A Rússia suspendeu neste sábado (29/19) sua participação no acordo intermediado pela ONU para permitir o escoamento da produção de grãos da Ucrânia através do Mar Negro.
A decisão de Moscou, que gera prejuízos aos esforços para aliviar a crise alimentar mundial, foi tomada após o Kremlin relatar um ataque de drones ucranianos à frota russa na Península da Crimeia.
O Kremlin alega que a Ucrânia atacou sua frota nas proximidade de Sevastopol, capital da Península anexada ilegalmente por Moscou em 2016. Segundo o Ministério russo da Defesa, o ataque, que classificou como "terrorista", envolveu 16 drones e contou com a ajuda de especialistas da Marinha britânica.
Moscou afirma ter repelido o ataque, que teria causado somente danos menores em um navio caça-minas, e disse que as embarcações que seriam os alvos estavam envolvidas na manutenção da segurança no corredor marítimo no Mar Negro.
O Ministério do Exterior afirmou que, após os supostos ataques, "a parte russa não pode garantir a segurança das cargas civis que participam da 'Iniciativa do Mar Negro' e suspende sua implementação a partir de hoje por tempo indeterminado". Com a aproximação da data final do acordo, no dia 19 de novembro, a Rússia passou a repetir que havia graves problemas com o pacto.
Kiev acusa Moscou de "falsos pretextos"
O Reino Unido afirmou neste sábado que as alegações russas – incluindo a afirmação de que membros de sua Marinha teriam explodido o gasoduto Nord Stream no mês passado – são falsas e seriam uma tentativa de distrair a atenção dos fracassos militares russos na Ucrânia.
O chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, acusou a Rússia de inventar "ataques terroristas fictícios a suas próprias instalações".
O Ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, disse que Moscou utiliza pretextos falsos com a intenção de sabotar o acordo. "Peço a todas as nações que exijam que a Rússia ponha fim a seus 'jogos da fome' e se comprometa com suas obrigações", afirmou.
O acordo mediado pela ONU é crucial para o mercado global de alimentos, ao permitir a exportação de grãos – interrompida pela invasão russa ao país – de um dos maiores produtores de cereais em todo o mundo.
Mais de 9 milhões de toneladas
Desde o acordo firmado entre Rússia e Ucrânia no dia 22 de julho, mais de 9 milhões de toneladas de trigo, produtos de girassol, cevada, colza e soja deixaram os portos ucranianos. A exportação desses produtos é considerada fundamental para o alívio da crise global na distribuição de alimentos.
Moscou deve notificar oficialmente o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre a suspensão do acordo. A ONU já está em contato com autoridades russas para tratar da situação.
Alguns analistas afirmam que, apesar de o acordo ter contribuído para a redução dos preços dos alimentos no Ocidente, a Rússia teve pouco a ganhar com isso.