Nesta semana, Bolsonaro pode ter assistido ao funeral de sua candidatura
As pesquisas publicadas essa semana revelaram que o maior temor da campanha de Jair Bolsonaro ocorreu: o movimento da “boca de jacaré” que é quando o primeiro colocado começa a se afastar ainda mais do segundo colocado.
A Ipec desta última segunda-feira (19) mostrou que Lula poderia vencer no segundo turno, avançando em diversos segmentos da sociedade, algo que foi confirmado pela Datafolha desta quinta-feira (22) e o pior de tudo: Bolsonaro ainda oscilando negativamente (1%) no segundo turno no Ipec e se mantendo estagnado nos 30% em quase todas as pesquisas, enquanto, mais uma vez, Lula passa dos 50%. Isso se a disputa chegar no segundo turno! A pesquisa Ipec mostra que Lula pode ganhar no primeiro turno.
É claro que isso disparou o desespero no governo, que ainda pela manhã teve reações já com a pesquisa FSB (onde Lula também ampliou a sua vantagem), minutos após a publicação da pesquisa FSB fez uma série de posts elencando as “conquistas” do seu governo, algumas horas depois tivemos Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, insistindo na fantasia de “moderado” da sua família.
Leia também: Lula para Ratinho: "Até você era mais feliz no meu governo"
Após o TSE aceitar o pleito de militares para as eleições deste ano, Flávio Bolsonaro afirmou na coluna do jornalista Guilherme Amado que risco de fraude passa a ser "quase zero". Ele só se esqueceu que seu pai disse no dia anterior que se não ganhar no 1º turno, "é porque tem coisa errada".
Tudo isso embalado numa semana em que tivemos o anúncio de mais uma redução nos combustíveis e essa semana, até mesmo no gás de cozinha.
Se as reduções estavam restritas apenas à divulgação das pesquisas Ipec e Datafolha, o desespero se tornou tanto que até mesmo a pesquisa FSB movimentou a Petrobras que anunciou uma redução de 5,8% do preço do diesel nas refinarias.
E se o desespero já estava gritante na manhã segunda-feira, a coisa só piorou após a publicação da pesquisa Ipec.
Nos grupos bolsonaristas não faltaram ataques contra os institutos de pesquisa e teorias da conspiração, o que terminou sendo vocalizado pelo ministro das comunicações, Fábio Faria, que ameaçou o Ipec e de maneira extremamente patética pediu que o TSE "feche o instituto após as eleições" e ainda disse:
"Chega desses absurdos com pesquisas eleitorais! A hora da verdade está chegando", disse o ministro.
E se do lado bolsonarista o ranger dos dentes e a gritaria imperam, o lado petista Lula segue sem se importar com os chiliques do seu rival e amplia ainda mais seu círculo de alianças atrás do voto útil.
O ex-presidente Lula (PT) reuniu, na segunda-feira, oito ex-presidenciáveis em um encontro em São Paulo para formar uma “frente ampla pela democracia”. Acompanharam o presidenciável desde antigos aliados até opositores históricos, de diferentes espectros políticos.
No encontro, os participantes reforçaram que era preciso deixar desavenças políticas e pessoais para trás em nome da defesa da democracia. Ex-ministros de Lula, Cristovam, Marina e Meirelles se afastaram do ex-presidente após deixarem o governo e só se reaproximaram recentemente.
O que chamou a atenção de todos foi ver que Lula conseguiu colocar Luciana Genro e Boulos ao lado de Henrique Meirelles. O encontro rendeu uma imagem que pode ilustrar muito bem os sinais destes tempos, que é o lendário Meirelles fazendo o ‘L’ de Lula.
Tucanos com estrela no peito
Na quarta-feira (21) o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, declarou apoio a Lula para presidente logo no primeiro turno, a chapa Lula-Alckmin recebeu nesta quinta-feira (22) dois importantes apoios: o do embaixador Sérgio Amaral, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, e o do também embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero, que ocupou a Fazenda no lançamento do Planalto Real.
O movimento acontece na mesma semana em que outros dois tucanos e ex-ministros de FHC declaram voto em Lula, José Gregori e Miguel Reale Júnior.
Além disso, essa semana o Diretor-geral da fundação FHC, Sergio Fausto, declarou voto no Lula e disse que “estamos diante da mais séria ameaça à democracia desde que ela foi reconquistada quase 40 anos atrás”.
Enquanto ala do PSDB de Goiás deve ensaiar apoio à chapa Lula-Alckmin em uma articulação comandada pelo ex-governador de São Paulo.
É nesse contexto em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz uma série de tweets onde pede voto em defesa das instituições, em recado velado contra Bolsonaro embora não manifeste apoio explícito a Lula.
O PSDB, partido em que FHC é presidente de honra, já tem candidata à presidência, a senadora Simone Tebet. Ele poderia ter citado ela nominalmente em sua nota, afinal de contas, é a candidata do seu partido. Mas não o fez. E o PSDB ainda precisou emitir nota.
Acho que todos já entenderam o que isso significa.
Enquanto Lula constrói um amplo arco de alianças, ainda temos que aturar outros candidatos isolados que afirmam, com tons messiânicos, que vão romper uma suposta polarização (que não existe). Afinal de contas, que polarização é essa onde um lado só mata e o outro só morre?
Clima ruim no exterior
Se as coisas não estão boas para o presidente no Brasil, no mundo elas vão piores ainda!
Parece que essa arruaça do presidente pegou bem mal na comunidade internacional, que já estava perplexa com a passagem de Bolsonaro em Londres e acionou o gatilho da expectativa de mudança de poder no Brasil pelo resto do mundo.
Segundo o jornalista Jamil Chade, governos da Europa já orientaram suas chancelarias a manter o mínimo de contato possível com o Brasil e adiar qualquer projeto.
Segundo o jornalista, um diplomata português admitiu que, já há algum tempo, Lisboa apenas mantém a relação com Brasília por entender que não há como promover uma ruptura na relação entre os dois países.
Já na CNN Brasil, o jornalista Caio Junqueira revelou que Lula se reuniu essa semana com representantes do Departamento de Estado dos EUA. Algo que foi confirmado pela embaixada dos EUA.
Chance de vitória de Lula em primeiro turno antecipou encontro que deveria ocorrer entre o primeiro e um eventual segundo turno. Americanos defenderão respeito ao resultado eleitoral. Notem que o encontro ocorreu enquanto Bolsonaro estava nos EUA.
A ideia dos americanos é assegurar apoio ao resultado eleitoral e já abordar possíveis temas de uma agenda bilateral, como democracia e meio ambiente — temas centrais na agenda do presidente americano Joe Biden.
O que isso significa? Que até mesmo os americanos já estão enxotando Bolsonaro e já dão o presidente como derrotado nas eleições.
Bolsonaro pode não ter assistido apenas ao funeral da rainha Elizabeth, mas também ao funeral da sua própria candidatura.
*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo