O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta quinta-feira (27) que o país não precisa realizar um ataque nuclear no território da Ucrânia. A declaração foi durante a sessão plenária de uma reunião do Clube de Discussão Valdai.
"Não precisamos fazer isso. Não tem sentido, nem político nem militar", disse Putin durante a plenária intitulada "Mundo pós-hegemonia: justiça e segurança para todos".
Em um discurso de cerca de uma hora, Putin lembrou que o único país do mundo que usou armas nucleares contra um Estado não nuclear foram os Estados Unidos. O líder russo aconselhou a leitura da doutrina nuclear da Federação Russa para entender em qual caso o país pode usar tais armas.
As autoridades russas vêm repetidamente declarando que, de acordo com a doutrina militar da Federação Russa, Moscou pode usar armas nucleares em resposta ao uso de tais armas contra ela ou seus aliados, bem como em caso de agressão com o uso de armas convencionais "quando a própria existência do Estado está ameaçada".
Antes do discurso de Putin, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o discurso do presidente russo "provavelmente terá que ser analisado, estudado, lido e relido por muitos dias".
Críticas ao Ocidente e valores tradicionais
Ao comentar a situação relacionada ao conflito da Ucrânia, Putin reiterou suas tradicionais teses de crítica ao Ocidente, argumentando que o bloco "tomou medidas nos últimos anos e especialmente meses para fomentar a guerra na Ucrânia e desestabilizar os mercados globais de alimentos e energia".
"Ter poder sobre o mundo é exatamente o que o Ocidente apostou em seu jogo, mas esse jogo é certamente perigoso, sangrento e sujo. Nega a soberania de países e povos, sua originalidade e singularidade, não leva em conta em nada os interesses de outros Estados", afirmou Putin.
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De acordo com o líder russo, o "Ocidente afirma que sua cultura e visão de mundo devem ser universais". "A confiança [do Ocidente] em sua infalibilidade é um estado muito perigoso", acrescenta.
Ao mesmo tempo, Vladimir Putin destacou que a Rússia não se considera inimiga do Ocidente. De acordo com ele, em sua comunicação com a Otan e o Ocidente, a Rússia sempre manteve uma mensagem: "vamos conviver juntos", sem pretensões de desafiar as elites do Ocidente e de tornar-se uma espécie de hegemonia".
De acordo com ele, o Ocidente admite abertamente ter financiado o golpe de Estado na Ucrânia em 2014.
"O Ocidente lança guerras econômicas comerciais, sanções, boicotes, revoluções coloridas, prepara e conduz vários tipos de golpes. Um deles levou a consequências trágicas na Ucrânia em 2014. Eles os apoiaram, disseram quanto dinheiro gastaram nesse golpe", afirmou.
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Um tom de conservadorismo
Em suas críticas aos valores ocidentais, o presidente russo voltou a usar sua cartilha conservadora e defender os valores tradicionais russos em oposição às pautas da comunidade LGBTQIA+.
"A verdadeira democracia é quando cada nação escolhe seu próprio caminho. Os valores tradicionais, ao contrário dos neoliberais, não podem ser impostos a ninguém, porque as tradições de cada um são diferentes. Se o Ocidente quer ter dezenas de gêneros e paradas gays, deixe-os fazer o que quiserem. Não adentramos no quintal dos outros. Mas as tentativas de trazer todos sob um modelo são condenáveis", declarou Putin.
Durante sessão plenária nesta quinta (27), "os deputados da Duma (câmara baixa do parlamento russo) aprovaram por unanimidade em primeiro turno as emendas à legislação que proíbem a promoção das relações sexuais não tradicionais", diz o comunicado publicado no site do parlamento.
A lei havia sido submetida no dia 20 de outubro, sendo uma ampliação e um endurecimento da lei que entrou em vigor ainda em 2013 na Rússia.
A antiga lei proibia a "propaganda" entre menores, mas agora as novas medidas não teriam mais essa restrição, sendo aplicadas a todos. O que o Kremlin atualmente classifica como propaganda de "relações não tradicionais" será restringido na internet, nos livros, em filmes e peças publicitárias.
Agora a lei ainda será submetido à Câmara Alta (o Conselho da Federação). Se aprovada, chega a Putin para ser promulgada.
Edição: Arturo Hartmann