Historicamente ativo na sociedade e na política brasileira na luta pela reforma agrária e pela produção e comercialização de alimentos saudáveis, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) elegeu seis deputados estaduais e federais em todo o país nas eleições 2022. Pelos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, o movimento terá um parlamentar. No Rio Grande do Sul, serão dois.
Apesar de não ser inédita a conquista de deputados ligados ao MST, esta foi a primeira vez que foram lançadas candidaturas oficiais coordenadas por sua direção. Segundo o movimento, não basta só mudar os poderes executivos, mas também promover parlamentares comprometidos com a construção de um projeto popular para o Brasil.
No Rio Grande do Sul, Adão Pretto Filho (PT) foi eleito para seu primeiro mandato como deputado estadual e vai ocupar o posto que está atualmente com seu irmão, Edegar Pretto (PT), que concorreu ao governo estadual. Na Câmara Federal, Dionilso Marcon (PT) foi reeleito.
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Os parlamentares do MST carregam o legado de Adão Pretto, eleito deputado estadual constituinte no RS pelo PT em 1986. Com as portas abertas aos movimentos populares, foi deputado federal de 1990 até 2009, quando faleceu durante seu sexto mandato consecutivo.
Adão Pretto Filho segue legado familiar
Em âmbito gaúcho, Ildo Pereira, da direção nacional do MST, recorda que o movimento sempre conseguiu manter um representante “desde o primeiro mandato do saudoso Adão Pretto”. Destaca que esse mandato dialoga não só com a pauta do MST, mas com a agricultura familiar e com o povo urbano.
“Essa conquista de eleger o Adão Pretto Filho aqui dialoga com o tema que é central no nosso país, que é a fome, que nesse governo federal se agravou. Certamente que também vai ter esse espaço pro povo urbano que passa por necessidade, tanto na questão da fome quanto na educação, saúde, questão de gênero, pautas que esse deputado, não temos dúvida, vai também ajudar muito”, afirma.
Adão Pretto Filho foi eleito com 66.457 votos e diz entender a responsabilidade da votação expressiva. “Eu sei do peso positivo que eu carrego ao levar o legado de Adão Pretto, meu pai, também levar o trabalho que o Edegar conduziu como deputado estadual e manter aberta essa porta para os movimentos populares, pra reforma agrária em especial. Nosso mandato vai ser uma trincheira de luta dos movimentos, mas também para resgatar a dignidade do povo trabalhador gaúcho.”
O deputado eleito foi vereador de Viamão entre 2017 e 2020, cidade que abriga o assentamento Filhos de Sepé, que tem a mais extensa área de produção de arroz do MST. O movimento é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. “Eu tive essa satisfação de uma decisão coletiva dos assentados, do povo da vila, da comunidade, que me deram essa tarefa”, comenta, afirmando que agora vai expandir suas pautas para todo o estado.
Uma das experiências exitosas que quer reproduzir é o estabelecimento de feiras de produtos orgânicos e economia solidária. Quer também continuar o debate sobre a proibição de pulverização aérea de agrotóxicos, iniciativa que tentou em Viamão e que serviu de inspiração para legislação no município de Nova Santa Rita.
“É uma demanda tanto do campo quanto da cidade, que cada vez mais quer consumir produtos saudáveis, porque a gente sabe dos altos índices de câncer em nosso país e nosso estado, fruto da alta escala de produção de agrotóxico”, avalia. Destaca ainda o projeto de bioinsumos para a agricultura, que reduz o índice de uso de agrotóxicos, aumenta a produtividade e é alternativa limpa e mais barata.
Adão Pretto Filho também se compromete a seguir trabalhando pelo povo da cidade que sofre pela falta de regularização fundiária. “Tem muitos bairros, vilas e ocupações ainda irregulares, queremos fazer o debate com muita franqueza, a gente sabe a importância do cidadão, da família ter um documento da terra, do seu lote, do seu espaço de moradia, vai ter a tranquilidade de deixar para seus filhos”, diz.
Defende ainda mais investimento na saúde pública e na educação e tem como foco elevar a autoestima da juventude. “Parte da nossa juventude brasileira e gaúcha está sem perspectiva, fruto de um governo que não tem um programa. A gente viu recentemente o governo federal cortando recursos do orçamento do Ministério da Educação, isso é tirar a possibilidade do filho do trabalhador ir pra universidade, da nossa juventude ter a qualificação e dignidade”, assegura.
Sobre o segundo turno, afirma que a principal tarefa é eleger Lula presidente. No estado, traz frase de seu pai para definir a disputa entre Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB): “farinha do mesmo saco, projetos muito semelhantes, muda a cor da bandeira, mas o gosto é amargo para o povo gaúcho”.
Critica a posição de Leite, que se aproxima do PT em busca dos votos dados a Edegar, mas não informa em qual palanque federal vai estar. “Ficar em cima do muro para nós pouco adianta. Evidente que a gente não vai estar no governo dele, mas ele tem que minimamente assumir alguns compromissos, de não vender o patrimônio público, de ter uma ação mais social pro povo trabalhador e sinalizar apoio ao presidente Lula.”
Dionilso Marcon mantém espaço federal
Já no espaço federal, Dionilso Marcon foi reeleito. Ildo recorda que o deputado é fruto da luta do movimento. “É um companheiro que hoje mora num assentamento e defende a agroecologia, como o Adão Pretto”, afirma.
Reeleito com 122.555 votos, Marcon viveu acampado por quatro anos, fez parte da direção do MST e foi assentado em 1994, no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, onde mora até hoje. Integra a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), uma das maiores produtoras de arroz orgânico da América Latina.
Para ele, o novo mandato terá o desafio para a esquerda de enfrentar uma bancada de direita fortalecida. “Por isso precisamos fazer um mandato popular articulado com as ruas, com o movimento sindical, com o movimento popular, com o movimento comunitário. Temos que fazer esse debate e se a gente continuar com um presidente da direita, será pior ainda para o país”, alerta.
Marcon defende fortalecer as pautas da democracia, dos direitos humanos, da soberania nacional e dos direitos do nosso povo: “questão agrária, reforma urbana, combate à fome, à perseguição, é isso que nós temos que levar pro mundo inteiro”, afirma.
O deputado federal aposta na eleição de Lula para que o país volte a ter geração de emprego, redução da inflação e do custo de vida da população e de orçamento para saúde e educação. “A outra é terminar com esse maldito orçamento secreto, que só se trata dos amigos e compadres do rei, temos que terminar isso com a eleição do Lula”, reforça.
"Saímos vitoriosos"
Ainda avaliando as candidaturas alinhadas com as bandeiras do MST, Ildo lamenta que outros parlamentares que mantinham um diálogo próximo não tenham sido eleitos. E destaca parcerias com outros eleitos: “Nesse último momento, aqui, tivemos apoio muito importante do deputado Paulo Pimenta (PT), se não fosse essa parceria que ele teve com o movimento aqui no RS, no tema da educação, nós não teríamos formado uma turma de Agronomia e também não teríamos conseguido manter as turmas de Veterinária em Pelotas, devido aos cortes que o governo Bolsonaro fez na educação.”
O dirigente do movimento conta também que a candidatura de Edegar Pretto ao governo do estado é uma iniciativa vitoriosa do MST. “Edegar é um candidato do MST, então no nosso sentimento é que saímos vitoriosos, a partir da expressão e da mensagem que ele deixou pra sociedade gaúcha, que veio da luta do MST.”
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko