“Sejamos realistas, exijamos o impossível.” Com a frase símbolo das revoltas de 1968, Renato Freitas (PT) encerrou sua entrevista ao Brasil de Fato Paraná, poucos dias antes do primeiro turno das eleições.
No domingo (2), Freitas foi eleito para a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), com quase 58 mil votos. Algo que parecia impossível semanas antes: cassado na Câmara de Curitiba, em agosto, o petista estava com seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Até que, no final de setembro, uma liminar do Supremo Tribunal Federal restituiu seu mandato e o permitiu concorrer e ser eleito no pleito de 2022.
“Impossível” também é a palavra que repele dos espaços de poder muitas pessoas como Renato Brasil adentro: negro, pobre e da periferia. Como ele mesmo diz “um neguinho sem pai e sem herança, do fundão da periferia, filho da imigrante nordestina, que todo mundo achou que ia virar ladrão e morrer antes dos 20.”
A partir de 2023 na Alep, ele promete continuar exigindo o impossível para combater a elite centenária que comanda o Paraná. Reforma agrária e reforma urbana estão entre as principais pautas que Freitas diz pretender encampar na Assembleia.
“Um dos grandes problemas da política paranaense é a concentração de poder na mão de uma aristocracia centenária. Essa aristocracia se constitui, em grande medida, pela concentração fundiária. São os coronéis, os herdeiros do processo de escravização brasileiro que ainda estão aí, como a família Lupion, a família Malluceli, a família Macedo”, aponta.
Relação orgânica com as bases
Mestre em Direito e advogado popular, Freitas tem uma história de militância em Curitiba. Por ter sua vida enraizada nos movimentos populares, ele acredita que os partidos de esquerda devem aproximar as direções partidárias das bases. “Um partido que coloca as lideranças longe das bases não tem futuro próspero pela frente. A liderança tem que vir da base”, afirma.
No entendimento de Freitas, a relação orgânica com as bases é também a chave para conseguir adesão popular a pautas importantes para os setores progressistas, como, por exemplo, a desmilitarização da polícia. “Não é difícil num país que tem a polícia tão ignorante, tão letal, tão discriminatória. Favelas são os novos quilombos, prisões são as novas senzalas. A continuidade desse projeto genocida está aí”, comenta.
O apoio popular, que Freitas diz tê-lo fortalecido ao longo de todo o processo de cassação que sofreu, será sua base de sustentação em uma Assembleia majoritariamente conservadora. A bancada de oposição, atualmente composta por PT e PDT, elegeu oito parlamentares.
Depois de passar pela Câmara de Curitiba e agora na Alep, Freitas promete continuar desafiando as estruturas que dizem ser impossível a população negra, pobre e periférica adentrar os espaços de poder. O que o fortalece, o candidato eleito conta, é a certeza de que “a liberdade não será dada por aqueles que não vivem a realidade de opressão.”
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos