A deputada mais jovem que ocupará a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) em meio ao avanço do bolsonarismo no estado é Rosa Amorim (PT). Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com trajetória no Levante Popular da Juventude e na União Nacional dos Estudantes (UNE), Rosa é estudante de teatro, nascida e criada no Assentamento Normandia, em Caruaru e estreou sua trajetória na política institucional com mais de 42 mil votos nestas eleições.
Em entrevista ao Brasil de Fato, em uma parceria dos programas de TV Central do Brasil e Trilhas do Nordeste, a deputada eleita falou sobre o enfrentamento ao bolsonarismo, ala que estará ocupando a Alepe com as candidaturas mais votadas destas eleições. Ela fala sobre quais devem ser as prioridades do seu mandato a partir de 2023 e também falou sobre os cortes nos orçamentos da educação pública e as mobilizações populares que estão sendo convocadas para o dia 18 deste mês. Confira:
Brasil de Fato: Rosa, durante a comemoração da sua vitória para a Alepe, você falou que a sua eleição era uma reparação histórica para o povo de Pernambuco. O que significa no estado uma mulher do movimento Sem Terra ocupar um espaço na Alepe?
Rosa Amorim: Bom, primeira coisa é que nós estamos muito felizes com essa vitória, para a gente é um marco muito simbólico para Pernambuco, a primeira candidatura à assembleia ter uma votação tão expressiva e a gente conseguir uma vitória que pra nós não é só uma vitória eleitoral, é também uma vitória política.
Falo de um momento de reparação histórica porque quando a gente vai olhar para a composição da assembleia legislativa ela é composta sempre com as representatividades daquilo que a gente fala da bancada do agronegócio, do boi, do latifundiário pernambucano que passou do poder econômico para o poder político e compõe uma grande representatividade desde sempre. Então, a questão da terra para nós é central na questão da desigualdade social. Quando a gente vai olhar para a questão da desigualdade, você chega na questão da terra. Então para a gente é uma reparação porque você começa a ter aí movimentos, figuras, representações políticas que vão ao encontro daquilo que sempre foi hegemonia no poder econômico e político no nosso estado.
O Nordeste foi a região com mais candidatos e candidatas lançados pelo MST e, consequentemente, com mais vitoriosos. Haverá algum tipo de articulação regional entre os mandatos?
Acho que esse ataque de Bolsonaro que fez especialmente agora no segundo turno, voltando a atacar o Nordeste e colocando aí ataques ao povo do Nordeste à questão do povo votar em Lula, do analfabetismo e colocando pessoas analfabetas no seu linguajar como se fossem pessoas desprovidas de educação e por isso votariam em Lula, é mais uma pejoratividade. E nós acreditamos que já estamos nesta grande composição e conversando em nível Nordeste com a bancada do MST sobre iniciativas, sobre combater fake news e se posicionar o porquê, na verdade, do povo nordestino vota em Lula. Então, eu acho que é importante falar sobre isso.
Em Pernambuco, candidatos ligados ao bolsonarismo despontaram como os mais votados nessas eleições para a Alepe, que é a casa que você vai trabalhar em 2023. Como imagina que será essa disputa de ideias dentro do parlamento estadual?
Já prevíamos uma grande dificuldade, inclusive num processo muito polarizado que a gente vai encontrar na Alepe nesta próxima gestão. O bolsonarismo ganhou politicamente no nosso estado, a extrema-direita tomou muito espaço em nível nacional, e teremos um grande desafio. Logo de cara já encontramos muitas divergências de valores de projeto de país e estado e nossa bancada tem nomes muito fortes do ponto de vista político. Mas em comparação ao que a extrema-direita conseguiu ocupar de espaço, nós somos uma bancada pequena e vamos precisar ter muita coragem para enfrentar esse projeto oposto do que a gente acredita e quer para o nosso estado.
Além do MST, você também milita no movimento estudantil com atuação no Levante Popular da Juventude e na direção da UNE. Recentemente, tivemos a notícia dos cortes no Ministério da Educação. Como você avalia essa questão dos cortes orçamentários do governo Bolsonaro em uma área tão estratégica como a educação?
O Governo Federal confiscou o saldo em todas as instituições e universidades federais, um corte de mais de R$ 1 bilhão e as instituições agora ficam sem verbas para os seus custos básicos como conta de água, conta de luz, pagar professores e terceirizados. E nós já apontamos que as universidades vão fechar as portas porque não têm condições básicas para garantir os seu funcionamento e Bolsonaro já aponta o que vai ser o seu próximo mandato, se assim ele assumir, mas o povo brasileiro não vai deixar. Se ele assumir, vai ser um mandato de sucateamento e privatização da universidade pública. Já dá para ir visualizando que o ensino público e gratuito e a qualidade dele não vai ser uma prioridade.
Há um chamado das entidades e dos movimentos estudantis contra esse contigenciamento. Como você imagina a dimensão dessas mobilizações?
Nós protagonizamos o Tsunami da Educação, que levou milhões de estudantes e a sociedade às ruas porque a pauta da educação tem o poder de ampliar a ação de diálogo com a sociedade. Mexer com a educação pública é mexer com o sonho do povo brasileiro, então nós estamos trabalhando atos massivos e a sociedade já está dando esta resposta. Nós protagonizamos o começo do desgaste do governo Bolsonaro e podemos ter capacidade de fechar esse ciclo somado a atos nacionais em defesa do nosso presidente Lula e contra Bolsonaro e as medidas que vão colocar em xeque a educação brasileira.
Voltando para o seu mandato na Alepe, o que será priorizado nos seus primeiros momentos como deputada?
Já estamos conversando e isso foi apontado na construção da nossa plataforma política. Mesmo sendo um movimento do campo, nós vamos atuar em pautas que vão desde a agricultura familiar até as questões da cidade e que transversalizam o campo e a cidade. Hoje tem uma questão para a gente muito central que é o combate à fome no estado de Pernambuco.
Nacionalmente nós temos 33 milhões de brasileiros que estão passando fome, mais da metade da população em situação de insegurança alimentar e nós queremos trabalhar em um programa emergencial de combate à fome no estado de Pernambuco e algo mais estrutural de pensar cozinhas, que o MST já faz, a gente distribuiu 3 mil toneladas de alimentos na pandemia e no estado a gente ampliou isso para além da distribuição de marmitas e cestas básicas, a gente criou Cozinhas Populares. Nós achamos que é muito possível, na verdade, o estado de Pernambuco já devia ter se atentado a isso, sobre a criação de restaurantes populares em que a população tanto em situação de rua como de vulnerabilidade possam se alimentar no valor de R$ 2 ou R$ 3. Essa é a nossa primeira briga que enfrentaremos na Alepe junto com o Governo do Estado de Pernambuco.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga