A 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, deu início, nesta quarta-feira (14), à série de oitivas arroladas no processo movido pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) contra o policial penal federal Jorge Guaranho. Indiciado por homicídio duplamente qualificado, com motivação política, o réu assassinou o petista Marcelo Arruda no último dia 9 de julho, após invadir a festa de aniversário da vítima aos gritos de "aqui é Bolsonaro".
Com o primeiro depoimento marcado para o início da tarde, a frente do Fórum de Foz do Iguaçu foi ocupada por familiares e amigos, tanto de Guaranho quanto de Arruda. Munidos de cartazes, ambos os grupos pediam por justiça.
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Para a mãe de Jorge Guaranho, Dalvalice Rocha, o filho bolsonarista não seria assassino, "mas, sim, vítima de uma tragédia que atingiu a todos". "Estão taxando meu filho como um assassino, e não foi o que aconteceu. Ele agiu em legítima defesa. Ele voltou ao local, sim, mas porque atingiram a mulher e o filho dele com pedras nos olhos. Falaram muita mentira, taxaram meu filho como assassino e terrorista, queremos a verdade", assegurou.
Laudo da Polícia Científica do Paraná confirmou que resquícios de terra foram encontrados no carro do policial penal. Porém, segundo o inquérito civil, Guaranho se deslocou até o aniversário de Arruda após saber que ali estaria acontecendo uma comemoração com temática do Partido dos Trabalhadores. As investigações afirmam que o bolsonarista foi ao local com a intenção de "provocar".
De acordo com o entendimento de Dalvalice, o filho "não invadiu a festa de ninguém". "Só queremos a verdade. Meu filho não é assassino. Ele não se lembra do que aconteceu. Após mostrarmos as imagens, ele ficou muito arrependido. Queremos justiça", reclamou.
A poucos metros da mãe do homem que matou o pai de seus filhos, a viúva Pâmela Silva rebateu as declarações. "A única justiça possível a ser feita é em nome do Marcelo Arruda. Ele estava na festa do seu aniversário, num lugar privado, entre amigos. Este sujeito não só invadiu a festa, como chegou ameaçando a todos. É no mínimo estranho ouvir dizer sobre justiça por quem tira a vida de outra pessoa. O Marcelo não está mais entre nós, e o assassino é o responsável", defendeu.
Para André Alliana, amigo de Marcelo Arruda, a posição da mãe do bolsonarista é compreensível, porém, não condiz com a realidade. "O Guaranho não acabou apenas com a família do Marcelo, mas com a dele também. É lamentável que o ódio e a intolerância política que vivemos tenha sido capaz de motivar um homem a se deslocar até uma festa de aniversário e matar o aniversariante por ser petista. Foi isso que aconteceu. Respeito a dor da mãe do assassino, mas a justiça que precisa ser feita é contra o responsável pela morte. Apenas isso", disse.
De acordo com informações obtidas com advogados, a previsão é que Jorge Guaranho seja ouvido nesta quinta-feira (15). O réu se encontra preso preventivamente no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Ainda serão ouvidas testemunhas arroladas pela defesa e acusação, além de peritos que atuaram no caso. Ao menos 16 pessoas deverão prestar depoimentos.
Intolerância
De acordo com estudo feito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) ocorreram 214 casos de violência política somente no primeiro semestre deste ano no Brasil. O dado revela aumento de 335% deste tipo de ocorrência nos últimos três anos.
No feriado da Independência, em Confresa, Mato Grosso, o trabalhador rural Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, foi assassinado por Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos. Oliveira é apoiador de Bolsonaro e Santos defendeu o ex-presidente Lula durante uma discussão.
Na última semana, em Curitiba, ocorreu uma reunião com organizações que defendem Direitos Humanos e o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) para discutir ações de enfrentamento à violência política, sobretudo neste período eleitoral.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini