Nos últimos dias, o Nordeste entrou na pauta política mais uma vez pela repercussão de insultos xenofóbicos feitos por grupos bolsonaristas ao voto da população da região, que teve o candidato e ex-presidente Lula (PT) a frente da disputa eleitoral do primeiro turno em todos os estados.
O ocorrido levanta o debate sobre a relação entre o voto e políticas sociais, a identificação da população desses estados com cada candidato e desenvolvimento regional e esta primeira etapa das eleições já trouxe importantes decisões que podem implicar diretamente na forma como esses temas serão tratados nos próximos quatro anos.
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Pensando nisso e na importância da região para o pleito presidencial, o Brasil de Fato Pernambuco conversou com a cientista política Priscila Lapa, que fez um balanço das configurações das assembleias legislativas dos estados do Nordeste, assim como das tendências políticas na região para o segundo turno da disputa eleitoral.
Quatro dos nove estados nordestinos, entre eles Pernambuco, decidirão seus governos também no segundo turno, assim como a presidência da República também será decidida neste momento. Confira a entrevista:
Brasil de Fato Pernambuco: O Nordeste deu a liderança ao ex-presidente Lula no primeiro turno das eleições presidenciais. A tendência para o segundo turno é que a região seja decisiva novamente ou a vitória deve vir de de outra parte do país?
Priscila Lapa: O Nordeste continua sendo uma região decisiva para as eleições desse ano, para esse segundo turno. Lula precisa trabalhar para manter essa diferença significativa, porque a gente observou claramente durante a apuração que, a medida que as urnas do Nordeste foram entrando no somatório geral das urnas, o percentual de votos de Lula foi aumentando. Então, claramente o Nordeste é o grande reduto onde Lula precisa manter e é onde Bolsonaro precisa ter o cuidado para performar bem e não sofrer perdas, visto que em muitos estados não haverá palanque para os dois candidatos.
Naqueles locais em que teve o encerramento para governador no primeiro turno, tem essa dificuldade de mobilização do eleitor, das massas, dos apoiadores para esses palanques. Os dois vão precisar ficar olhando para o Nordeste. Agora de fato, São Paulo vai ser o centro das atenções. Primeiro pela diferença entre projeção versus resultado do que de fato aconteceu em São Paulo e porque lá continua tendo a eleição para governador e cada candidato à presidência vai ter seu palanque.
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BdF PE: Jair Bolsonaro aposta na pauta do Auxílio Brasil para o diálogo com o Nordeste, onde há a maioria dos beneficiários desta medida. A aposta funcionou? Ele deve continuar por esse caminho no segundo turno?
Priscila Lapa: Talvez, essa questão do auxílio não tenha sido tão decisiva na eleição presidencial como foi decisiva em outros contextos como a questão do Bolsa Família. O Bolsa Família foi a tônica eleitoral no Brasil durante muito tempo e claramente, eu posso falar isso com propriedade porque eu estudei as eleições presidenciais no doutorado e a gente investigava os votos das classes sociais no Brasil e os impactos de renda na disputa eleitoral para a presidência, que o público do Bolsa Família tinha um comportamento eleitoral muito específico. Esse foi o mote das eleições durante muito tempo no Brasil.
Esse fenômeno não se replica totalmente em 2022 para “recompensar”, digamos assim, o Bolsonaro pelo aumento, mesmo sendo um público muito sinalizado por ele durante a campanha. Justamente porque a gente vive um contexto econômico diferente; a gente tem a questão da recuperação econômica que atinge os segmentos mais altos de renda do que essa percepção para os segmentos mais baixos e a inflação continua atingindo fortemente os itens da cesta básica, de sobrevivência dos individuos que estão na base da pirâmide e que recebem o Auxílio Brasil.
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BdF PE: Como o Nordeste elegeu candidaturas para os legislativos dos seus estados? A partir de 2023 teremos bancadas mais conservadoras ou mais progressistas na região?
Priscila Lapa: A gente tem um aumento sensível das bancadas de centro-direita, mais para a direita mesmo. Também uma oscilação da esquerda com essa formação da federação entre PT, PV e PCdoB, causando um efeito de aumento e recuperação do número de cadeiras desses partidos nos legislativos estaduais, mas uma redução do centro.
A gente tem que lembrar também que isso tem a ver com esse ciclo mais conservador da política nacional, mas também isso pode estar relacionado ao efeito do fim das coligações. Temos que lembrar que essa é uma eleição em que as coligações estão proibidas desde o pleito de 2020 para os legislativos municipais e isso começa a ter um efeito de redução do número de partidos que conseguem ter uma vaga nas assembleias e na Câmara dos Deputados.
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BdF PE: Dos nove estados do Nordeste, quatro decidiram seus próximos governos no primeiro turno. Como fica a configuração política com esses governos eleitos e qual a tendência para as decisões dos cinco estados que ficaram para segundo turno?
Priscila Lapa: A gente precisa observar claramente que houve uma perda de espaços, o Nordeste como sendo aquele mais tradicional de eleições de esquerda. Em alguns estados, a gente pode citar a Bahia e o Ceará como exemplos disso, candidatos vindos de outros espectros políticos se tornaram muito competitivos. Apesar dos dados realmente demonstrarem uma predominância de partidos de centro-esquerda ou do PT propriamente dito e de partidos muito ligados à figura de Lula ou que apoiam desde primeira hora, a candidatura de Lula. Mas houve de fato um trabalho maior para se manter essa base por causa da entrada de outros atores vindos de outras linhas políticas mais competitivos.
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Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga