Integrante da Igreja Presbiteriana Betânia de Niterói (RJ), Valéria Vilar de Barros Araújo tem orgulho ao falar das mudanças pelas quais sua família passou nos primeiros 15 anos dos anos 2000. Foi em 2008, por exemplo, que ela se formou em Psicologia, assumiu a área de uma regional de saúde mental do município e ainda viu as duas filhas terminarem as faculdades de Enfermagem e em Relações Públicas.
"Sou filha de pais semianalfabetos, mas que sempre investiram na educação dos filhos. Meu marido é agente de redução de danos, trabalha com pessoas em situação de rua, um projeto do SUS. Somos uma família cristã protestante, e seguimos acreditando nos dois primeiros mandamentos: amar a Cristo sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo. Continuo na luta e acreditando que amanhã vai ser melhor", conta ela.
Leia mais: Universidades federais perdem 12% do orçamento durante governo Bolsonaro
Valéria atribui as melhoras socioeconômicas na sua família e no seu entorno ao próprio esforço, mas também aos investimentos em educação feitos nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2015).
"Consegui comprar meu carro, viajar de avião pela primeira vez, o que para algumas pessoas é comum, mas para mim era um sonho. Fiz pós-graduação na UFF, minhas filhas se formaram. Graças a todo o investimento que foi feito em educação, meu orçamento foi melhorando e tive o prazer de poder ter formado duas filhas, hoje bem colocadas no mercado de trabalho", conta ela.
Investimentos
Foi nessa época que o país teve mais recursos voltados à área. Entre 2002 e 2015, os investimentos em educação pelos governos federais brasileiros passaram de R$ 49,3 bilhões para R$ 151,7 bilhões. No meio desse período, foi criado o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que recebeu quase R$ 1 bilhão em 2006 e chegou a R$ 15 bilhões em 2015.
Filha de Valéria, Mariana de Barros Araújo, de 28 anos, conversou com o Brasil de Fato e relatou, com entusiasmo, a experiência que teve desde a entrada na universidade até os frutos que colheu profissionalmente por conta da educação pública de qualidade. Pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), criado em 2010, ela ingressou na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) até conseguir transferência para a Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para Mariana, que teve bolsa de ajuda de custo de R$ 400 da UFF, na época, por vulnerabilidade socioeconômica, refeições gratuitas no bandejão e, de quebra, foi inserida em projetos de pesquisa e extensão dentro da universidade, o ensino superior público, com as aulas em horário integral, foi "um divisor de águas" na sua vida.
"Foi uma ajuda fundamental para eu conseguir não só me manter como ter a vida de uma jovem que conseguisse se dedicar aos estudos, fazer o que gostaria de fazer como jovem, ajudou a pagar passagem, comprar materiais, com gastos pessoais. Durante a faculdade, pude ter acesso à pesquisa, à monitoria, a projetos de extensão e a diversas atividades que são o diferencial das universidades públicas brasileiras", lembra a enfermeira.
Perto do fim da graduação, Mariana participou de um projeto de extensão da UFF, com todas as despesas pagas, para passar um mês em Oriximiná, no Pará, região próxima a aldeias indígenas. Lá, ela pode exercer na prática a prestação de cuidados à população local.
"Conheci a diversidade social e cultural do país. E só pude ter toda essa experiência por ser aluna de uma universidade federal. É algo que impactou minha trajetória profissional, mas também minha vida pessoal", conta ela, que logo em seguida prestou concurso para a UFF e fez a residência por dois anos com bolsa do Ministério da Saúde, se especializando em gestão saúde pública com ênfase em atenção primária.
"Quando entrei no mestrado, já no governo Bolsonaro, houve muitos cortes de verbas para as instituições públicas, para a pesquisa, e o número de bolsas para as universidades diminuiu muito mesmo. Nem todo mundo que precisava de bolsa conseguia por conta do número muito limitado", relata Mariana, já sobre a história mais recente da educação no país.
Do ensino ao mercado de trabalho
A melhoria de vida também foi testemunhada pela pastora Marta Sueli Lece da Silva, de 64 anos e moradora de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, e pela família, composta por três filhos, nove netas e agora um bisneto de sete meses. Foi na época de governos petistas, como ela salienta, que ela conseguiu melhorar a renda com mais trabalho e comprar um terreno para construir sua casa.
"Cozinho nas casas, faço almoço e jantares. Tinha dia que eu trabalhava em três casas diferentes, eram jantares todo fim de semana. Foi na época do governo Lula que consegui juntar dinheiro para comprar um terreno em que comecei a construir, mas parei porque começou a dificuldade dos dias de hoje, então torço para voltar aquela época", explica Marta.
Na entrevista ao Brasil de Fato, ela comemorou o acesso a lugares em que sua família não entrava antes: "Vi mudanças na educação da minha família, na nossa alimentação, na cultura... A gente passou a ir ao cinema, fui ao museu com quase 60 anos, a cultura passou a entrar na minha casa. E tive a oportunidade de viajar para fora".
Com mais renda, Marta, que mora no bairro Porto Madama e é pastora da Igreja Pentecostal Cristo é a Solução, no bairro de Porto Velho, em São Gonçalo, conseguiu pagar cursos para os filhos e as netas e estimulá-los a estudar.
"No governo do PT, meus filhos aproveitaram o Enem, o Prouni, tudo para melhorar a escolaridade. Hoje, meu filho mais velho, que fez Geografia, já está no doutorado. Minha neta do meio faz Farmácia e a mais velha faz Sociologia. A vida deles melhorou muito porque fica mais fácil conseguir um bom trabalho", reforça a pastora.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse