Com uma falsa moderação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscou usar seu discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (20) para promover sua campanha eleitoral e também tentou, sem sucesso, reverter seu isolamento internacional. A avaliação é do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes.
Em outras participações no palco mais importante da diplomacia mundial, o presidente brasileiro defendeu o "tratamento precoce" contra a pandemia de covid-19, agradeceu Deus pela "missão" de governar o Brasil e atacou indígenas. Neste ano, Bolsonaro voltou a mentir e tentou apresentar seu governo como um exemplo de saúde pública e de combate à corrupção, mas não atacou diretamente "países comunistas" ou citou "instituições internacionais" como propagadoras de informações falsas sobre a política ambiental.
“É um discurso que não é moderado, é um discurso envergonhado de certa forma porque a plateia sabe que vai ouvir platitudes. Então isso é o ponto principal. Ele disse até que o discurso iria ser parecido com 2019, mas o discurso dele é um conjunto de platitudes na sua grande maioria. É claro que isso se reflete no afastamento que os outros chefes de estado e de governo estão tendo, cuidado em relação ao Bolsonaro”, destaca Menezes em entrevista ao Brasil de Fato.
O professor da UnB lembra que Bolsonaro não tem agendas previstas com líderes de grandes economias. De acordo com a CNN Brasil, o presidente brasileiro encontrará os presidentes da Polônia, Andrzej Duda, e do Equador, Guillermo Lasso, durante sua estadia em Nova York, nos Estados Unidos. O pesquisador também destaca reportagens que apontam que o discurso foi revisado pelo marqueteiro de Bolsonaro na busca pela reeleição, Duda Lima, e também por Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Presidente @jairbolsonaro com Padre Paulo Araújo e Pastor Silas Malafaia dão bom dia aos brasileiros na porta do hotel, antes de irem para a ONU. pic.twitter.com/I4OLBbLSyt
— Eduardo Bolsonaro 22.22🇧🇷 (@BolsonaroSP) September 20, 2022
Bolsonaro já se reuniu com o presidente de extrema direita da Polônia em 2021, também após seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU. O presidente polonês é conhecido por propor proibir a adoção de crianças por casais homoafetivos e tem um histórico de posições preconceituosas. Em 2020, ele afirmou que a “ideologia LGBT” é “neobolchevismo”
"Ele não conseguiu agendar encontro com nenhum governo mais significativo, nenhum país mais significativo nas relações comerciais com o Brasil, nas relações políticas com o Brasil, portanto mostra que esse discurso é feito não porque ele é moderado, mas é um discurso que tem que ser melhor, tentar dar uma sofisticação nas estratégias de mentira", avalia Goulart.
Bolsonaro está em Nova York após participar das cerimônias de enterro da rainha Elizabeth 2ª, em Londres. Os jornais britânicos criticaram Bolsonaro por tentar usar o evento fúnebre como plataforma de campanha.
Edição: Arturo Hartmann