Justiça

Teórico da conspiração dos EUA que inspira brasileiros é condenado a pagar US$ 965 milhões

Alex Jones sofre nova condenação por espalhar mentiras sobre o massacre de Sandy Hook

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Alex Jones em coletiva de imprensa em Washington - Jaredlholt / Wikimedia Commons

Dono do site de desinformação Infowars, o ativista de extrema direita americano Alex Jones sofreu uma nova condenação nesta quarta-feira (12/10) pela Justiça dos EUA por espalhar mentiras sobre o pior atentado a uma escola na história dos Estados Unidos: o massacre de Sandy Hook, em 2012, em que 20 crianças com idade entre seis e sete anos e seis funcionários foram mortos por um jovem de 20 anos com livre acesso a armas de fogo.

A nova decisão, de um júri do estado de Connecticut, sentenciou Jones ao pagamento de indenização no valor de US$ 965 (R$ 5,1 bilhões). O valor será repartido por 14 parentes de vítimas do massacre – entre pais de crianças e de professores mortos no ataque – e um agente do FBI (a polícia federal dos EUA) que atuou no caso.

Por anos, Jones alegou falsamente que o ataque em Sandy Hook havia sido uma "encenação" orquestrada por interessados em aumentar o controle sobre armas nos Estados Unidos – no país, famoso pelo acesso fácil a armas de fogo e massacres recorrentes, há mais armas em poder de civis do que cidadãos.

O novo julgamento teve depoimentos de pais e irmãos das vítimas. Eles relataram que por anos sofreram com ameaças enviadas por pessoas que acreditaram nas mentiras contadas por Jones. Erica Lafferty, filha da diretora assassinada da escola, Dawn Hochsprung, afirmou que recebeu ameaças de estupro e teve que se mudar várias vezes nos últimos anos após seus endereços serem publicados na internet por seguidores de Jones.

Mark Barden, pai de uma das vítimas, contou que recebeu mensagens de pessoas que afirmaram ter urinado no túmulo de seu filho, Daniel, morto aos 7 anos, e ameaçaram desenterrar o caixão.

Advogados das famílias das vítimas argumentaram no julgamento que Jones lucrou por anos com as mentiras sobre o atentado, recebendo tráfego para seu site, o Infowars, e impulsionando as vendas de seus produtos. Documentos legais mostram que os negócios de Jones faturaram mais de US$ 165 milhões entre 2015 e 2018.

Em agosto, Jones já havia sido condenado por um júri do Texas a pagar US$ 49,3 milhões (R$ 260 milhões) à família de uma das crianças mortas no ataque. Jones ainda deve enfrentar um novo julgamento em Austin, no Texas.

A quantidade de indenizações devidas por Jones deve aumentar a pressão financeira contra o propagador de desinformação. Também levanta dúvidas sobre a existência do Infowars no futuro – o site foi banido do YouTube, Spotify e Twitter por propagar mensagens que incitam o ódio.

Jones é amplamente conhecido em círculos de extrema direita e seu estilo serviu de modelo para imitadores mundo afora. Ele já foi chamado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro de "guerreiro", e suas publicações já foram compartilhadas por figuras do bolsonarismo como as deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli. Em março de 2020, Jones entrevistou o filho do presidente da República sobre os perigos do "socialismo (...) e como o despertar global está acontecendo e levará a grandes coisas para os amantes da liberdade".

Além de espalhar mentiras sobre o massacre de Sandy Hook, Jones regularmente repete teorias conspiratórias sobre os atentados do 11 de Setembro, o ex-presidente Barack Obama, a pandemia de covid-19 e sobre uma suposta "Nova Ordem Mundial". Mais recentemente, ele esteve diretamente envolvido no protesto de 6 de janeiro de 2020, que resultou na invasão da sede do Congresso americano por uma turba de extremistas.

Famílias sofreram ameaças e intimidações

No julgamento de agosto no Texas, Neil Heslin e Scarlett Lewis, que moveram o processo contra Jones, haviam relatado em depoimento ao tribunal o sofrimento por que passaram ao longo de dez anos de trauma: primeiro, com a morte do filho e, depois, ao terem sua casa alvejada por tiros, serem intimidados por pessoas estranhas na rua e receberem ameaças pela internet e pelo telefone – tudo, afirmam, foi incentivado por Jones e seu site Infowars.

A mãe da criança chegou a confrontar Jones em um dos momentos do julgamento. "É incrível que nós tenhamos que estar aqui fazendo isso, que tenhamos que implorar para que você seja punido e pare de mentir."

Ao longo do processo, Jones também foi confrontado pelos advogados da família ao alegar que não usava emails. A defesa apresentou uma correspondência do Infowars em que um funcionário relatava receitas de 800 mil dólares em um único dia com a venda de produtos no site.

Durante o julgamento, a empresa de Jones, Free Speech System, controladora do portal Infowars, entrou com pedido de falência. Pais das vítimas de Sandy Hook afirmam que o movimento foi uma estratégia para evitar as indenizações e alegam que o ativista tirou 62 milhões de dólares da companhia e criou dívidas inexistentes no valor de 65 milhões de dólares – valor que seria inteiramente devido a uma outra companhia controlada por Jones, a PQPR Holdings.