A decisão de Michelle Bolsonaro de votar no segundo turno das eleições presidenciais neste domingo (30) com uma camisa com a bandeira de Israel é um novo degrau nas ações da extrema direita no Brasil, afirma pesquisador ouvido pelo Brasil de Fato.
Michel Gherman, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém, avalia que o episódio é uma "subida de tom".
O pesquisador destaca que "não é um país" real que foi representado na camisa da primeira-dama, mas uma nação imaginada, a defesa de uma franja da sociedade israelense. Para Gherman, a vestimenta foi a defesa de um "Israel imaginário" marcado por algumas características: a defesa desse local como espaço exclusivo da branquitude, violência e liberação das armas, a exaltação de um ultracapitalismo e do cristianismo.
"Essa ida dela com essa camisa afasta ela completamente de vínculos, por assim dizer, mais nacionais, e acho que a coloca vinculada com perspectivas tribais, grupais, ela está jogando com um grupo muito específico de apoiadores. É um escândalo uma primeira-dama de um país ir votar com um símbolo estrangeiro qualquer que seja, mas aquele símbolo sequer estrangeiro é, e também não é um símbolo de um país. É um símbolo para as pessoas daqui de dentro e tem a ver com uma noção de imaginário político e não de país", avalia Gherman.
Assim como outros líderes de extrema direita, Jair Bolsonaro (PL) costuma destacar seus laços com Israel. Apesar disso, ressalta o professor da UFRJ, a extrema direita global é "profundamente antissemita".
Edição: Thalita Pires