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Há vida além do primeiro turno

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Com uma diferença de quase 6,2 milhões de votos, Lula começa com uma vantagem que pode ser determinante para o desfecho do segundo turno - Foto: Redes sociais/Montagem/Informe Baiano
Segundo turno, nas eleições presidenciais, não é uma outra eleição, nunca foi

O resultado das urnas do último domingo (2) deixou um gosto amargo na boca tanto do lado bolsonarista quanto do lado petista e por diferentes motivos.

No lado bolsonarista, eles acreditavam na folclórica vitória de primeiro turno com 60% dos votos válidos. Não deu e Bolsonaro termina atrás de Lula com uma distância de 5% (um abismo no contexto das eleições atuais, mas que não é intransponível). Por pouco o ex-presidente petista não levou no primeiro turno (uma diferença de menos de 2%).

Já do lado petista, além de não conseguirem levar no primeiro turno, ainda viram a distância com Bolsonaro chegar na casa dos 5% (segundo as pesquisas, essa diferença poderia ficar em até 10%).

Nas disputas para o Congresso Nacional, legislativos e governos estaduais, uma sucessão de surpresas desagradáveis para a esquerda, que viu figuras como Damares Alves e o general da reserva Hamilton Mourão eleitos para o Senado.

Além das viradas do Tarcísio de Freitas, o carioca que disputa do governo de São Paulo, e de Onyx Lorenzoni no Rio Grande do Sul.

Significa que as pesquisas erraram? Não.

Os institutos fizeram o possível sem dados precisos sobre a sociedade brasileira. E a meu ver, simplesmente não conseguiram captar uma tendência de voto útil no Bolsonaro e que era previsível. Esse movimento não ocorreria apenas com Lula.

Se colocarmos na margem de erro, pesquisas como MDA (48% para Lula e 39% para Bolsonaro), IPEC (51% para Lula e 37% para Bolsonaro), QUAEST (49% para Lula e 38% para Bolsonaro) e Atlas (50% para Lula e 41% para Bolsonaro) ficaram próximas do resultado. Além disso, sem exceção, todas as pesquisas acertaram a intenção de voto do Lula, mas não captaram a movimentação do voto útil para Bolsonaro.

Porém, pesquisas como a Quaest souberam fazer as perguntas corretas para identificar esse movimento e esse pode ser um indicativo de como captar essa movimentação. Ao perguntar se as pessoas tinham mais medo de Lula ou Bolsonaro serem reeleitos, ela conseguiu dimensionar bem a influência do Bolsonaro.

Fez uma pergunta que quase nenhuma pesquisa fez e vejam só como chegou próximo do resultado do primeiro turno:


Dados da pesquisa Quaest / Reprodução

 

Aqui a pesquisa já mostrava que o voto útil em Bolsonaro era uma possibilidade e é uma sugestão de questões que as pesquisas poderiam incluir em seus questionários.

Além disso, as pesquisas não colocavam a abstenção na conta. Todas as pesquisas apontavam que ela seria baixíssima, os entrevistados em sua imensa maioria diziam que iriam votar e ao lado de uma movimentação.

Outro ponto que vale ser observado é a escassez da reserva de votos disponível para os dois candidatos. Dos mais de 120 milhões de votos dados no primeiro turno, apenas 15 milhões estão em disputa. Já os 5,5 milhões de brancos e nulos e as quase 33 milhões de abstenções são difíceis de serem virados e podem até aumentar.

Outro dado interessante vem da penúltima pesquisa IPESPE antes do primeiro turno. Ela indica que os 3% de ciristas raiz que permaneceram com o pedetista provavelmente, hoje, são majoritariamente Lula.

A desidratação do Ciro e crescimento do Bolsonaro indicam que os votos bolsociristas já foram para o presidente.


Dados da pesquisa Ipespe / Reprodução

Com uma diferença de quase 6,2 milhões de votos, Lula começa com uma vantagem que pode ser determinante para o desfecho dessa disputa e agora precisará de um pouco mais de 2% para garantir a sua vitória no segundo turno.

Em qualquer outra eleição essa diferença poderia ser considerada apenas um vão entre o trem e a plataforma, mas em um pleito onde os dois primeiros colocados conquistam mais de 50 milhões de votos logo no segundo turno, isso se torna um abismo.

O resultado do primeiro turno deixa claro que houve um profundo movimento de antecipação do segundo turno. Logo, o eleitorado já está muito consolidado. Lula terá uma imensa dificuldade de tirar votos do Bolsonaro, assim como o contrário.

Segundo turno, nas eleições presidenciais, não é uma outra eleição, nunca foi. Lula precisa ficar atento para que essa distância não encurte ainda mais. Já Bolsonaro deve começar a sua campanha tendo em mente que, até hoje, nenhuma eleição presidencial que foi para segundo turno teve uma virada.

*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Nicolau Soares