armênia deve cessar suas provocações e concentrar-se nas negociações de paz e cooperação com o Azerbaijão", escreveu no Twitter o ministro do Exterior Mevlut Cavusoglu.

Hostilidades desde o fim da década de 80

Os conflitos no enclave etnicamente armênio de Nagorno-Karabakh ocorrem desde 1988, na fase final da União Soviética, tendo provocado, desde então, diversos confrontos militares entre armênios e azerbaijanos.

O território foi controlado por separatistas armênios por quase 30 anos, até que o Azerbaijão recuperou o controle após uma guerra que durou seis semanas, em 2020, e que teve um cessar-fogo mediado pela Rússia.

Entre 1988 e 1994, os conflitos na região resultaram em 30 mil mortos e centenas de milhares de refugiados. Até 2020, as hostilidades estavam em grande parte congeladas, apesar de confrontos esporádicos.

Na primeira semana de setembro, a Armênia acusou o Azerbaijão de matar um de seus soldados num tiroteio na fronteira, enquanto os azerbaijanos afirmam que armênios têm atirado em seus militares, nos últimos meses.

Segundo o direito internacional, a região pertence ao Azerbaijão, mesmo que seja povoada predominantemente por armênios. Nem mesmo a Armênia ou a Rússia reconhecem Nagorno-Karabakh como um Estado independente.