Esta luta ainda é incerta, e o perigo existe
Honestidade é apreciada, confiança é conquistada, lealdade é retribuída e respeito é merecido.
Na necessidade, prova-se a amizade.
Sem perigo não se faz façanha.
Sabedoria popular portuguesa
1. Nesta eleição se decidirá se o PSOL será capaz ou não de superar a cláusula de barreira e continuar existindo. Esta luta ainda é incerta, e o perigo existe. Chegou a hora de pedir voto útil para Lula, para decidir no primeiro turno a derrota de Bolsonaro. Mas, também, de pedir voto útil para deputados, em nome da amizade construída nos últimos seis anos, para que o PSOL possa sobreviver. Se você quer a presença de uma esquerda, ao mesmo tempo, apaixonada pela radicalidade de todas as causas justas, mas responsável, inspiradora de uma imaginação revolucionária, mas amadurecida, irreverente diante do absurdo da irracionalidade do capitalismo, mas lúcida, considere eleger deputados do PSOL. Acontece que só uma parcela ínfima do povo de esquerda já decidiu em quem irá votar para deputado, e o perigo é real. As eleições gerais no Brasil foram sempre ordenadas pela importância da definição presidencial. Mas a eleição deste ano é diferente, até atípica. Embora não tenha ocorrido uma mudança de regime, os quatro anos de mandato de Bolsonaro, um neofascista à frente de um governo de extrema-direita, foram uma ameaça bonapartista permanente às liberdades democráticas. Bolsonaro fez incontáveis declarações golpistas no cercadinho do Palácio da Alvorada; organizou manifestações de apoio ao projeto de autogolpe, como nos dois últimos sete de setembro; e instrumentalizou o apoio majoritário que o centrão lhe garantiu no Congresso Nacional ao serviço de uma estratégia golpista, como a denúncia da lisura do processo eleitoral e a exigência de apuração paralela pelas Forças Armadas. Enfim, são eleições em contexto anormal.
2. Não surpreende, portanto, que a atenção das massas populares esteja concentrada no desfecho da luta contra Bolsonaro que se expressa através da candidatura de Lula. Mesmo as eleições para governadores desperta muito menos interesse. Uma semana antes de 2 de outubro metade da população ainda não decidiu sequer em quem votar nos estados. É verdade que a escolha de candidatura nas eleições para deputados sempre foram deixadas para a “última hora”. Mas este ano será ainda pior. Acontece que o PSOL, em função do perigo representado por Bolsonaro, não apresentou, pela primeira vez, candidatura à presidência. Tampouco o fez para governador em São Paulo, onde o PT apresentou a candidatura de Fernando Haddad com condições de vitória, e no Rio de Janeiro, em que Marcelo Freixo, mesmo tendo rompido como PSOL para uma adesão, por razões eleitorais, ao PSB, assim mesmo recebeu apoio. O PSOL perdeu visibilidade de candidaturas majoritárias. Este giro tático foi feito com máxima responsabilidade, mas não foi indolor, politicamente.
3. A eleição do Congresso Nacional e, em outra escala, para as Assembleias Legislativas, terá, também, imensa importância. Precisamos eleger ativistas populares combativos de esquerda, e isso não é nada fácil. Infelizmente, o PSOL tem somente oito deputados federais. Não é o bastante para superar a cláusula de barreira. Se não crescer, perderá as condições objetivas de preservação plena da legalidade. O parlamento no Brasil tem, historicamente, uma maioria muito reacionária. É assim porque foi introduzida, para a definição de vagas pelos Estados, uma cláusula de piso mínimo de sete deputados, para os pequenos, como Acre, Amapá, e Roraima, por exemplo, e, pior ainda, de teto máximo para São Paulo, que tem setenta, mas deveria ter mais de 110, o que produz uma absurda distorção de representação que prejudica, essencialmente a esquerda e, dentro da esquerda, a ala mais radical. Esta deformação monstruosa, embora indefensável, permanece.
4. Será importante eleger uma forte bancada de esquerda e, dentro dela, de militantes do PSOL, por três razões fundamentais. Primeiro, porque a derrota eleitoral de Bolsonaro não equivale a uma derrota irreversível do bolsonarismo. A corrente neofascista conquistou implantação social e capilaridade nacional. Sem uma desmoralização política irrecuperável, que poderia ocorrer somente se Bolsonaro vier a ser investigado, condenado e preso, continuarão ativos, e terão um ponto de apoio na bancada fascistoide que deve chegar ao Congresso Nacional. Têm que ser detidos. Segundo, porque é essencial que a bancada de esquerda seja maior que a bancada fascista, porque a relação política de forças no Congresso conta e muito. Terceiro, porque é, também, vital que o PSOL possa superar a cláusula de barreira para poder sobreviver, institucionalmente. Sem essa votação, o PSOL passa a ser um partido sem condições de representação parlamentar. Isso significa eleger, pelo menos 12 deputados. Teremos que conquistar um aumento de 50% de crescimento, como mínimo. Quem é de esquerda deve ser consciente que este desafio é real. Quem deseja que o PSOL sobreviva, deve ajudar a eleger deputados do PSOL.
5. O sentido da existência de um partido de esquerda é que seja um instrumento útil para a representação dos interesses de classe dos trabalhadores. O PSOL foi uma ferramenta leal na construção da Frente Única de Esquerda que organizou nos últimos três anos a resistência contra Bolsonaro. Será um ponto de apoio para garantir a revogação do legado de contrarreformas desde o golpe institucional que derrubou Dilma Rousseff: a trabalhista, a das terceirizações, a do teto dos gastos, a do ensino médio, a previdenciária. Precisamos eleger militantes honestos, abnegados e honrados, radicais na luta contra a exploração e a opressão. Eleger mulheres negras que sejam porta-vozes da herança de Marielle Franco. Eleger as feministas que estiveram á frente do #elenão. Eleger lideranças indígenas que se levantarão por aqueles que deram a vida pela defesa da Amazônia. Eleger os quadros do movimento LGBTQIA+ que estiveram na primeira linha da trincheira contra o bolsonarismo. Precisamos garantir a eleição de socialistas revolucionários para o Congresso. A esquerda anticapitalista é necessária. E faz a diferança.
Edição: Vivian Virissimo