No rádio

Conheça o Radinho BdF: um portal sonoro de encantos e direitos voltado às crianças e famílias

Premiado, programa semanal realizado pelo Brasil de Fato propõe protagonismo infanto-juvenil

Ouça o áudio:

Radinho BdF, programa de rádio do Brasil de Fato, é dedicado ao público infanto-juvenil e aborda a importância das informações para as crianças - Pedro Stropassolas
A gente idealizou um projeto que fosse um lugar que as crianças escutassem outras crianças

João já tem uma resposta quando lhe perguntam se as crianças podem falar sobre tudo.

"Olha na minha opinião não tem nenhum assunto que não é de criança. Realmente é horrível isso de achar que 'eu não faria isso na frente de criança. Não, é não. Não sei o que. Blá blá blá' Eu acho isso ridículo", argumenta.

Com 8 anos, ele ajuda a construir o Radinho BdF, um programa semanal do Brasil de Fato voltado às crianças e suas famílias. 

Durante os 30 minutos de programação, há de tudo um pouco, são brincadeiras, contação de histórias, receitas, e informação importante para quem cuida dos pequenos e pequenas.

Acompanhe as edições: Radinho BdF

Além de comandar o projeto, Camila Salmazio participou da concepção do podcast, criado em abril de 2020, durante o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus. 

"Então a gente idealizou um projeto que fosse um lugar que as crianças escutassem outras crianças. Depois que elas estavam fora da escola, mas também que fosse um ponto de apoio para as famílias que estavam confinadas naquele momento. Tanto para os cuidadores como para as próprias escolas ter um ponto de apoio, de escuta conjunta, de ligação entre as famílias. Mas também de desenvolvimento de assuntos que eram tabu naquele momento. Então, foi assim que o Radinho foi pensado inicialmente", define a jornalista. 

As edições abrem espaço para ouvir opiniões, análises e vivências das próprias crianças. Sofia, por exemplo, sugere para a próxima edição do Radinho falar sobre unicórnios. E ela garante que eles existem, em todas cores.

"É porque na internet quando eu escrevo 'unicórnio', quando meu pai mostra e deixa eu ver o unicórnio no celular. Eu vejo assim algumas fotos de unicórnios reais", explica a menina.  

Ela já participou de algumas edições, e conta os locais preferidos para escutar o Radinho.

"Eu ouço no rádio do carro e no rádio da cozinha", afirma. 

Já Isa e Serena ocuparam os estúdios do Radinho para desvendar o universo do K-pop, gênero musical coreano.

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Pautas

As pautas do programa tratam principalmente dos direitos humanos e conquistas sociais. 

"A vacinação contra a covid-19, sobre crianças que não se identificam com o gênero biológico com o qual elas nasceram, a gente fala sobre o aumento da fome, sobre desigualdade social, sobre o trabalho infantil e também assuntos mais leves e relacionados a outros temas como cultura, literatura de cordel", destaca Sarah Fernandes, produtora do programa e também responsável por entrevistas com as crianças. 

Uma das edições preferidas de João foi a que abordou a fórmula dos refrigerantes. Ele se impressionou com o excesso de açúcar e os prejuízos para a saúde de quem toma.

"Inclusive tem tanto açúcar que faz a pessoa passar mal. Só que dentro do refrigerante tem um químico que anula isso. Por isso que quando você está com um enjoo, bebe o refrigerante que passa", lembra. 

Assista:

Produção

Antes de todas as conversas, entrevistas e construções, há uma conversa com as pessoas cuidadoras. Esse é um dos detalhes da especificidade de produzir com o público infanto-juvenil.  

"O adulto já sabe que você vai falar com ele, já tem uma expectativa sobre aquilo, sabe que tem um papel a cumprir, tem algumas informações interessantes para passar e fica mais simples. Até pode pedir para ele, 'ah me passa uma aspa que a gente resolve'. Com a criança não. A criança tem outro tempo, outro vínculo com você", explica Sarah.  "Então, geralmente, quando eu entrevisto as crianças, sempre começo conversando com ela sobre outros assuntos, tentando me aprofundar um pouco mais sobre o que ela gosta, o que ela faz, onde estuda. Entrar um pouco mais no mundo dela pra depois entrar de fato na entrevista", complementa. 

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Protagonismo

Para Camila, fora do Brasil existem muitas publicações jornalísticas voltadas para crianças, inclusive segmentadas por idade. Ela acredita que o Brasil retrocedeu nesse aspecto. 

"A criança ser ouvida é lei. Todos os veículos de comunicação deveriam ter esse espaço não só para conteúdos pensados para elas, mas também escutar as crianças em todas as outras esferas, em todos os outros contextos. Até mesmo para os adultos saberem a opinião das crianças. Mas a gente percebe que a imprensa em geral não investe em conteúdos como esse", salienta.

João concorda com Camila. E acrescenta. Mesmo quando as crianças aparecem na mídia tradicional, não é de uma forma muito  legal

"Eu acho que de um jeitos muito complicados. E vezes até desprezando as crianças", indaga. 

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Premiação

A produção do Brasil de Fato é multipremiada. Somente nos últimos dois meses, foram três prêmios. O programa também recebeu menção honrosa na edição deste ano do Prêmio Vladimir Herzog, com a reportagem Crianças refugiadas discutem no Radinho BdF o direito de migrar.

"Para além dos prêmios, é muito feliz quando a gente recebe e-mails de escolas e de estamos usando o Radinho como apoio, material didático, passei para minha turma, tem um grupo aqui no prédio que está se organizando, quer participar do Radinho. Tem o retorno das próprias crianças também", destaca Camila, que apresenta o Radinho. 

Ouça: Crianças refugiadas discutem no Radinho BdF o direito de migrar

"Perceber as crianças também como sujeitos de direito, portadores de diversos direitos, entre eles o direito à comunicação, o direito a ter uma mídia voltada pra elas, específica para elas, que fale com elas e que informe elas sobre o que tá acontecendo no mundo", defende Sarah.

Edição: Daniel Lamir