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Algodão agroecológico na Paraíba respeita a natureza e favorece sustentabilidade da moda

Através do plantio da fibra branca, a experiência territorial também promove sustentabilidade social e econômica

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Produção de algodão no Polo da Borborema é feita de forma consorciada - ASPTA
Aqui no território, a gente tem experiência de que os agricultores vendem com preço justo

No semiárido paraibano, uma experiência da agricultura familiar tem dado bons frutos. A iniciativa de produção de algodão agroecológico vem ganhando força entre famílias do Polo da Borborema, onde a produção da fibra branca já é tradição. 

Mas, enquanto a agricultura convencional se baseia nos monocultivos, modo de produção que cria a dependência de um sistema que não estimula a diversidade e a soberania alimentar, as sementes de algodão agroecológico são cultivadas junto a outras plantações. 

"Em vez de o agricultor ter só uma cultura, uma plantação em uma região ou em um setor de roçado, ele tem duas, três plantações ao mesmo tempo. Por isso que a gente fala que o algodão é uma agricultura que vem fortalecer mais a nossa agricultura", explica a agricultora agroecológica e experimentadora Anilda Batista. 


A produção agroecológica é feita pelas famílias do Polo da Borborema / ASPTA

Essa estratégia de cultivo chamada de consórcio agroecológico traz benefícios econômicos e ambientais, sendo importante para a convivência com o semiárido, como explica Emanoel Dias, representante da organização não governamental AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, que presta assistência técnica às famílias do Polo da Borborema, região paraibana composta pela articulação de 14 sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. 

"Esses consórcios trazem para as pessoas, primeiro, mais oportunidade de geração de renda, porque você não produz só o algodão, você produz algodão, milho, erva doce, batata, jerimum, que consequentemente se transforma em mais oferta alimentar para as famílias. Ou seja, mais segurança alimentar. E também, possibilita a comercialização desses outros itens. Então, se abre um leque de oportunidades para a geração de renda e a segurança alimentar", afirma Emanoel. 

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O Brasil aparece entre os cinco maiores produtores de algodão do mundo. Apesar de utilizar aproximadamente 2% da área total destinada à agricultura, a produção de algodão é responsável por cerca de 24% de todo o consumo de inseticidas e 11% dos pesticidas da agricultura. Já a produção a partir dos consórcios agroecológicos busca estimular o uso de defensivos naturais e estratégias de convivência com a natureza para o controle de pragas. 

"Você permite ter um controle, uma vida mais harmoniosa com a questão da ecologia naquele sistema. Essas cadeias são controladas pelos próprios insetos e os seres vivos que estão naquele sistema e você evita estar usando insumos químicos, que são caros, e também agridem o ambiente e a saúde humana", destaca Emanoel.


O Polo da Borborema é um território articulado por sindicatos rurais que promovem a agroecologia no agreste paraibano / ASPTA

Agroecologia e moda

Em 2022, a colheita do algodão agroecológico ainda está começando, mas, de acordo com dados da AS-PTA, aproximadamente 70 famílias já plantaram algodão e a perspectiva é ter 20 toneladas de algodão em rama, o que dá aproximadamente 8 toneladas de algodão em pluma. 

Um dos principais destinos da pluma de algodão é a indústria da moda com a confecção de tecidos. O algodão dá origem a um tipo de fibra têxtil que representa mais da metade das peças de vestuário confeccionadas no Brasil. O setor da moda sustentável tem visto com bons olhos o casamento do estilo com a agroecologia. 

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Mônica horta é jornalista, artista têxtil, mentora de economia criativa e criadora de projetos e eventos sustentáveis. Ela é a idealizadora do Ecochic Day, um dos movimentos pioneiros neste segmento. Para Mônica, a agroecologia tem o potencial de revolucionar a indústria da moda, mas ainda é um campo pouco explorado. 

"A gente ainda não chegou neste processo evolutivo que é a agroecologia na moda. Se existe uma revolução em andamento é a agroecologia. Se existe uma salvação para o mundo, para o planeta, para todos nós, é a questão da agroecologia. Porque é muito interessante e a gente tem que fazer com que o mundo da moda seja liberto das tradições orais, das manipulações", afirma. 

Para Mônica, o termo sustentabilidade tem sido usado de maneira enganosa por setores do agronegócio, que se utilizam do marketing para vender uma ideia de respeito ao meio ambiente, sem que isso realmente impacte o modo de produção e as relações humanas. 

"Existe uma questão muito grave, que é quando se fala em sustentabilidade. Virou isso, esse marketing, virou nada no Brasil. As pessoas falam de tudo, menos das relações humanas. E, para mim, com toda a experiência profissional que tenho, o básico de uma questão sustentável, agroecológica, responsável, enfim, o termo que a gente use, qualquer um deles, é justamente as relações humanas. A base tem que ser as relações de pessoa para pessoa. Entende?", indaga Mônica. 

No Polo da Borborema, além de respeitar a natureza, a produção de algodão agroecológico também se preocupa que o trabalho dos agricultores seja remunerado de maneira justa. 

"Um dos elementos que tem trazido algumas empresas que trabalham com moda sustentável para essa ação, é de comprar o algodão a partir de um valor mais valorizado do que se é comercializado no mercado. Então, aqui no território, a gente tem experiência de que os agricultores vendem com preço justo, que eles chamam de social, para também atender às cadeias da moda sustentável. Então, esse conjunto da segurança alimentar, da geração de renda, de menos agressão ao meio ambiente e à saúde humana e, também, no caso do algodão, mais especificamente falando, de atuar nesse mundo da moda sustentável, esse componente que traz esse conjunto de benefício para as famílias", destaca Emanoel Dias.

Edição: Daniel Lamir