A vantagem consistente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno das eleições presidenciais parece ter feito cair todos os filtros que ainda havia entre alguns cabos eleitorais de Jair Bolsonaro (PL). Não foram raros os casos em que empresas e até agentes públicos partiram para o "vale tudo" em busca de uma virada que parece cada vez menos provável.
Um dos assuntos mais debatidos desde a votação que levou o petista e o atual presidente para o segundo turno, o assédio eleitoral cresceu de maneira assustadora nas últimas semanas. Se antes da votação em 2 de outubro haviam sido registrados 61 casos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), de lá para cá foram mais de 1.570 casos, segundo dados enviados pelo MPT ao Estadão. A grande maioria das tentativas de coação foi conduzida por parte de patrões bolsonaristas.
Em um dos casos recentes, funcionários da Rede Internacional de Televisão (RIT), emissora ligada à Igreja Internacional da Graça de Deus, de propriedade do pastor R. R. Soares, afirmaram que foram orientados a veicular conteúdos favoráveis a Bolsonaro na programação. Além disso, como revelou a Folha de S. Paulo, houve ameaças de perdas de postos de trabalho em caso de vitória lulista.
Em Minas Gerais, na cidade de Betim, funcionários de dois frigoríficos denunciaram que foram obrigados a usarem roupas verde-amarelas pelos donos das empresas, que ainda prometeram um pernil para cada um, caso seu candidato fosse eleito. De acordo com reportagem da Globo, após a denúncia ao MPT, os donos foram obrigados a divuglar uma retratação pública e podem receber multa de R$ 1 milhão cvaso descumpram o acordo.
No Rio Grande do Norte, 36 empresas, órgãos públicos e pessoas foram denunciados por algum tipo de assedio eleitoral, 29 investigações foram abertas, gerando 48 recomendações no estado, de acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
"Brincadeiras" e recusas
Outro caso que ganhou os holofotes foi o do parque Beto Carrero World, em Santa Catarina. Nas redes sociais, a administração do parque temático fez campanha aberta para Bolsonaro, oferecendo descontos para quem comparecesse ao local com camisas em verde e amarelo. Diante da repercussão, a equipe achou por bem fazer uma "piada", dizendo que pessoas de camisas vermelhas também teriam direito ao tal desconto - desde que ficassem por lá entre as 8h e as 17h de domingo (30), ou seja, se abstivessem de votar.
As denúncias se estenderam também a agentes públicos. A Folha revelou que a Corregedoria-Geral da Polícia Federal está investigando suposta recusa de policiais escalados para realizar diligências que poderiam resultar na prisão de empresários bolsonaristas. Um dos casos aconteceu em Goiânia, onde um frigorífico ofereceu picanha a R$ 22 no dia da votação em primeiro turno, em alusão ao número de urna do PL, partido de Bolsonaro. O caso terminou em morte: uma mulher não sobreviveu após ser pressionada em meio ao tumulto.
Edição: Nicolau Soares