A definição da eleição presidencial no primeiro turno ainda é incerta, a despeito das pesquisas de intenções de voto que mostram o ex-presidente Lula em mais de 50% das respostas dos entrevistados.
“A gente sabe que existem candidaturas muito próximas de 50%, mas não necessariamente isso de fato vai aparecer na urna. Teria que ter uma gordurinha a mais. Vai ser na emoção mesmo, voto a voto”, afirma Camila Rocha, cientista política e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Um dos fatores que podem influenciar a definição é a possível alta abstenção da parcela da população de baixa renda, que vota majoritariamente no ex-presidente Lula. O petista ganha entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424,00), que compõem 51% da população, segundo pesquisa Datafolha. “A gente está pensando na população de baixa renda e mulheres que tendem a não irem votar, por conta de complicações financeiras”, afirma Rocha.
Uma das complicações é tarifa de transporte público, que pode impossibilitar algumas pessoas de irem votar. Algumas capitais instituíram a gratuidade no transporte público neste domingo devido às eleições. São pelo menos 14 cidades. Mas a medida não é unânime no país.
Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para limitar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de assegurar a gratuidade e a frota do transporte neste domingo (2). Em sua decisão, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que não existem razões para que os municípios não implementem a gratuidade, já oferecida em eleições anteriores.
O ministro Benedito Gonçalves, do TSE, classificou o pedido de Bolsonaro como “absurdo”. "O argumento descamba para o absurdo, ao comparar a não cobrança de tarifa para uso de transporte público regular, em caráter geral e impessoal, com a organização de transporte clandestino destinado a grupos de eleitores, mirando o voto como recompensa pela benesse pessoal ofertada", escreveu.
Camila Rocha afirma que a tentativa de Bolsonaro faz parte da “estratégia do desespero de tentar a qualquer custo fazer com que haja segundo turno”. “Nos últimos anos, depois do debate da TV Globo, o bolsonarismo colocou todas as cartas, os possíveis argumentos. Agora é necessário ver se de fato isso vai se refletir na decisão das pessoas que ainda não escolheram os candidatos”, afirma Rocha.
“A gente nunca pode dar um cenário como certo, ainda mais porque se a gente for para segundo turno, vai ter bastante tempo de campanha. Bolsonaro tem a máquina na mão. A gente vai saber o resultado para outras candidaturas. Então num certo sentido isso vai liberar uma parte importante da militância bolsonarista. Não dá para subestimar o Bolsonaro.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho