Não devo entrar nessa provocação meu caro Moro. Teve corrupção, sim
Quem acompanha a política de forma mais atenta, sabe que o retorno do ex-juiz e ex-minitro da Segurança Pública Sergio Moro, para os braços do Bolsonaro, não é novidade e tampouco algo surpreendente.
Acontece que a coisa vai muito além do que está nas redes ou imprensa. Em grupos privados de Whatsapp, Moro chegou a defender a postura de Kelmon Luís da Silva, o candidato que se fingia de padre, durante o primeiro turno das eleições presidenciais.
No mesmo grupo de Whatsapp onde o ex-juiz e ex-ministro levou uma carraspana do cineasta Lucas Mesquita, ao ser chamado de ‘tchutchuca de genocida’, Moro protagonizou um outro episódio no mínimo curioso.
Durante o debate ocorrido na Rede Globo, no dia 29 de setembro, um dos membros do grupo afirmou que “o padre conseguiu desestabilizar o Lula" e Moro responde em tom elogioso: “Sim. Com a verdade”.
Nesse momento Moro é interpelado por outro membro do grupo que questiona o fato do ex-chefe da Lava Jato apoiar o falso padre que, segundo ele, seria um “candidato laranja e preparado pelo Carluxo" (apelido dado à Carlos Bolsonaro, filho do presidente).
Moro então responde a mensagem dizendo: “Ah, desculpe, não teve corrupção no Governo do PT”
Então, um outro membro do grupo rebate afirmando que tiveram casos de corrupção no governo, mas também no governo Bolsonaro. Ele ainda ressalta que, diferente do governo do atual presidente, as gestões petistas tinham órgãos de controle. E que hoje eles são aparelhados por Jair Bolsonaro.
Um outro membro também entra na discussão e responde a mensagem do Moro dizendo: “Não devo entrar nessa provocação meu caro Moro. Teve corrupção, sim. Você também deve saber muito sobre o governo do qual participou. E agora apoia” e completa dizendo que “ironia não é bom argumento”.
A discussão é encerrada, com outro membro questionando o horário do debate e dizendo que muitos trabalhadores poderiam não estar assistindo. E que, por conta disso, dificilmente isso mudaria algo nas eleições.
Depois dessa discussão, Moro decidiu participar do debate do segundo turno, no pool formado pelo Grupo Bandeirantes, ao lado do presidente como um de seus assessores.
*Cleber Lourenço é observador e defensor da política, do Estado Democrático de Direito e da Constituição. Com passagens pela Revista Fórum e Congresso em Foco. Twitter e Instagram: @ocolunista_
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Gomes