Se a Petrobras continuasse cumprindo com a política de preços praticada durantes os primeiros três anos e meio do governo de Jair Bolsonaro (PL), nesta sexta-feira (28), a gasolina estaria sendo vendida nas refinarias R$ 0,75 mais cara, e o diesel num valor R$ 1,20 mais alto.
A defasagem em relação ao preço do mercado internacional – calculada diariamente pela pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) – é de 18%, no caso da gasolina, e 20% no diesel.
A relativização da tão defendida política de preço de paridade de importação (PPI) às vésperas da eleição demonstra que a empresa não precisa repassar os preços internacionais ao consumidor, como fez durante praticamente toda a gestão Bolsonaro. É o que explica o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps). "O custo de produção da Petrobras não muda com a variação do preço internacional, a Petrobras não precisa repassar os preços internacionais", argumenta.
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"Mas não é esse o objetivo da Petrobras. A Petrobras só está represando preços para não ter custos políticos para campanha do Bolsonaro", completa.
Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, "essa defasagem existe por conta de uma manobra eleitoreira do presidente da República". "Desde o início do mandato, Bolsonaro dizia que era impossível fazer alterações na política de preços dos combustíveis, mesmo indicando o presidente da companhia e a maioria dos membros do conselho de administração da Petrobras", diz o trabalhador da Petrobras.
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E quando a eleição passar?
"Nós estamos alertando que a partir de novembro os preços explodirão porque os acionistas minoritários já estão pressionando a alta administração da Petrobras pra cumprir a política de preços, para ter esse reajuste no diesel e na gasolina, fazendo com o que os preços fiquem de acordo com o PPI", alerta Bacelar.
Para o economista Cloviomar Cararine Pereira, do Dieese, uma breve análise nos dados da Abicom permite dizer que Bolsonaro utiliza a Petrobras para ajudá-lo no processo eleitoral. "A Petrobras deixa praticamente de executar a política de preços para favorecer o candidato Bolsonaro nas eleições."
"Quando os preços caíram, a empresa rapidamente reajustou os preços para baixo, mas quando o preço voltou a subir, mais recentemente, ela não tá reajustando na mesma velocidade", argumenta.
Pereira, porém, entende que o governo Bolsonaro também fez uso político da Petrobras durante os primeiros três anos e meio de gestão, quando a empresa serviu unicamente para pagar dividendos a acionistas, onerando a população com preços altos e vendendo ativos da empresa. Segundo ele, essa lógica deve retornar após o pleito.
Somente nos seis primeiros meses de 2022, a Petrobras lucrou R$ 98 bilhões, apenas 7% a menos do que o lucro recorde de R$ 106 bilhões registrado no ano passado.
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No mesmo período, o primeiro semestre deste ano, os acionistas da empresa receberam R$ 136 bilhões em dividendos, o que equivale a 138% do lucro líquido da empresa. Quase a metade desse valor – 43% – é remetido para acionistas estrangeiros
"Nesses três anos e meio iniciais, a Petrobras foi uma empresa que gerou muito lucro e que pagou altos dividendos. Grande volume, quase metade, desses dividendos para fora do Brasil. Uma grande geradora de lucros para jogar dinheiro para fora do Brasil", questiona o economista do Dieese.
Edição: Rodrigo Durão Coelho