Estudo inédito

"Avisamos bastante que isso aconteceria", lamenta secretária da ANA sobre aumento da fome

A agrônoma Flavia Londres analisou a insegurança alimentar no país a partir do corte de políticas públicas para o setor

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Famílias têm dificuldade para morar e pagar alimentação na atual crise - Foto: Giorgia Prates
Esse aumento dramático da fome é resultado de ações deliberadas promovidas pelos governos

O desmonte de políticas públicas federais de apoio à agricultura familiar e à agroecologia deve ser analisado diante da realidade de 33,1 milhões de pessoas em situação de fome no país, apontada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan). Essa reivindicação vem ecoando nas pautas de movimentos populares e redes que atuam no setor. 

Para a agrônoma Flávia Londres, integrante integrante da secretaria executiva da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), além dos contextos de pandemia de covid-19 e crise econômicas, há uma política intencional desconsiderando a efetividade de importantes ações no setor que impactam no quadro de insegurança alimentar. Ela exemplifica com os cortes no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e chamadas de Assistência Técnica e Extensão Rural com enfoque agroecológico.

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Diante do incômodo, a agrônoma ressalta que o cenário não é novidade é que, enquanto rede agroecológica os avisos não são recentes.    

"Esse aumento dramático da fome é resultado de ações deliberadas promovidas pelos governos, principalmente a partir de 2016, quando aconteceu o golpe jurídico, parlamentar e midiático que destituiu a presidenta Dilma Rousseff. E esse processo foi se agravando, em 2018, com a eleição do presidente fascista e de ultradireita Bolsonaro", lembra Flávia Londres, que participou da edição do Bem Viver desta segunda-feira (26). 

A partir do estudo "Brasil, do flagelo da fome ao futuro agroecológico", Flavia afirma que a pandemia de covid-19 é um marco de descontinuidade das políticas públicas reivindicadas. O levantamento apresenta e analisa os principais atos de desmonte de políticas públicas federais de apoio à agricultura familiar e à agroecologia e de promoção da segurança alimentar e nutricional no país. 

"Com a pandemia, isso [a implementação de políticas para o setor] se desestruturou em quase todos os municípios do Brasil. Isso tem um impacto na produção de alimentos muito grande. Quando você não investe na agricultura familiar e na produção de alimentos, é evidente que vamos ter um impacto importante nos sistemas de abastecimento alimentar", ressalta a agrônoma, explicando o setor do agronegócio não prioriza a produção de commodities ao invés de alimentos.   

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O estudo "Brasil, do flagelo da fome ao futuro agroecológico" está disponível no site da ANA e foi desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Livre de Berlin. Para Flávia, o documento reforça a reivindicação coletiva que vem sendo feita há anos.  

"É uma compilação e uma análise de dados com fontes muito rigorosas de documentos oficiais e da imprensa. É uma avaliação bastante rigorosa e acadêmica", afirma Flavia. 

Flávia também destaca que a luta agroecológica contra a fome vai além da questão nutricional.  

"Quando estamos defendendo a proposta da Agroecologia e de políticas públicas para promoção da agroecologia, é importante lembrar que não estamos falando só de produzir sem veneno, sem sementes transgênicas e sem degradar o meio ambiente. Na nossa concepção, Agroecologia está diretamente ligada à qualidade de vida da população no campo e nas cidades, nas relações justas de trabalho e na sociedade", ressalta. 

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Edição: Daniel Lamir