Um dos trunfos eleitorais da campanha de Jair Bolsonaro (PL), o Auxílio Brasil de R$ 600 é insuficiente para atender necessidades básicas das famílias. A reportagem do Central do Brasil foi à ocupação Jardim Gaivotas, no extremo sul da cidade de São Paulo, e mostrou que o auxílio não é suficiente para reverter a precariedade da situação de famílias que vivem por lá.
Desempregada, Juliana Regina Santos é mãe solo de quatro filhos. Ela afirma que o dinheiro não é suficiente para comprar frutas ou verduras, e que a família se alimenta de arroz, feijão e, quando possível, ovos e salsichas.
"Agora tudo tá caro. O auxílio aumentou pra R$ 600, mas não dá nem pra comprar alimento, porque o arroz tá 20 e poucos reais, o feijão tá dez, então não dá nada. E eu tenho uma criança pequenininha, bebê, e o leite também subiu lá em cima. Outro dia eu falei: daqui a pouco a gente não vai dar nem leite mais pras crianças", lamenta.
Outra moradora da ocupação, Aline Bispo dos Santos, também está desempregada. Mãe de cinco filhos, ela conta com ajuda de pessoas de fora da família para garantir a alimentação das crianças.
"Eu mando bilhetinho na escola, eles sempre estão me dando uma doaçãozinha. A creche, eu também mando bilhete e eles mandam umas coisinhas pra mim. A Dona Ana, que ela me ajuda quando tem as doações de fora. E agora não tá tendo, então tá mais difícil pra mim", conta.
A dona Ana citada por Aline é Ana Maria Gomes, que organiza as poucas doações que chegam para as mais de 250 famílias que vivem na ocupação, às margens da represa Billings.
"Aqui a gente tem muitas famílias desempregadas, muitas mães chefes de família que sobrevivem só com esse valor de R$ 600 do auxílio porque não tem como trabalhar, tem muita criança, criança pequena. Tem famílias que às vezes me ligam ou mandam mensagem pedindo ajuda, perguntando se eu tenho algum alimento pra doar, e esse ano a gente não recebeu da prefeitura nenhuma doação de cesta. E as doações estão cada vez menores", lamenta.
Cesta básica custa mais que o valor do auxílio
Segundo o último levantamento do Dieese, o valor médio da cesta básica na capital paulista era de R$ 749,78 em agosto, ou seja: acima do valor do auxílio. O presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, Leandro Ferreira, destaca que a inflação dos últimos meses, principalmente no preço dos alimentos, corroeu o poder de compra das famílias.
"Entre o Auxílio Emergencial no seu primeiro pagamento, em abril de 2020, e o Auxílio Brasil atual, de R$ 600, houve uma inflação pelo IPCA acumulada de quase 20%. Isso significa que aqueles R$ 600 de 2020 já não valem mais o necessário para repor a inflação hoje. Esse valor deveria estar próximo de R$ 720 para que as famílias mantivessem o mesmo poder de compra e as mesmas condições para adquirir alimentos e pagar por suas despesas mais básicas", pontua.
Caráter eleitoreiro
Anunciado em julho deste ano, às portas da campanha eleitoral, o aumento do Auxílio Brasil foi percebido como clara manobra eleitoreira do governo Bolsonaro. "Pode ver que decretou por três meses, logo em seguida, depois da eleição, vão diminuir de novo", afirma Juliana. "Se eles fossem dar mesmo porque queriam dar, iam decretar mais tempo."
"Eu sei que foi uma luta enorme lá no congresso pra poder ter esse aumento do Bolsa Família, ter o aumento do Auxílio, e ele não aconteceu quando era pra acontecer. Aconteceu agora bem próximo da política. E a meu ver é só uma jogada de marketing pra poder conseguir mais votos", complementa Ana Maria.
Edição: Glauco Faria