O último encontro entre os principais candidatos ao governo de São Paulo, em debate promovido pela Rede Globo, foi, mais uma vez, morno. O líder das pesquisas de intenção de voto, Fernando Haddad (PT), e os postulantes que buscam uma vaga em um provável segundo turno contra o petista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB), se confrontaram na noite desta terça (27) em diversos momentos, mas o clima raramente esquentou.
Tarcísio abriu o debate com pergunta para Haddad sobre geração de emprego. Aproveitando a "levantada", o petista criticou medidas do governo Garcia (antes comandado por João Doria), como aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de alguns produtos, o congelamento do salário mínimo no estado e a queda no investimento público. Tarcísio, na tréplica, tentou atacar petistas e tucanos citando uma suposta melhora recente na economia do país.
Haddad, o segundo a perguntar, acionou Tarcísio para deixar clara a ligação do candidato do Republicanos com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao defender o governo federal, o ex-ministro da Infraestrutura foi mais um a atacar Doria e Garcia. Haddad, por sua vez, criticou cortes do governo Bolsonaro em programas em defesa da saúde da mulher, no Farmácia Popular e no Minha Casa, Minha Vida. E reforçou o antagonismo entre o atual governo tucano paulista e o governo federal. Parceiros na campanha eleitoral de 2018, Doria e Bolsonaro romperam logo no início dos mandatos.
Ignorado pelos principais adversários na primeira rodada, coube a Garcia perguntar a Elvis Cezar (PDT) e responder questionamento de Poit (Novo). Ainda assim, tentou entrar na disputa direta, e citou Haddad e Tarcísio e afirmou que a "briga política" é prejudicial ao estado. De quebra, acionou a velha rivalidade entre paulistas e cariocas: "aqui quem manda é a polícia, e não a milícia, como no Rio de Janeiro". Vale lembrar que Tarcísio é carioca, e vem recebendo duras críticas pela falta de relação com o estado de São Paulo.
Segundo bloco: "Obras de papel"
A segunda rodada de perguntas, com temas sorteados pelo apresentador César Tralli, começou com Elvis Cezar acionando Haddad em uma pergunta com a temática meio ambiente, focada no rio Tietê. Após criticar Garcia, que afirma ter despoluído o rio, o candidato petista afirmou que "não podemos privatizar a Sabesp [companhia de saneamento do estado], isso vai aumentar a conta de água do usuário, e temos de usar a Sabesp com inteligência, com parcerias público-privadas", disse. Ao encerrar a fala sobre o assunto, citou o apoio de Marina Silva (Rede), candidata a deputada federal. Quando teve a oportunidade de fazer uma pergunta, Haddad consultou o próprio Elvis sobre programas habitacionais.
O primeiro momento de embate direto entre os favoritos no segundo bloco foi com Garcia e Tarcísio. O tucano lembrou que ganhou direito de resposta na Justiça após crítica do candidato bolsonarista sobre supostas obras inacabadas. Repetindo o discurso habitual, Tarcísio citou obras cuja autoria o bolsonarismo requisita (mesmo tendo realizado apenas ínfimas parcelas dos projetos). "O Tarcísio fala, fala, mas as obras dele são de papel. Ele inaugurou 18 quilômetros de estradas aqui no estado", cutucou o tucano.
Terceiro bloco: "Esconder quem você é"
"Tarcísio, fica tranquilo que não vou perguntar onde você vota". O gracejo de Elvis Cezar, em nova referência à falta de relação do candidato bolsonarista com o estado de São Paulo, abriu a terceira rodada de perguntas, que foi um pouco mais animada que as anteriores.
Além de citar o episódio em que "esqueceu" o lugar onde votava, durante entrevista televisiva, Tarcísio teve que se explicar sobre o baixo volume de investimentos do governo Bolsonaro em estradas paulistas, alegando que isso se deveu à baixa malha rodoviária administrada pelo poder público federal no estado. Elvis citou ainda as relações de Tarcísio com correligionários como Douglas Garcia, que assediou a jornalista Vera Magalhães nos bastidores do debate realizado pela Band.
Outra tentativa de constrangimento foi quando Poit citou fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao Programa do Ratinho, do SBT, em pergunta a Haddad. Na ocasião, Lula disse que Bolsonaro era "ignorante", e citou a expressão "capiau do interior de São Paulo". O candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes afirmou que o presidenciável é vítima de preconceito, e que a fala foi tirada de contexto.
Tarcísio partiu para o confronto com Garcia, afirmando que o atual governador chama para si os feitos positivos do governo tucano e tenta se afastar de João Doria quando consultado sobre problemas do governo. Sem citar o antecessor e parceiro de chapa na eleição de 2018, Garcia voltou a afirmar que o bolsonarista não vive no estado e a cobrá-lo pela falta de parceria entre o governo federal e os paulistas.
Ao encerrar a participação no bloco, o tucano deu a Poit uma deixa para falar sobre a "briga política", e citou o que chamou de "dobradinha" entre Haddad e Tarcísio no debate, supostamente para isolá-lo da disputa. "Sou um governador independente", disse Garcia.
Seguindo as regras do debate, coube a Haddad fazer uma pergunta a Elvis. Porém, o petista citou Garcia nominalmente, lembrando, por exemplo, a antiga parceria entre o atual governador e o ex-prefeito da capital paulista Gilberto Kassab (PSD), relação que ele hoje tenta esconder. "Você tem que parar de esconder quem você é", afirmou o petista ao tucano.
Quarto bloco: "Trata mal as mulheres"
Na última rodada de perguntas, os temas voltaram a ser sorteados. Poit, que ao se apresentar aos eleitores defendeu pautas ligadas ao bolsonarismo, como o apoio ao porte de armas e a contrariedade ao aborto, deu espaço no último bloco para o candidato oficial do atual presidente falar sobre "combate à corrupção". Ao receber o presente, Tarcísio citou medidas que, segundo ele, ajudaram o governo a combater a corrupção, em um combate que só o próprio bolsonarismo viu.
Na sequência, coube a Tarcísio o tema "diversidade". Ele escolheu Haddad, que aproveitou a oportunidade para listar ataques do presidente a minorias. "Ele tratou mal as mulheres, tem uma postura frente aos negros brasileiros de forma totalmente indigna, não respeita as religiões que não são evangélicas, ele desdenha dos indígenas brasileiras, fala mal da demarcação de terra indígnena e quilombola". "Falta uma compreensão, por parte do governo federal, do que é a maior riqueza do Brasil, que é sua gente, seu povo", disse o petista, que prometeu paridade entre homens e mulheres no secretariado, caso eleito.
Elvis Cezar chamou Rodrigo Garcia quando foi sorteado o tema da segurança pública, e o questionou sobre baixo investimento nas polícias e em delegacias da mulher. Garcia, antes de responder, preferiu atacar Haddad, afirmando que o petista não tinha coragem de perguntá-lo diretamente. "Você tem muito para esconder. Você tem medo de disputar a eleição no segundo turno", afirmou o tucano. Ao falar sobre o tema da pergunta, afirmou ter feito os maiores investimentos da história no setor, mas que sabe que "isso não é suficiente".
Considerações finais: "Grande dia"
"O estado que a gente tem hoje não é fruto de um governador, de um partido. É fruto do trabalho de milhões de pessoas", disse Garcia, que voltou a citar a "briga política". "Eu estou aqui pra defender nossas conquistas, mas ao mesmo tempo pra olhar pra frente", complementou o atual governador, o primeiro a apresentar as considerações finais.
"Eu estou aqui pra apresentar algo diferente. Estou aqui pra lembrar você que ainda a gente está no primeiro turno. Não está decidido. Pode ter a pesquisa que for, enquanto o voto não sair da sua mão, não está decidido", disse Poit em seu discurso de despedida.
"Domingo pode ser um grande dia, um dia de restabelecer a democracia no país e restabelecer seus direitos, que foram cortados pelo governo estadual e pelo governo federal. Um dia que a gente vai voltar a reindustrializar o estado de São Paulo. Não podemos perder mais empresas", afirmou Haddad.
"Nos últimos vinte anos tenho combatido o bom combate. Combati a corrupção, denunciei máfias, desmontei máfias. Ganhei prêmios, por quatro vezes, como melhor prefeito do Brasil. Mas isso não foi o mais significativo da minha carreira, e sim ter feito a maior evolução da educação no estado de São Paulo. Por isso quero ser governador do estado de São Paulo", apontou Elvis Cezar.
Encerrando a rodada de despedida, Tarcísio tentou mostrar conhecimento sobre o estado e, citando algumas cidades do interior e da região metropolitana, afirmou: "a gente construiu um plano que tem dois pilares: o cuidado com as pessoas e a geração de empregos. A gente não quer ver uma pessoa se deslocando 400 quilômetros para fazer uma quimioterapia".
Edição: Rodrigo Durão Coelho