Desde segunda-feira (3) as redes sociais vêm discutindo um tema inusitado: o discurso de Jair Bolsonaro (PL) em uma loja maçônica, atestada em um vídeo de 2017. O movimento aconteceu em resposta às fake news bolsonaristas que acusavam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de envolvimento com o satanismo.
A divulgação do vídeo, usado para questionar a adesão de Bolsonaro ao cristianismo, foi realizada por usuários de diversos perfis ideológicos. Esse processo foi fruto da reagrupação e reação de antibolsonaristas após o segundo turno e não se limita à esquerda ou ao petismo.
Desinformação e fake news ainda são desafios da campanha eleitoral de 2022, aponta pesquisadora
Em entrevista ao Brasil de Fato, o analista de dados Pedro Barciela afirma que o movimento contrário a Bolsonaro é maior do que a rede de apoio ao presidente nas redes sociais. Entretanto, a base bolsonarista é "extremamente coesa, disciplinada e hierarquizada", que consegue pautar mais as discussões, compensando a desvantagem numérica.
No início desta semana, no entanto, o jogo virou. "O que acontece é que o antibolsonarismo para de ser pautado pelo bolsonarismo. Acho importante deixar bem explícito que não é um movimento de esquerda. O antibolsonarismo é algo muito mais amplo. Ele vai unir diversos atores de diversas correntes, porque o antibolsonarismo por si só não produz essa filiação ideológica."
Barciela sinaliza que a repercussão aconteceu de maneira orgânica, no "vácuo de uma linha política", enquanto a campanha oficial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reorganizava.
"Esse movimento não tem nenhum indicativo de partir, primeiro, da campanha oficial do ex-presidente Lula e, segundo, de ser um movimento exclusivo ou ligado a esquerda nas redes sociais. Ele é muito mais amplo e ligado ao antibolsonarismo."
Fake news eleitoral: veja quais mentiras que viralizaram no primeiro turno
A resposta do campo de apoio de Jair Bolsonaro não foi consistente, na avaliação de Barciela. Ele aponta que havia uma expectativa de que o presidente da República ficasse à frente de Lula no resultado do pleito ou até mesmo ganhasse em primeiro turno. A resposta para a frustração nas redes sociais foi permeada por mais do mesmo.
"Para essa frustração, o bolsonarismo tem uma resposta muito mais pronta que o antibolsonarismo, que é questionar as urnas. Em um segundo momento, eles começam a emular uma série de apoios que são reciclados. Isso vai ter uma participação da imprensa muito grande. Eles vão tentar divulgar Cláudio Castro (PL) como um novo apoio, sabemos que o Castro vem há anos fazendo parte da base bolsonarista. Romeu Zema (Novo), que se reelegeu com base no bolsonarismo, sendo anunciado como alguém novo, quando na verdade é apenas reciclado. A gente vê o bolsonarismo muito mais focado nessa ideia de emular uma união em cima do Bolsonaro do que necessariamente respondendo a essa questão da maçonaria em alto volume."
Entenda a polêmica
Logo após o primeiro turno, perfis bolsonaristas nas redes sociais intensificaram a propagação de notícias falsas afirmando que Lula é contra o cristianismo. Esse tipo de informação mentirosa já havia sido explorada ao longo da campanha.
Em reação, perfis contrários à reeleição do atual presidente passaram a divulgar o vídeo de Bolsonaro discursando entre maçons, em um local com vários símbolos da organização. Entre uma parcela dos evangélicos, a maçonaria é entendida como ligada ao satanismo. Já a igreja católica considera que o movimento não é alinhado ao cristianismo.
"De certa forma, as redes bolsonaristas que começam esse fluxo. Tentaram emular, em um primeiro momento, uma fake news ligando o ex-presidente Lula ao satanismo. Como resposta, alguns usuários recuperam essa questão da maçonaria", explica Pedro Barciela.
As respostas dos apoiadores de Bolsonaro vieram do pastor Silas Malafaia, que disse que a polêmica não tem potencial de tirar votos de Bolsonaro. Também houve reação por parte do vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos). Sem citar diretamente a polêmica, ele publicou nas redes sociais uma crítica à propagação de fake news e questionou a falta de fiscalização.
Edição: Thalita Pires