O cessar-fogo alcançado após um acordo entre a Armênia e o Azerbaijão foi mantido nesta quinta-feira (15/09), depois de dois dias de combates que deixaram 176 solados mortos dos dois lados da fronteira.
O secretário do Conselho de Segurança da Armênia, Armen Grigoryan, afirmou que a trégua, possibilitada pela intermediação internacional, teve início às 08h00 desta quarta-feira (01h00 em Brasília). O acordo veio após o fracasso de um cessar-fogo anterior, intermediado pela Rússia na terça-feira.
O Ministério armênio da Defesa relatou que a situação na fronteira com o Azerbaijão se manteve calma, sem registros de violações da trégua. Até o momento, o governo azerbaijano não se pronunciou a respeito do cessar-fogo.
A pausa no conflito veio após dois dias de combates intensos que marcaram o mais grave episódio de violência, em quase dois anos, entre as duas nações, que se acusam mutuamente. O governo armênio atribui a Baku agressões não provocadas, enquanto para os azerbaijanos seu país apenas reagiu a ataques do outro lado da fronteira.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou nesta quarta-feira que 105 de seus soldados foram mortos desde a véspera, enquanto o Ministério da Defesa registrou 71 baixas.
O governo de Pashinyan pediu apoio militar à Rússia, sob um tratado de amizade entre os dois países, e também à Organização do Tratado de Segurança Coletiva – um grupo internacional nos moldes da Otan, capitaneado por Moscou, que inclui Belarus, Cazaquistão e Quirguistão.
O líder armênio, no entanto, disse não ver como possibilidade única uma intervenção militar, "uma vez que também há opções políticas e diplomáticas".
Premiê armênio acusado de traição
Esse pedido de ajuda deixa o Kremlin em posição delicada. Enquanto busca relações próximas com a Armênia, que abriga uma base militar russa em seu território, Moscou também tenta fortalecer os laços com o Azerbaijão, país rico em recursos energéticos.
Nesta quarta, Pashinyan declarou aos parlamentares de seu país que está pronto para reconhecer a integridade territorial do Azerbaijão num futuro tratado de paz, contanto que Baku abra mão do controle sobre as áreas já ocupadas por forças armênias.
"Queremos assinar um documento, em razão do qual muitos vão nos criticar e nos denunciar como traidores, e poderão até mesmo decidir nos tirar do poder. Mas nós seremos gratos se a Armênia conseguir como resultado paz e segurança duradouras", afirmou o primeiro-ministro.
Alguns oposicionistas viram na fala de Pashinyan uma propensão a ceder às exigências azerbaijanas e reconhecer a soberania sobre o território disputado de Nagorno-Karabakh. Milhares de manifestantes se dirigiram à sede do governo, exigindo a renúncia do primeiro-ministro, que acusam de traidor. Os protestos ocorreram na capital, Erevan, e em outras cidades.
Hostilidades desde o fim dos anos 1980
Os conflitos no enclave etnicamente armênio de Nagorno-Karabakh ocorrem desde 1988, na fase final da União Soviética, tendo provocado, desde então, diversos confrontos militares entre armênios e azerbaijanos.
O território foi controlado por separatistas armênios por quase 30 anos, até que o Azerbaijão recuperou o controle em 2020, após uma guerra que durou seis semanas e que teve um cessar-fogo mediado pela Rússia.
Entre 1988 e 1994, os conflitos na região resultaram em 30 mil mortos e centenas de milhares de refugiados. Até 2020, as hostilidades estavam em grande parte congeladas, apesar de confrontos esporádicos.
Na primeira semana de setembro, a Armênia acusou o Azerbaijão de matar um de seus soldados num tiroteio na fronteira, enquanto os azerbaijanos afirmam que armênios têm atirado em seus militares, nos últimos meses.
Segundo o direito internacional, a região pertence ao Azerbaijão, mesmo que seja povoada predominantemente por armênios. Nem mesmo a Armênia ou a Rússia reconhecem Nagorno-Karabakh como um Estado independente.