Profissionais da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) receberam nesta terça-feira (25) o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Contribuição ao Jornalismo. A homenagem celebrou a luta em defesa da comunicação pública, sob ataque desde 2016, quando Michel Temer (MDB) assumiu o Governo Federal após o golpe contra Dilma Rousseff. A situação ficou ainda pior nos quatro anos de governo de Jair Bolsonaro (PL).
O Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que chegou à 44ª edição, é a maior distinção da categoria. Além do coletivo de trabalhadores da EBC, foram destaque as jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, do site Amazônia Real, e o jornalista britânico Dom Phillips, assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, junto ao indigenista Bruno Pereira.
Esta não foi a primeira vez que a EBC foi destaque no Prêmio Herzog. Desde 2005, a empresa pública recebeu sete troféus e 13 menções honrosas na mesma premiação por conteúdos produzidos por jornalistas da casa. A trajetória foi interrompida a partir de 2016, com o golpe que tirou a presidenta Dilma do poder e esvaziou a Lei da EBC (11.652/2008), tirando instrumentos de controle social e abrindo caminho para a censura. A empresa administra dez veículos de mídia, incluindo a TV Brasil, a Agência Brasil e as rádios Nacional e MEC.
A jornalista Kariane Costa, vítima de um processo interno que pode culminar em demissão "por justa causa", foi uma das representantes do coletivo de trabalhadoras e trabalhadores da EBC para receber o prêmio, entregue no teatro Tucarena, em São Paulo.
"A luta pela defesa da comunicação pública e contra a censura dos trabalhadores e trabalhadoras da EBC ficará marcada na história. Foram quatro anos de muita resistência. Os relatórios de censura e a Ouvidoria Cidadã da EBC, mais o trabalho dos sindicatos e da Frente em Defesa da EBC nos trouxeram até aqui. Muitos colegas, perseguidos, assim como eu, censurados, adoeceram, mas ainda estamos aqui, unidos e prontos para reconstruir a EBC", disse a jornalista.
Nos últimos anos, quatro dossiês elaborados por profissionais da empresa reuniram mais de 530 casos de censura a conteúdos de relevância. A preferência da direção da empresa foi por dar espaço ao governismo, com pautas "chapa-branca", e abordar temas sem qualquer relevância em detrimento de tratar sobre a questão indígena ou ambiental, a morte da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, e até a própria pandemia de covid-19.
"Sabemos também que não tem sido fácil para os jornalistas e radialistas comprometidos com a ética profissional. Aproveitamos para prestar solidariedade aos colegas de emissoras universitárias, da Rede Minas e Rádio Inconfidência, da TVE e da FM Cultura do Rio Grande Sul e da Rádio Cultura do DF, que também sofrem censura, privatizações e abusos de governos estaduais", complementou Kariane Costa, em discurso lido ao receber a premiação.
Assista à cerimônia:
Edição: Nicolau Soares