O presidente russo, Vladimir Putin, os chefes das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e das regiões de Kherson e Zaporozhye, do leste da Ucrânia, assinaram um acordo sobre a adesão das regiões dos territórios à Federação da Rússia nesta sexta-feira (30).
Agora, a Duma estatal (câmara baixa do Parlamento russo) deve ratificar o acordo, e em seguida o Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento) deve dar sua aprovação. A última etapa do procedimento envolve a assinatura da lei por Putin.
Em um discurso marcado por um tom fortemente antiocidental, Putin afirmou que os territórios anexados estavam "voltando para casa".
"Hoje estamos assinando acordos sobre a admissão das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye na Rússia. Estou certo de que esta decisão será apoiada, porque é a vontade de milhões de pessoas", disse Putin durante discurso no Kremlin.
"As pessoas que vivem em Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporozhye se tornam nossos cidadãos. Para sempre", completou o presidente russo.
As regiões de Kherson e Zaporozhye, ocupadas pela Rússia durante a guerra da Ucrânia, bem como os territórios separatistas de Donetsk e Lugansk, realizaram referendos sobre a adesão à Federação da Rússia entre os dias 23 e 27 de setembro. Em Kherson, 87,05% dos eleitores foram favoráveis à integração à Rússia, enquanto em Zaporozhye o número foi de 93,11%. Em Donetsk, 98,42% e, em Lugansk, 99,92%.
Na última quinta-feira (29), o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que "qualquer anexação de território de um Estado por outro Estado resultado do uso da força é uma violação dos Princípios da Carta (da ONU) e da lei internacional."
A anexação dos territórios à Federação da Rússia representa uma grave escalada na guerra da Ucrânia na medida em que Moscou passa a considerar como seus os territórios onde ocorrem combates e uma disputa por controle militar. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que ataques ucranianos contra os novos territórios da Federação da Rússia serão encarados como um ato de agressão.
A movimentação do Kremlin junto às regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye, ocorre em meio ao anúncio de uma mobilização "parcial" de cidadãos russos para combater na Ucrânia. As convocações militares levaram a uma grande onda de saída do país entre homens em idade de serviço militar, sobretudo entre 18 e 35 anos.
Reação da Ucrânia e do mundo
Os países do Ocidente condenaram os "referendos" e o lançamento do procedimento de adesão às regiões ocupadas da Ucrânia.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a anexação ilegal proclamada por Putin no Kremlin não muda nada.
"Todos os territórios ocupados ilegalmente por invasores russos sempre pertencerão ao povo soberano [da Ucrânia]", disse von der Leyen no Twitter.
Ela também disse que o Kremlin escalou a guerra na Ucrânia para um novo nível, e a União Europeia fará a Rússia pagar um alto preço por isso.
Já o conselheiro do presidente da Ucrânia, Mikhail Podolyak, na última quinta-feira (29) classificou a cerimônia de assinatura dos acordos anunciada por Moscou como "um show de horrores do Kremlin".
Edição: Thales Schmidt