O debate realizado na noite desta segunda-feira (10) na Band entre Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, candidatos a governador de São Paulo, trouxe um formato que permitiu durante dois blocos não só embate direto entre os dois adversários como também uma conversa mais fluida entre eles. O modelo permite a quebra dos protocolos e também dos planos bem elaborados por marqueteiros. Nesse contexto, a pauta prevista por cada campanha pode cair.
No primeiro bloco, a chamada nacionalização do debate estava evidente, com cada candidato tentando trazer para si o peso não só dos candidatos à Presidência da República como também suas pautas. Buscando um assunto caro ao paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou de segurança pública, mas de forma torta, tocando em pontos que não são da alçada de um governador, como o fim das audiências de custódia e redução da maioridade penal.
Fernando Haddad (PT) não caiu na armadilha e trouxe o tema das câmeras instaladas nos uniformes dos policiais. Para quem se diz "técnico", como o ex-ministro de Jair Bolsonaro, negar a eficiência da medida é só exercício de negacionismo, já que houve uma redução de 80% na letalidade policial depois da iniciativa. Caiu também o número de mortes dos próprios policiais.
A partir daí, o petista pautou o debate invocando outra característica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a capacidade de estabelecer pontes. O que, aliás, é papel de um governante. Falou em respeitar o pacto federativo, citando o exemplo de Lula como alguém que dialogou com governadores e também reivindicando postura semelhante no papel de governador.
Um orçamento secreto no meio do caminho
Haddad tentou não só colar Tarcísio a Bolsonaro, buscando afastar um eleitorado mais ao centro do seu adversário, mas também buscou estabelecer conexões entre as ações (e inações) do governo federal com São Paulo.
Quando perguntado sobre a situação do agronegócio em São Paulo, por exemplo, falou da alteração do regime de chuvas resultante do desmatamento na Amazônia, o que afeta a prática agrícola no estado. Amarrou a negligência do governo Bolsonaro em um de seus pontos mais fracos com uma atividade econômica central do interior paulista, onde o PT tem mais dificuldades.
Mas o melhor momento do petista foi quando trouxe o assunto Orçamento Secreto à baila. Ali, fez seu adversário defender o indefensável, apontando ainda não só a falta de transparência do modelo criado durante a gestão Bolsonaro como também sua ineficiência na aplicação de recursos públicos. Mesmo em um encontro onde os dois muitas vezes usaram uma linguagem mais empolada, foi didático em um tema fundamental.
Em um cenário no qual Tarcísio tem vantagem sobre Haddad, o debate, ao fim, deu gás à candidatura petista. Outros encontros televisivos podem trazer o ânimo que muitos tiveram dificuldades para identificar na campanha do primeiro turno. Tem jogo em São Paulo.
Edição: Thalita Pires