A primeira pergunta que Lucas Mesquita dirigiu ao público foi: "alguém aqui perdeu algum familiar ou pessoas próximas na pandemia?"
A primeira resposta foi de uma mulher que tinha perdido a mãe e o padrasto, duas das mais de 680 mil vítimas da covid-19 e do descaso por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), como demonstrado durante as quase duas horas do documentário "Eles poderiam estar vivos". "É muito difícil, eu não sei como estou aqui", disse a mulher que, chorando, agradeceu pelo trabalho documental sobre a forma trágica em que o Brasil atravessou a pandemia.
Os relatos davam continuidade aos testemunhos exibidos no documentário. O longa-metragem reúne depoimentos de pessoas que perderam familiares e amigos durante a pandemia e entrevistas com médicos, epidemiologistas e pesquisadores. Lucas Mesquita esteve em Buenos Aires, na Argentina, para apresentar, nesta terça-feira (25), o trabalho que dirigiu com seu irmão, Gabriel Mesquita. A exibição do filme aconteceu na Casa Pátria Grande, no centro da cidade de Buenos Aires, no marco da campanha do núcleo do PT na Argentina.
:: ‘Prevent Senior tinha permissão para matar em nome de fórmula milagrosa’, diz senador ::
O diretor de cinema que foi notícia nas últimas semanas por dizer diretamente a Sergio Moro que ele tinha "as mãos sujas de sangue" em um grupo no WhatsApp contou como havia uma empatia profunda com os entrevistados do documentário, na roda de conversa que se formou após a exibição do filme. Citou, por exemplo, o caso de uma mulher que perdeu a mãe e todos os irmãos.
"Foi um plano do governo", disse. "Qual é a grande questão criminosa aí? A estratégia da suposta imunidade de rebanho por contágio. Um assassinato em massa", concluiu, citando a constante aposta do governo Bolsonaro em uma suposta "recuperação rápida da economia". "O curioso do governo Bolsonaro é que os crimes não são por debaixo dos panos, são transmitidos ao vivo e nas lives".
A aparição das novas variantes como consequência da estratégia negacionista sobre a pandemia do governo brasileiro também foi relembrada. "Elas não surgiam ao azar. Não foi azar do Brasil. Foi o trabalho que o governo fez e que incentivou", disse Mesquita.
:: Tarcísio faz ato de campanha com Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina e indiciada pela CPI ::
Patricia Costa, brasileira, e Martín Amicone, argentino, concordaram. Casal de médicos, do SUS de São Paulo, Patricia e Martín são integrantes de uma rede de médicos populares e destacaram como o filme relembrou dias intensos de trabalho.
"Na pandemia, o profissional de saúde no Brasil estava exausto e violentado, de várias formas", continuou Patricia, destacando as tentativas de tirar a credibilidade do setor diante da forte campanha de desinformação por parte do governo nacional. "Alguns pacientes chegavam pedindo 'o remédio do Bolsonaro'", diz Patricia. "Nem chegavam a citar nomes dos remédios falsos, não diziam 'cloroquina' ou 'ivermectina'. Diziam 'o remédio do Bolsonaro', para ver o gigante que foi tudo isso."
Martín complementou com o que costumava escutar: "Quero o remédio que o presidente está falando que funciona."
:: Bancada negacionista: médicos que defenderam tratamento ineficaz disputam eleição ::
"Sinto uma vergonha enorme por profissionais da saúde ainda votarem no Bolsonaro", disse Patricia, emocionada. "Precisamos acabar com isso, com esse genocídio em massa que afetou a população brasileira", conta, relembrando os muitos pacientes que perdeu nesse período.
O filme "Eles poderiam estar vivos" é uma produção independente e está disponível gratuitamente no YouTube.
Edição: Thales Schmidt