Seguindo a tradição consolidada nos processos eleitorais do país, a Band é a primeira emissora a reunir os candidatos à presidência nesta campanha de segundo turno. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se encontram às 20h deste domingo (16).
A emissora promete ao menos uma hora de embate direto entre os postulantes ao cargo máximo da República. Fica no ar a expectativa sobre o real impacto do confronto.
Onde assistir?
Além da Band, emissora que coordena o pool de veículos de imprensa responsável pelo debate, o encontro será exibido também pela TV Cultura e pelo UOL, em seu site, no YouTube e nas redes sociais. A Folha de S. Paulo também participa da organização.
Outros veículos afiliados, como a BandNews e a rádio BandNews FM, também vão transmitir.
As regras
Integrantes das equipes de campanha se reuniram com a organização do debate para definição das regras. O debate será dividido em três blocos, com uma hora e 40 minutos de duração no total.
O primeiro bloco começa com pergunta de um dos mediadores. Bolsonaro será o primeiro a responder. Depois da resposta de Lula, começará o embate direto, em que cada um terá 15 minutos de tempo para dividir entre suas perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. O primeiro a falar será o petista.
O segundo bloco será de perguntas de jornalistas. Quatro profissionais da imprensa farão a mesma pergunta para os dois candidatos, e cada um terá um minuto e meio para responder a cada uma delas, sem comentários ou tréplicas.
No último bloco, o terceiro, formato semelhante ao primeiro: primeiro, pergunta de mediador; na sequência, embate direto, com 15 minutos para cada. A diferença é que, ao final desse embate, cada candidato terá mais um minuto e meio para as considerações finais.
O que esperar?
Em uma eleição polarizada e de ânimos acirrados, o confronto direto entre os candidatos é um dos momentos de destaque. Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, porém, avaliam o impacto real de eventos como esse nas campanhas.
Para o coordenador do Observatório da Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB), Gilberto Maringoni, o debate deve ser visto como um ponto de enfrentamento muito sério e sensível a esta altura.
"Nessas condições concretas que estamos vivendo agora, ou seja, uma eleição extremamente disputada, com dois projetos antagônicos, a necessidade de tirar o fascismo, o debate pode mudar votos e decidir as eleições. Basta ver o seguinte: o último debate da Globo chegou a um pico de audiência de trinta pontos, maior do que a exibição dos capítulos finais de Pantanal", afirma.
O doutor em Ciência Política pela USP Gonzalo Berrón lembra que a televisão ainda tem peso muito grande no debate público, até por que alimenta outras mídias e as redes sociais. O especialista acredita que a proposta de Bolsonaro deve ser baixar o nível do encontro.
"O debate da baixaria não é o forte do Lula, por uma questão de princípios. Lula não pode descer para o nível que Bolsonaro o coloca", pondera.
Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a importância dos debates, hoje, já não é tão grande quanto foi tempos atrás. Para ele, é preciso que haja situações muito excepcionais para que tenha efeito prático nos índices de votação.
"Não creio que debates tenham esse condão de causar grande reviravolta, mas eles podem expor os candidatos aos eleitores indecisos. Esse é o grande objetivo do debate, assim como de toda campanha, a campanha sempre quer ganhar o voto do indeciso", destaca.
O também cientista político Francisco Fonseca, professor da FGV e da PUC-SP, acredita que, na atual circunstância, os debates tendem a ser usados pelas candidaturas para gerar "cortes" para as redes sociais.
"Não estou dizendo que [debates] não sejam importantes, mas já foram muito mais importantes na história brasileira do que são agora", afirma. "É muito menos um debate, e muito mais uma tentativa de estabelecer lances, pra serem, esses lances, a favor dos candidatos, veiculados em outras mídias. É um pouco essa ideia."
A tese de Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS) é semelhante. Ela ressalta o aspecto único dessa eleição, com dois candidatos bem conhecidos, que já presidiram o país. Nesse cenário, diz ela, os debates "não vão ter como objetivo apresentar ou consolidar as preferências já estabelecidas mas atuar na rejeição".
"Acredito que a principal estratégia será mobilizar a rejeição e produzir peças pra serem divulgadas, peças menores, videozinhos menores para serem divulgados nas redes."
A economista Juliane Furno, integrante da equipe de campanha de Lula, reconhece: "debate não vence eleição". Porém, apesar de, na avaliação dela, esses encontros terem baixa possibilidade de mudar votos, eles são relevantes no contexto da corrida eleitoral.
"O debate é muito importante pelo seu efeito secundário. O candidato ir bem no debate anima a sua tropa, a fortalece. Um grupo fotalecido e animado ganha as eleições", complementa.
Edição: Rodrigo Durão Coelho