ódio bolsonarista

Arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, é alvo de ataques e fala em ‘ascensão do fascismo’

Após compartilhar reflexão, o arcebispo de São Paulo foi chamado de “comunista”,aliado de Lula e pró-aborto

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"Se alguém estranha minha roupa vermelha, saiba que a cor dos cardeais é o vermelho, simbolizando o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for" - Reprodução

O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, foi alvo de ataques bolsonaristas nas redes sociais, nos últimos dias. De vertente conservadora da Igreja e próximo ao ex-governador Geraldo Alckmin, dom Odilo republicou nesta segunda-feira (17) em seu Twitter artigo do ex-chanceler Celso Lafer.

No texto, Lafer fala sobre os anos de formação do filósofo e historiador italiano Norberto Bobbio (1909-2004). O pensador se desenvolveu intelectualmente “na Itália do fascismo de Mussolini”, época em que valores e práticas do regime fascista, segundo Bobbio, eram “a glorificação da violência; a contestação da democracia, do Estado de Direito e da divisão dos Poderes; a afirmação belicosa de um Estado potência no plano internacional”, entre outros, nas palavras de Lafer.

Ainda no domingo, dom Odilo Scherer havia postado no Twitter a opinião de que vivemos “tempos estranhos”. “Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!”

Isso porque, depois de compartilhar reflexão sobre a permanência da “fé em Deus” depois das eleições, o arcebispo de São Paulo foi alvo de ataques. Foi chamado de “comunista” por usar roupas vermelhas, apontado como aliado de Lula e acusado de apoiar o aborto, o que é repudiado pela igreja.

“Escrevi muitos artigos contra o aborto, colocando claramente minha posição”, escreveu o arcebispo. Sobre suas vestimentas, ele explicou: “Se alguém estranha minha roupa vermelha (perfil), saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos. Mas… ninguém machuque ninguém!”

Católicos e pesquisas

Os possíveis reflexos das atitudes de Jair Bolsonaro (PL) em relação aos católicos é um dos pontos mais aguardados nas próximas pesquisas. O último levantamento do Datafolha, por exemplo, na sexta-feira (14), já trazia ecos da desastrosa passagem do presidente por Aparecida no 12 de outubro, dia da padroeira.

Na ocasião, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, fez um discurso carregado de simbologia. Ele falou no “dragão, que já foi vencido, a pandemia”, e acrescentou: “mas temos o dragão do ódio, que faz tanto mal, e o dragão da mentira. E a mentira não é de Deus, é do maligno”. No mesmo dia, Bolsonaro passou pelo templo para fazer campanha e seus seguidores provocaram tumulto, beberam cerveja em plena celebração da santa e vaiaram o próprio arcebispo de Aparecida. Analistas e religiosos aformaram nunca terem visto desrespeito igual à data sagrada para o catolicismo brasileiro.

No dia 14, Lula havia subido dois pontos percentuais entre católicos no Datafolha, de 55%, uma semana antes, para 57%, enquanto Bolsonaro foi de 38% para 37%. Analistas acreditam que a tendência é de as pesquisas desta semana mostrarem mais prejuízos às intenções de voto do presidente no segmento. Isso porque a repercussão continuou durante a semana e cresceu entre os líderes e prelados católicos nos últimos dias. Os ataques a dom Odilo só aumentam a rejeição de Bolsonaro nesse setor.