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Por que a nova estratégia bolsonarista pode não funcionar

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Bolsonaro luta desesperadamente para conseguir chegar no segundo turno - Ivan Pacheco / AFP
Bolsonaro faz uma aposta errada no antipetismo, talvez motivado por setores do colunismo brasileiro

O governo já liberou bilhões em emendas, PECs e todo tipo de artifício para tentar comprar o eleitor. Acontece que nada disso mudou já que, por exemplo, a inflação dos alimentos segue em dois dígitos no acumulado, a renda média do brasileiro segue em queda e os empregos gerados são com menores salários. Além disso, dependendo da cidade, você está pagando dois litros de gasolina em um litro de leite!

Um levantamento do G1 mostra que Lula lidera principalmente entre eleitores de até 2 salários mínimos em regiões do mapa da fome, o que significa? Que o eleitor em sua maioria vê em Lula uma maior capacidade de resolver os seus problemas.

Ou seja, não tem nada melhorando, apenas ficando ligeiramente menos ruim. Por isso o pânico. Pânico que Bolsonaro e sua campanha tentam disfarçar com uma suposta empolgação.

O que comprova que a campanha do Bolsonaro está em pânico é o fato de Bolsonaro ter partido para o confronto direto no horário eleitoral. Deixa estridente que o desespero tomou conta.

O vídeo de campanha publicado nessa quinta-feira adiantou uma estratégia (entre muitas aspas) que deveria ser utilizada apenas no segundo turno, o motivo? O que eu listei acima: ELE NÃO TEM NADA PARA OFERECER.

Mas sendo bem honesto, é mais pânico do que estratégia. Não há planejamento algum nisso, pode funcionar? Pode, mas numa campanha como essa, agir na afobação pode acabar mal para o afobado.

Não faltam pesquisas internas qualitativas dos mais diversos partidos que apontam que o eleitor está completamente exausto de políticos buliçosos e campanhas agressivas, o que isso significa? Que pode ter até algum efeito e aumentar a rejeição do ex-presidente, mas provavelmente não se converterá em votos para o presidente que busca a reeleição e menos ainda na diminuição da sua rejeição colossal.

Geralmente os eleitores estão acostumados com campanhas mais propositivas no horário eleitoral e com ataques restritos as inserções de alguns segundos no meio da programação.

Além disso, Bolsonaro faz uma aposta errada no antipetismo, talvez motivado por setores do colunismo brasileiro que insistem em professar o mito de que o sentimento era a força motriz de 2018. Algo que não é verdade.

A força motriz de 2018 foi a crise de representatividade, o antipetismo foi um mero subproduto desse sentimento, não por menos, o PT conseguiu levar seu candidato ao segundo turno daquele ano.

Resolvemos essa crise de representatividade? Não. Só trocamos por outra crise: a social.

Com a fome e a miséria se espalhando pelo país, como uma epidemia, o brasileiro ficou mais preocupado em garantir um teto para dormir e uma refeição para comer do que em conjecturar os erros e problemas do nosso sistema político.

Não por menos, pesquisas como a Quaest mostram que a corrupção e congêneres são um grande problema para menos de 10% do eleitorado. Por isso, fica a pergunta: faltando menos de 20 dias para o primeiro turno e com o primeiro colocado nas pesquisas liderando com ampla vantagem, insistir num tema que é relevante para menos de 10% dos eleitores (segundo as pesquisas) vai proporcionar o retorno almejado em tempo hábil? Eu acredito que não.

Principalmente porque Bolsonaro tenta estimular o sentimento de crise de representatividade em sua nova estratégia “agressiva” e com isso, criar as condições ideais para surfar no antipetismo, porém, como eu disse: não há clima para isso.

Datafolha

Já o resultado de quinta-feira (15) do Datafolha segue "chato" para quem está na frente e perturbador para quem está atrás. Vale reforçar que essa pesquisa ainda não deu para captar alguns eventos mais recentes. O caso da Farmácia Popular, por exemplo, só saiu no Jornal Nacional de quinta-feira.

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A estabilidade da pesquisa e a vantagem do Lula em relação ao Bolsonaro são explicados por um ponto interessante: Lula segue à frente em grupos que são majoritários na sociedade (negros, mulheres, católicos, até 2 SM), além de grandes colégios (Nordeste).

Contrastante com Jair Bolsonaro que só vai bem no Sul do país e entre aqueles com renda acima de 5 salários mínimos, grupos com pouca representatividade dentro do eleitorado total. A exceção aqui é apenas o voto evangélico que está com Bolsonaro. Grupo onde Lula também conseguiu reduzir a sua desvantagem e está sabendo trabalhar bem.

Um dos segredos para a vitória do Lula ou "recuperação" do Bolsonaro, está na disputa pela classe média, que está acirrada. Esse grupo ainda tem uma representatividade "expressiva" no eleitorado e pode ajudar quem conquistá-lo. Aqui Lula está em uma tendência de alta.

Se Lula se concentra para vencer no primeiro turno com o voto útil, Bolsonaro luta desesperadamente para evitar isso e conseguir chegar num segundo turno.

Porém, como sempre repito, não adianta Bolsonaro sobreviver ao primeiro turno se chegar com uma diferença acima dos 4%. Nenhuma eleição, desde 89, que foi para o segundo turno vivenciou uma virada.

Acho que isso deixa claro o estado das coisas e explica por que Bolsonaro e seu entorno tentam disfarçar pânico com entusiasmo.

*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo