A eleição de Jerônimo Rodrigues (PT) para o governo da Bahia foi uma das principais vitórias da esquerda nestas eleições. Eleito com quase 4,5 milhões de votos, o ex-secretário de Educação, até então desconhecido de grande parte do eleitorado, desbancou a candidatura de ACM Neto (União Brasil), que não só é uma liderança expressiva da direita no país como carrega no sobrenome a trajetória da família Magalhães, uma das oligarquias mais tradicionais da região.
Leia também: Jerônimo Rodrigues: Bahia elege primeiro governador indígena do país
Apesar de ter começado tímida nas pesquisas eleitorais, a candidatura de Jerônimo conseguiu capilaridade ao longo da campanha e ganhou fôlego na reta final. O cientista político Cláudio André de Souza avalia que o PT teve dois acertos principais nesse processo.
“Eu vejo que os acertos da campanha do PT se deram na direção do alinhamento nacional, colocando Jerônimo como um braço direito de Lula, de um projeto mais geral, político e eleitoral. Penso também que foi bem sucedida a estratégia de Rui Costa de manter a base governista unida, pois a força dos prefeitos foi fundamental para que o nome de Jerônimo ficasse mais conhecido”, aponta.
Eleição presidencial
O estado também teve um peso importante na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após ter conquistado 69,73% dos votos no primeiro turno, o presidente eleito conseguiu ampliar seu percentual de votação na Bahia, alcançando 72,12% dos votos válidos no segundo turno. Cláudio explica que a estratégia do PT no estado, tanto para presidente quanto para governador, não foi ao acaso.
“A Bahia é o quarto maior colégio eleitoral. Então desde o começo da campanha já se tinha uma perspectiva de que a Bahia seria prioridade. Lula esteve no 02 de Julho, esteve aqui na reta final do primeiro turno e voltou no segundo turno logo na segunda semana da campanha. Então, de fato houve uma prioridade da Bahia, que foi um diferencial, e isso deve se refletir na montagem do próximo governo”, analisa o professor da Unilab.
Futuro incerto para ACM Neto
“ACM Neto está numa situação adversa, porque ele perdeu também a eleição nacional, não compôs o grupo de Lula, ele não tem proximidade ideológica. O União Brasil não fez parte desse apoio no segundo turno, então ele está numa situação muito difícil”, destaca Cláudio André.
Leia também: Donos da mídia: pesquisa mostra as candidaturas ligadas a emissoras de rádio e TV na Bahia
O adversário de Jerônimo foi prefeito de Salvador por duas vezes e, em 2020, conseguiu eleger o seu vice, Bruno Reis (União Brasil), já mirando a disputa para o governo do estado. Com a derrota, o cientista político avalia que ainda não estão claros os rumos que o carlista irá escolher, mas que uma possibilidade seria voltar à prefeitura da capital baiana.
“Ele é a principal liderança da oposição, mas fico me perguntando se ele vai cogitar se tornar candidato para retornar ao palácio Tomé de Souza. Essa é uma questão, em que medida ele pode querer retomar um projeto em Salvador como passaporte, como uma transição, para ele voltar à disputa estadual”, aponta.
Perfil de governo
O resultado dessa eleição é a quinta vitória consecutiva do PT ao governo da Bahia. Antes dele, Jaques Wagner e Rui Costa exerceram dois mandatos cada. Apesar de Jerônimo ter atuado como secretário nas duas gestões de Rui (primeiro na Secretaria de Desenvolvimento Rural, a SDR, e em seguida na de Educação), o cientista político avalia que os perfis dos dois são diferentes. Para ele, Jerônimo tende a ter um maior diálogo com os movimentos populares, algo que faltou nos mandatos do atual governador.
Leia também: Trabalhadores da UEFS lançam manifesto em apoio à candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo
“Rui Costa teve uma trajetória no sindicalismo, ligada ao Polo Petroquímico de Camaçari. A trajetória de Jerônimo está ligada ao interior da Bahia, aos movimentos do campo, por conta da sua passagem no Ministério do Desenvolvimento Agrário e SDR, e de fato eu vejo que ele vai ter um perfil de maior interlocução com os movimentos sociais”, analisa o professor, que também acredita que essa trajetória é um potencial eleitoral que pode ser trabalhado.
“É como se o sertão virasse mar. Uma carreira política mais sertaneja que vem agora para o poder estadual, mas que, de alguma forma, passa a representar o interior baiano. Isso é importante porque quem decide as eleições é o interior, são os pequenos e médios municípios que são muito importantes do ponto de vista da disputa eleitoral”, ressalta Cláudio.
Desafios para a próxima gestão
O professor também avalia os temas mais sensíveis que devem nortear os primeiros 100 dias de governo de Jerônimo. Segurança pública e saúde são respostas que, segundo Cláudio, toda a sociedade espera, mas ele elenca outros dois desafios.
“O terceiro ponto é a educação. Jerônimo grifou na campanha o fato de ter sido secretário de Educação, mas esse foi ponto muito criticado por ACM Neto. E penso que outro ponto é a questão dos empregos, pensando muito nas assimetrias das microrregiões da Bahia, nas oportunidades econômicas que chegam para o estado”, conclui.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Gabriela Amorim