RIO TELES PIRES

Campanha expõe violações de direitos em "rio mais impactado por hidrelétricas da Amazônia"

Movimentos sociais e indígenas denunciam projeto de hidrovia que impactará diretamente 1 milhão de pessoas em 10 cidades

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
Mulheres lideranças do povo Munduruku caminham sobre pedrais de hidrelétrica no Teles Pires - Divulgação/Coletivo Proteja

Movimentos sociais, ambientais e indígenas lançaram uma campanha para salvar o rio Teles Pires, o maior curso d’água privatizado por meio de usinas hidrelétricas na Amazônia. O site telespiresresiste.info reúne denuncias de violações cometidas pelos empreendimentos e fortalece a luta por direitos dos atingidos.

Os principais prejudicados são assentados da reforma agrária, indígenas, pescadores e a população urbana de mais de 10 cidades da Amazônia, que dependem do rio. Caso um projeto de hidrovia seja colocado em prática, calcula-se que 1 milhão de pessoas sejam atingidas diretamente. 

As organizações expõem ainda quem ganha com a iniciativa. Os lucros bilionários com a privatização do rio vão para empresas de sete países, bem longe da região impactada, considerada a de maior vulnerabilidade na Amazônia, entre os estados de Mato Grosso e Pará. 

"Na composição de acionistas dos consórcios que controlam as usinas e o lucro obtido com as barragens no Teles Pires estão fundos de investimento internacionais, investidores privados, bancos, fundos de pensão e empresas estatais de países como França, Noruega, Portugal, Espanha, China, Estados Unidos e Catar", informa o site.

O site da campanha Teles Pires Resiste foi lançado nesta semana por Coletivo Proteja, Movimento dos Atingidos por Barragens do Mato Grosso (MAB/MT), Associação Indígena DACE do povo Munduruku e Instituto Centro de Vida (ICV). 

Hidrovia do agronegócio pode matar o rio 

Há quatro usinas hidrelétricas em operação desde 2019 no rio Teles Pires. Elas ficam nas cidades de Sinop, Cláudia, Colíder, Alta Floresta, Paranaíta, Sorriso, Ipiranga, Itaúba e Nova Canãa do Norte, todas no Mato Grosso. A exceção é a usina de São Manoel, que na divisa entre Pará e Mato Grosso, nos municípios de Jacareacanga (PA) e Paranaíta (MT).

O rio Teles Pires ajuda a formar a bacia do rio Tapajós, que, por sua vez, deságua no rio Amazonas. Antes conhecido por suas corredeiras e cachoeiras, o Teles Pires está se tornando um grande lago, transformado pelo empreendimentos. 

Ao longo do curso do rio, movimentos sociais, associações comunitárias, sindicatos, coletivos e pessoas denunciam ainda um projeto ainda mais ousado: a Hidrovia Teles Pires Tapajós.

O projeto de hidrovia depende da construção de mais hidrelétricas ao longo do rio. Estão planejadas 29 grandes usinas e 80 pequenas barragens, que impactariam diretamente 1 milhão de pessoas, incluindo 10 povos indígenas.

“O cenário que envolve a política energética do Brasil tem raízes na ditadura e em seu projeto desenvolvimentista exploratório. A construção de hidrelétricas  é uma das principais heranças desse período”, diz Jefferson Nascimento, coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens de Mato Grosso (Mab/MT). 

Edição: Rodrigo Durão Coelho