E depois?

Pós-eleição: missão é impedir Bolsonaro de fazer do Brasil uma terra arrasada

País vai precisar de pacto coletivo para reconstrução e vigilância para conter danos finais da gestão Bolsonaro

Governo Bolsonaro deixa cenário de caos no Brasil para próxima gestão - Leo Malafaia / AFP
É como o dilúvio do Noé, quando a arca parou em cima do Monte Arará, o mundo teve que ser refeito

O período entre a decisão da eleição presidencial e a posse do novo governo eleito vai exigir olhar atento de instituições e da sociedade para que o desmonte promovido pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) não seja multiplicado.

Caso o pleito seja definido já no próximo domingo (2), Bolsonaro ainda terá 90 dias no cargo. O desafio é garantir que, nesse ínterim, os danos às instituições públicas e os ataques a democracia sejam contidos.

"Teremos 90 dias para o inominável demolir o pouco que resta da estrutura da administração pública brasileira e da estrutura do Estado", afirma o escritor e assessor de movimento popular Frei Betto, em participação no sexto episódio do podcast sobre eleições Três por Quatro, produzido pelo Brasil de Fato.

Na conversa, Frei Betto ressalta que será preciso estabelecer um pacto social de reconstrução. "É como o dilúvio do Noé, quando a arca, afinal, parou em cima do Monte Arará, o mundo teve que ser refeito. É exatamente o que vai acontecer a partir de 1º de janeiro."

Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o economista e comentarista do podcast João Pedro Stédile acredita que Bolsonaro pode intencionar o caos institucional. "Politicamente ele é um bonapartista, adoraria ser nomeado imperador do Brasil. Psicologicamente ele é um psicopata e sociologicamente ele é um lumpen, um facínora, que nunca trabalhou na vida e foi expulso até do exército. Então de tudo se espera dele."

Ainda assim, Stédille observa solidez nas instituições para exercer controle contra riscos à democracia no período pós-eleições.

"O próprio Supremo Tribunal Federal (STF), o poder Judiciário, o TCU e mesmo os servidores públicos. Há energias progressistas entre os nossos servidores públicos, eles vão ficar vigilantes. Todo mundo ficará vigilante em Brasília."

Isolado 

Frei Betto avalia que as eleições deste ano representam um resgate da democracia brasileira, que precisa de aprimoramentos, mas não pode ser ameaçada. Ele nota que essa percepção já está nas ruas e que o Brasil tem hoje uma "onda" que fortalece candidaturas progressistas, em especial a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesse cenário, Bolsonaro é uma figura isolada e não tem respaldo algum para as ameaças golpistas, tradicionais no discurso dele e de sua base. Não há sinalização de nenhum tipo de apoio, inclusive das Forças Armadas.

"O silêncio das Forças Armadas é muito significativo, fala alto. Os militares, se por um lado é crime para eles se manifestarem contra o comandante chefe, que pela Constituição é o presidente da República. Por outro lado, o fato de eles não se aglutinarem em entidades como o Clube Militar ou fazer algumas movimentações junto com civis, mostra que eles não estão apoiando essa política nefasta", afirma Betto.

A nova temporada do podcast Três por Quatro analisa as eleições de 2022. A atração é apresentada por Nara Lacerda e Igor Carvalho e criada e dirigida por Rodrigo Gomes e Camila Salmazio. Episódios inéditos são lançados toda sexta-feira pela manhã.

Edição: Thalita Pires