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O gim, a rainha e outros bebedores

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Mas confesso que achava uma coisa muito interessante na rainha Elizabeth: já idosa ela bebia gim diariamente. Acho o gim uma bebida forte demais - Getty Images
Uma vez, estava em Goiânia e tomei um pileque de gim. Gente... que desgraça!

Eu fico sempre impressionado com o noticiário da televisão brasileira quando o assunto é a família real britânica. Repórteres e apresentadores babam, quando noticiam qualquer coisa referente a ela. Sobre a morte da rainha Elizabeth II, então, foi como se noticiassem o fim dos tempos.

Não gosto de monarquias, acho injusto demais algumas pessoas já nascerem com privilégios por serem descendentes de reis ou nobres. Nas repúblicas também tem privilégios injustos, para os filhos de ricos. Não gosto.

Mas confesso que achava uma coisa muito interessante na rainha Elizabeth: já idosa ela bebia gim diariamente. Acho o gim uma bebida forte demais.

Uma vez, estava em Goiânia e tomei um pileque de gim. Gente... que desgraça! No dia seguinte não acordei com ressaca, acordei como dormi, a tontura não passava, comecei até a ficar meio apavorado, achando que nunca mais ficaria sóbrio. Demorou pra sarar.

Quando voltei para São Paulo, um amigo me disse:

- Eu te encontrei em Goiânia e você nem me reconheceu!

Tentei explicar que era efeito do gim. Encontrei outro, mesma coisa:

- Lá em Goiânia, você estava num bar e nem me reconheceu.

- É o gim - falei.

Depois outro... Aí pensei: “Puxa vida! Parece que tudo quanto é amigo de São Paulo estava em Goiânia naquele dia e me viu daquele jeito”.

Comecei a achar que apreciar gim era o último estágio do alcoolismo. Um jornalista paulista era viciado em gim e a família dele parece que pensava isso também. Internou o sujeito numa clínica de reabilitação. Como era uma família com uma certa grana, foi numa clínica boa, com um casarão no meio de uma chácara. Lugar bonito.

Roberto Manera, jornalista amigo dele, e meu também, me contou que ficou com pena e foi visitar o viciado em gim. Achava que ia encontrar o cara deprimido, triste, mas chegou lá e viu o amigo todo alegre. Andava com uma bengala, rodeando, rindo.

Os dois se cumprimentaram e o internado chamou o Manera pra conhecer a chácara, toda arborizada. Passearam com o cara contando piadas e, num certo momento, ele puxou o Manera pra trás de uma moita. Aí virou a bengala de cabeça pra baixo.

Era uma bengala de alumínio, e na ponta tinha uma tampa atarraxada. Desatarraxou a tampa e mostrou o interior dela... era cheia de gim. Virou um bom gole goela abaixo e fez cara de prazer. Só não quis contar quem abastecia a bengala de gim.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Douglas Matos