Algumas notícias vêm mostrando nos últimos dias que aliados importantes de Jair Bolsonaro (PL) estão sentindo o golpe dos números revelados nas últimas pesquisas de intenção de voto para a presidência da República. De maneira o mais discreta possível, o hoje principal homem do Centrão no governo, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), anunciou que está se licenciando do governo para cuidar da campanha eleitoral da sua legenda no estado.
A informação não é pouca coisa. Nogueira é o principal coordenador da campanha à reeleição de Bolsonaro. Na Assembleia Geral das Nações Unidas, esta semana, podia ser visto em posições normalmente ocupadas pelo ministro das Relações Exteriores do país. Mas, segundo ele mesmo, entrará de férias para tratar de assuntos políticos até o primeiro turno das eleições.
“Como eu tenho direito a férias, vou tirar aqui quatro ou cinco dias de férias na próxima semana para me dedicar à eleição do presidente no meu Piauí” – afirmou Nogueira à CNN Brasil. Em sua coluna, a jornalista Andréia Sadi, do g1, informou hoje (23) que o ministro vai ao Piauí para trabalhar na campanha de sua ex-mulher, Iracema Portella (PP), que é candidata a vice na chapa de Sílvio Mendes (União Brasil) ao governo estadual.
Arthur Lira protesta
Correligionário do ministro da Casa Civil e o mais poderoso político do Congresso Nacional hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), protestou ontem ante as pesquisas de intenção de voto.
“Nada justifica resultados tão divergentes dos institutos de pesquisas. Alguém está errando ou prestando um desserviço. Urge estabelecer medidas legais que punam os institutos que erram demasiado ou intencionalmente para prejudicar qualquer candidatura”, postou Lira no Twitter. “Não podemos permitir que haja manipulações de resultados em pesquisas eleitorais. Isso fere a democracia”, acrescentou.
Depois de matéria da Folha de S. Paulo segundo a qual Lira está endossando Bolsonaro e fazendo insinuações contra institutos, o deputado se defendeu e recuou discretamente, embora mantendo o tom de desconfiança. “Não acusei nenhum instituto de manipular pesquisa. Apenas, como milhares de brasileiros, não entendo tantas divergências de números. Devemos agir dentro da legalidade para evitar manipulações. Quem vestiu a carapuça precisa se explicar”, escreveu no Twitter.
Agressão explícita
Dias antes, o ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fábio Faria, havia sido mais agressivo, e explícito, contra o Ipec, que mostrava quadro muito favorável a Lula e possibilidade real de vitória do ex-presidente no primeiro turno. Ele chegou a pedir o fechamento da empresa. “TSE, anote esses números que o Ipec está dando, que no dia 02 de outubro a população vai cobrar o fechamento desse instituto. Chega desses absurdos com pesquisas eleitorais!!! A hora da verdade está chegando”, ameaçou.
Além de mostrar que o bolsonarismo está sentido o golpe dos números desfavoráveis das pesquisas, a postura de Lira e Fábio Faria alimentam o crescente clima de agressividade de “militantes” contra pesquisadores.
Ataque a pesquisador
Na terça-feira (20), um pesquisador do instituto Datafolha foi agredido com socos e pontapés por um apoiador de Bolsonaro. O instituto diz que a hostilidade contra as pessoas que estão apenas trabalhando é crescente. O professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Wilson Gomes se indignou com o caso: “O que falta mais acontecer agora que estamos à mercê de uma espécie de delírio psicótico coletivo dos bolsonaristas?”, questionou (leia aqui).
Na noite de ontem (22), o Datafolha divulgou pesquisa de acordo com a qual Lula ampliou para 14 pontos percentuais a vantagem sobre Bolsonaro, que agora é de 45% a 33%.
Na segunda-feira, o Ipec – que provocou a ira de Fábio Faria – havia divulgado dados ainda mais favoráveis ao petista. Segundo o estudo, o candidato da coligação Brasil da Esperança, havia ampliado em um ponto a vantagem na corrida presidencial, chegando a 47% das intenções de voto, contra os mesmos 31% de Bolsonaro na pesquisa anterior.