Cuba se recupera lentamente dos estragos causados pelo furacão Ian, que atingiu a região ocidental da ilha, Havana, Artemisa, Pinar Del Río e Ilha da Juventude, há dez dias. Em todo o país, 75,9 mil construções foram afetadas, sendo que 8,4 mil foram totalmente destruídas, segundo o registro do Fundo Habitacional cubano.
À sangue e suor e contando com solidariedade, os cubanos vão reconstituindo o que perderam. "Há um conjunto de instituições estatais, igrejas e uma série de associações que são pontos de coleta de doações. E você percebe que há uma diversidade imensa: roupas, sapatos, louças, produtos de higiene pessoal, caixa d'água, uma infinidade de coisas, porque algumas pessoas que residem em Pinar perderam tudo em Pinar", relata ao Brasil de Fato Marcelo Durão, militante da Brigada Internacionalista do MST em Havana.
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Em Pinar del Río, a província mais afetada, há 6 mil desalojados, 76% da população permanece no escuro pela destruição do sistema elétrico, enquanto o serviço de telefonia fixa foi reestabelecido em 75% do território pinarenho e de telefonia móvel em 85%, segundo o Conselho de Defesa da província. Mais de 338 comércios foram destruídos, assim como dezenas de unidades de saúde e escolas.
"Sem luz também ficamos sem água, já que não tínhamos energia para as bombas de abastecimento, além de não ter como conservar os alimentos - o que acabou sendo um problema muito grande tanto em Havana como nas províncias de Artemisa e Pinar del Río", conta o brigadista do MST.
O sistema das Nações Unidas, por meio de suas agências, apoia no atendimento em saúde e redistribuição de pessoas que precisam de acompanhamento médico, como as gestantes, que somente nas três províncias mais afetadas, somam 2.800 pessoas.
Pinar del Río é a região que concentra a produção de tabaco cubano. Em 2021, foram plantados 2.400 hectares, sendo um dos principais produtos de exportação da ilha. Boa parte da estrutura agropecuária foi destruída, com 159 estufas e 32 casas de tabaco totalmente destruídas, e cerca de 95% da safra perdida.
"Esta batalha ganharemos trabalhando, com participação ativa e consciente do povo e a distribuição solidária dos cubanos e amigos de todo o mundo", disse o presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, Esteban Lazo, em visita a Pinar del Río na última quinta-feira (6).
Dois dias após a passagem do furacão de intensidade 3 na escala Saffir-Simpson, foram formadas brigadas de trabalhadores de outras províncias, na região oriental da ilha, que foi menos afetada, para viajar ao outro extremo a fim de recuperar a estrutura elétrica perdida.
México e Venezuela também enviaram brigadas de solidariedade para ajudar a reconstruir o sistema elétrico cubano. Na última segunda (3), Caracas enviou dois navios com 400 mil contêineres com alimentos e 22 mil m² de lâminas de zinco. Já o governo mexicano enviou 72 mil metros de fios de cobre e outros equipamentos para recuperar as redes de transmissão de energia.
Por conta do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, há quase 60 anos, Cuba não tem acesso a crédito internacional. Além disso, os EUA preveem sanções contra bancos que realizam transações com Cuba e a penalização de até seis meses a embarcações que aportem na ilha.
"O Estado tem muita dificuldade de abastecer o povo cubano com diversos materiais que são básicos e muito fáceis de encontrar em outros países, como materiais de construção. Por conta dos impedimentos do bloqueio, o país conta com a solidariedade internacional para a compra desses produtos", comenta o militante sem-terra.
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Há 30 anos Cuba apresenta uma resolução exigindo o fim do bloqueio na ONU. Nas últimas 29 edições da Assembleia das Nações Unidas, o texto foi aprovado pela maioria dos Estados-membros, no entanto Washington mantem o embargo.
Somente durante a gestão de Donald Trumo foram aplicadas mais 243 sanções unilaterais. A administração Biden reabriu a embaixada em Havana e diz que está disposta a negociar, mas não suspendeu nenhuma das medidas impostas pelo governo antecessor.
Edição: Arturo Hartmann